Leia a seguir o artigo escrito pelo Acadêmico Isaac Roitman sobre os direitos humanos hoje, publicado na 20ª edição da Revista Darcy:
Na história da humanidade os seres humanos provocaram e sofreram com tragédias como o holocausto, a escravidão, guerras e outras atrocidades. Após a Segunda Guerra Mundial a mais sangrenta da história, e o insano uso da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, a Organização das Nações Unidas aprovou em 1948 a Declaração de Direitos Humanos que pode ser considerada como a pedra fundamental para conquistarmos um mundo cada vez mais civilizado. O artigo 1 dessa declaração diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. No Brasil os direitos humanos estão consolidados na Constituição de 1988. O artigo 1 consagra o princípio da cidadania (inciso II), dignidade da pessoa humana (inciso III) e os valores sociais do trabalho (inciso IV).
No entanto uma pergunta emerge. Os direitos humanos no Brasil são respeitados de forma absoluta? A resposta é não. Segundo o relatório do Estado dos Direitos Humanos no Mundo elaborado pela Anistia Internacional as principais falhas do Brasil em direitos humanos estão ligadas às seguintes dimensões: a) alta taxa de homicídios, sobretudo de jovens negros; b) abusos policiais e as execuções extrajudiciais; c) a crítica situação do sistema prisional; d) a vulnerabilidade dos defensores dos direitos humanos, principalmente em áreas rurais; e) a violência sofrida pela população indígena e f) as várias formas de violência contra as mulheres. A efetiva aplicação dos preceitos dos direitos humanos é fundamental para a promoção da justiça e paz social. A evolução da humanidade mostra que sem direitos não há sociedade civilizada e o respeito aos direitos é a base para o crescimento, o desenvolvimento e a proteção da sociedade.
Enquanto tivermos seres humanos abaixo da linha da pobreza, sofrendo com a fome e carentes nas três dimensões destacadas pelo Papa Francisco: terra, teto e trabalho, teremos que lutar a cada minuto pela conquista dos direitos de todos que fundamentará uma nova era de paz para toda a espécie humana. Temos pela frente um grande desafio. O caminho para conquistarmos uma humanidade realmente humana e civilizada é incorporar o conceito que somos de uma única família humana onde o amor prevaleça sobre o ódio e o altruísmo sobre o egoísmo. Introduzir e consolidar valores como a solidariedade, a ética, a bondade, o respeito a natureza e outros, na construção da personalidade a partir da primeira infância, é o caminho para termos um país e um mundo melhor no futuro.
Estamos em uma encruzilhada. Um dos caminhos indicam o retrocesso. O outro nos levará a uma sociedade menos desigual com oportunidades para todos Cabe a todos os cidadãos do mundo, escolher o melhor caminho. A responsabilidade do futuro é coletiva. Para a conquista de um mundo civilizado não teremos soluções milagrosas e rápidas. Temos que acreditar que essa mudança será um trabalho árduo e constante de resgaste dos valores humanos, um trabalho que começa em nós mesmos. Juntos conquistaremos uma civilização virtuosa com a qual sonhamos. Vamos à luta. É pertinente lembrar o pensamento de Oswaldo Cruz: “Não esmorecer para não desmerecer”.