marcelo_viana_left.jpgAcho que para mim a matemática sempre existiu.

Aos cinco anos de idade, andava de mãos dadas com minha mãe, que também foi minha primeira professora. Ela para por instantes na praça da pequena aldeia onde morávamos, em Portugal, para me ensinar a ver as horas no relógio da igreja.

Era uma manhã fria mas ensolarada, e eu ainda lembro as explicações sobre o ponteiro grande e o pequeno.

or essa altura também, meu pai chega com uma frase de efeito: “Afinal de contas, 7 cigarros são 14 pontas!” Não significa nada, mas serve de motivo para descobrirmos juntos que “6 cigarros são 12 pontas” etc. Depois de “1 cigarro são 2 pontas” pergunta, capciosamente: “então meio cigarro é uma ponta só?”. Sorri, ao ver que o filho não cai fácil assim.

Pais são fundamentais, professores também. Dei sorte de ter tido bons professores de matemática. Foram cinco, começando com minha mãe, e recordo cada um deles.

No ensino médio, a professora D. Maria da Glória me deu de presente o livro “Métodos matemáticos para as ciências físicas”, do francês Laurent Schwartz.

Não entendi muita coisa, mas fiquei fascinado com o método dele para “derivar funções que não podem ser derivadas”. Mesmo sem saber, ainda, que esse trabalho rendera a Schwartz a medalha Fields, a premiação mais cobiçada da matemática.

A paternidade também é uma chance para redescobrir o mundo pelos olhos de outros. Um destes dias a minha filha chegou em casa fascinada: “Sabia que em inglês A tem som de E, E tem som de I e I tem som de A? É um triângulo, papai!”

Poucos virão a ser matemáticos profissionais. Mas, para todos, a matemática precisa estar presente, em menor ou maior grau, como condição de cidadania e realização. Por isso é tão importante popularizarmos a matemática na nossa sociedade, ainda tão desconhecedora de sua importância e seus encantos.