No momento da escolha da faculdade, Manuella Pinto Kaster tinha apenas 17 anos e ainda não sabia qual carreira seguir, mas, por gostar do tema, escolheu o curso de ciências biológicas e passou para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2000. Desde então, a nova afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC) passou pela graduação, pelo doutorado e pós-doutorado na área das ciências biológicas. Hoje, Manuella segue determinada na pesquisa de alterações bioquímicas e genéticas que possam auxiliar no diagnóstico de pacientes com transtornos psiquiátricos.
Nascida em 1982, em Florianópolis, Santa Catarina, Manuella conta ter vivido uma infância tranquila, brincando na rua, andando de bicicleta e jogando vôlei. Na sala de aula, ela deixava as brincadeiras de lado para prestar atenção na aula. Como sempre gostou de estudar, seu desempenho escolar era muito bom, especialmente nas suas matérias favoritas desde o ensino fundamental: ciências e biologia.
No início da graduação, Manuella confessa que ainda não sabia muito sobre a carreira de bióloga e as possibilidades que a formação poderia oferecer. Mas, já no segundo semestre do curso ficou encantada com a disciplina de bioquímica e repentinamente descobriu qual caminho desejava seguir. A cientista lembra que as professoras Maria Risoleta Freire e Ana Lúcia Rodrigues foram essenciais para sua entrada na área da bioquímica. Foi com Rodrigues que começou a trabalhar no laboratório de Neurologia da Depressão, onde atua intensamente até hoje.
Entre 2004 e 2008, Kaster realizou o doutorado em neurociências na UFSC, com período sanduíche na Universidade de Coimbra, em Portugal. Orientada pelo professor Rodrigo Cunha, ela lembra: “O período em Portugal foi um período de grande crescimento profissional e pessoal. Pude ter contato com pesquisadores de vários países, com técnicas que não eram realizadas no nosso laboratório e com uma cultura muito rica”. Ela relata que gostou tanto da experiência internacional durante o doutorado que, em 2009, retornou para o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra para fazer o pós-doutorado. Dessa vez, em combinação com o McGovern Institute for Brain Research no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde trabalhou por seis meses.
De volta ao Brasil, Kaster atuou como docente na Universidade Católica de Pelotas (UCPel) entre 2011 e 2013, onde fundou o Laboratório de Neurociências Clínicas, em parceria com os professores Gabriela Ghisleni e Jean Oses. Seguindo a vontade de retornar a sua cidade natal, em 2013 Kaster passou a atuar como professora assistente na UFSC. Além de lecionar, a cientista tem trabalhado com pacientes com depressão e outros transtornos psiquiátricos em sua pesquisa. Ela tem como foco buscar alterações bioquímicas ou genéticas que possam auxiliar não só no diagnóstico dessas doenças, como também na identificação de pessoas com maior risco ou vulnerabilidade, e no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas. “Os transtornos psiquiátricos são doenças altamente debilitantes e muito comuns na população. Apesar disso, seu diagnóstico é essencialmente baseado na observação dos sintomas, que são muitas vezes diferentes entre os pacientes”, explica a Acadêmica.
Vencedora em 2014 do prêmio Para Mulheres na Ciência, concedido pela parceria entre a ABC, L’Oréal e Unesco, e do prêmio CAEN, oferecido pela Sociedade Internacional de Neuroquímica (ISN, na sigla em inglês), em 2017, Manuella Kaster comemora mais uma vitória com o título de membro afiliado da ABC. “A ciência vem enfrentando uma crise séria, não só em termos de financiamento, mas, também, em termos de reconhecimento e alcance do trabalho que fazemos para a população. Acho que a ABC é o ambiente propício para se discutir novas estratégias e novos rumos para a ciência nacional”, completou Kaster.
Se na adolescência ainda tinha dúvidas de qual caminho trilhar, hoje a cientista mostra grande realização no trabalho que realiza: “ Gosto de mostrar para os alunos que aquela teoria ou aquele mecanismo que eles estudam nos livros veio de um trabalho longo e intenso de diversas pessoas, e que não é uma verdade absoluta, mas parte de uma construção. Fazer parte desta construção é extremamente estimulante. Fazer ciência é participar ativamente da formação do conhecimento e isso me encanta.”