Em artigo publicado pela Public Library of Science (PLOS), cientistas brasileiros trouxeram a público uma descoberta de grande utilidade no combate à transmissão da Doença de Chagas. A pesquisa, que resulta do trabalho de graduação, mestrado e doutorado de Caroline Ferreira, foi orientada pelo professor Marcus Fernandes de Oliveira, membro afiliado da ABC da região do Rio de Janeiro (2014-2018).

A Doença de Chagas, se não diagnosticada pouco tempo após a infecção, não tem cura. Causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, a contaminação acontece geralmente por meio do inseto vetor, o barbeiro.

Atualmente, se diagnosticado na primeira fase da doença, o indivíduo pode ser curado. Caso contrário, se o diagnóstico é feito na fase crônica, são medicados os sintomas e realizado um tratamento de diminuição da população de T. cruzi, que não é eliminada totalmente.

Caroline, primeira autora do artigo e doutoranda do curso de pós-graduação em química biológica, descobriu que ao ingerir o sangue do hospedeiro, o barbeiro libera produtos tóxicos no interior do intestino como parte do processo de digestão do sangue. Na natureza, os insetos tem a capacidade de cristalizar estes produtos em pedrinhas minúsculas que serão posteriormente eliminadas nas fezes. Com isto, a cristalização destes produtos tóxicos impede que estes causem danos às células.

O trabalho, realizado no Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), demonstrou que o mecanismo de cristalização dos produtos tóxicos permite não só que o inseto se reproduza, mas que também seja capaz de transmitir o T. cruzi. Quando a cristalização é impedida, por meio do uso da quinidina – droga conhecida pelo tratamento das arritmias cardíacas -, há dano tecidual no interior do inseto que também prejudica os parasitos, que acabam morrendo antes de serem transmitidos.

Feita a descoberta, Oliveira explica que o próximo passo é testar novas drogas no laboratório e analisar as possibilidades reais de concretizar a ideia, buscando novos meios de introduzir os fármacos como “isca” para os barbeiros, a fim de diminuir a transmissão da doença. Ele ressaltou também a necessidade de parcerias dentro e fora do meio acadêmico, para eventualmente financiar estudos subsequentes.