A física da UFRGS Marcia Barbosa

O encerramento do Ciclo IMPA-Serrapilheira de Popularização da Matemática tratou de um tema simples, mas “cheio de ciência”, segundo a palestrante Marcia Barbosa: a água. A física foi a responsável pela sexta e última apresentação da sequência de palestras que teve início no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), em agosto. Ela falou nesta sexta-feira (19) para uma plateia lotada de estudantes, na sede do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro.

Em uma apresentação informal e bem-humorada sob o título “As maluquices da água podem ser a resposta”, Marcia Barbosa discorreu sobre o tema no qual é especialista. Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela é figura ativa na comunidade científica e militante pela presença de mulheres na ciência. Em 2013, tornou-se uma das seis brasileiras a receber o prêmio L’Oréal-Unesco for Women in Science, de reconhecimento ao trabalho de pesquisadoras de todo o mundo.

“A água é abundante, mas ‘diferentona’”, comentou Barbosa, que buscou mostrar como comportamentos peculiares dessa substância são importantes para a manutenção da vida e para a solução de problemas globais. “Ela é o único material que pode ser encontrado em estado sólido, líquido e gasoso na natureza, fora do laboratório. Essa é a primeira ‘bizarrice’ da água.”

A física explicou aos estudantes que, apesar de abundante, 97,5% da água do planeta é salgada. Do total de água doce do mundo, 68,9% estão congelados em geleiras e 29,9% são subterrâneos. “Ou seja, só 0,3%, que vêm de rios, lagos e mananciais, estão disponíveis para o nosso uso.” Ela mostrou, ainda, que em 1950 a água já era insuficiente no norte da África, situação que se expandiu para outras regiões do globo, como parte da Ásia e da Europa.

“Então, mesmo havendo água em todo lugar, temos um problema”, disse Barbosa. Ela explicou que existem técnicas para extrair água de aquíferos, mas são muito caras. Também é possível tornar potável a água salobra por meio da destilação térmica, que retira o sal da água a partir de sua evaporação. “No entanto, é um processo complicado que, apesar de ser usado em algumas partes do Oriente Médio, gasta muita energia para gerar pouca água.”

Outra “bizarrice” da água apresentada por Marcia Barbosa foi sua densidade. “A maior parte dos materiais afunda na fase líquida. Não é o que acontece com a água”, informou. Normalmente, quando os materiais são esfriados, suas partículas se organizam fazendo com que eles fiquem mais compactos e com a densidade maior. “A água vai se encolhendo à medida que esfria, mas, quando chega na fase de gelo, passa a ocupar um grande volume, diminuindo sua densidade. Por isso, gelo boia na água.”

A estudante Leticia Linhares, 15 anos, está no primeiro ano do Ensino Médio e comentou que não tinha noção sobre todas as peculiaridades dessa substância. “Foi interessante porque estamos aprendendo, justamente, sobre a água nas aulas de Química.” Já o professor Cicero Avelino, do Colégio Estadual Matemático Joaquim Gomes de Sousa, mencionou a importância de levar os alunos a estudarem fora da sala de aula, em eventos como esse. “A meta é fazer com que os alunos sorriam. Se não conseguimos, é porque algo saiu errado.”

Marcia Barbosa entre estudantes de Ensino Médio e o professor Cicero Avelino