A intimidade com os cálculos esteve presente desde a infância de Francisco Anacleto Barros Fidelis de Moura. Brincava com os pais, quando iam à feira, de calcular rapidamente de quanto seria o troco das compras em troca do mesmo valor em brinquedos ou doces. Assim, Francisco foi tomando gosto pelos números.
Uma ida ao circo, no entanto, foi o fator determinante para que a física entrasse de vez na vida de Francisco. Encantado com um número que consistia em motoqueiros circulando na parte interior de uma esfera de metal, o popular “globo da morte”, o menino foi buscar entender como aquilo era possível. “Meu pai, que era muito curioso e gostava de ler, tentou me explicar fazendo um experimento simples em casa rodando um balde com água. A explicação, apesar de não ser totalmente correta, me deixou impressionado e super curioso sobre a existência de forças e de como elas dependiam da velocidade de rotação”, conta ele.
Já estudante de física na faculdade, o convite para compor um grupo de iniciação científica (IC) veio cedo. Logo ao fim do primeiro período, o professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Acadêmico Hilário Alencar da Silva o convidou para um projeto. Depois de seis meses, no entanto, Alencar notou que a aptidão de Francisco era, de fato, a física, e permitiu que ele trabalhasse com o tema, mas ainda vinculado ao seu projeto.
“Sinceramente, eu acredito que sempre fui um físico. Eu escolhi esta vida – ou ela me escolheu – bem cedo”, brinca Francisco. Na física, seu orientador era o professor Marcelo Leite Lyra, que ele considera seu mentor. Em colaboração com Lyra, Francisco publicou seu primeiro artigo em uma revista internacional, ainda em seu terceiro ano de faculdade. “Foi uma grande satisfação. Eu lembro que fiquei semanas olhando para as quatro ou cinco páginas deste trabalho como se fosse um grande montante de dinheiro”, conta.
Durante esse período, além das teorias e números, a atenção e paixão de Francisco eram divididas também com a música. O valor da bolsa que recebia permitia que pudesse se dedicar também ao violão e ao bandolim, hobbies que desenvolveu logo no começo da graduação. “Meu pai, porém, nunca olhou com bons olhos meu apreço pelo violão. Quando eu entrei na faculdade, a liberdade que o mundo universitário propiciava também me permitiu a dedicação aos instrumentos”, relata Francisco.
O Acadêmico seguiu para o mestrado tão logo foi diplomado no bacharelado de física. Foi orientado também pelo professor Marcelo Lyra e chegou até a mudar o tema de seu projeto durante aqueles dois anos. “Trabalhamos por quase um ano em um projeto de ótica quântica, que não caminhou bem. Acabamos mudando o tópico para transporte de elétrons em sistemas desordenados, um tema totalmente diferente do primeiro e, até então, pouco comum dentro da minha formação”, conta Francisco.
Apesar do pouco tempo, o grupo teve grande sucesso na pesquisa, que rendeu publicações internacionais. Da Ufal, Francisco seguiu para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde fez doutorado orientado pelo professor Maurício Domíngues Coutinho-Filho. O recém-diplomado membro afiliado da ABC descreve esse período de sua vida como de muita produção e bons resultados.
Ele conta que sua pesquisa buscava entender como o transporte acontece em dimensão baixa, isto é, estudou modelos que simulam o movimento eletrônico em linhas ou planos de átomos. Assim, Francisco descobriu que a forma como os átomos de um material são organizados é um fator importante para que haja transporte de energia.
O pesquisador também identificou quais são as melhores maneiras de se construir um material para que este conduza eletricidade, mesmo que nele haja defeitos. A pesquisa tem aplicação direta em diferentes áreas como ótica, guias de ondas e outras. “Outro ponto importante, dentro da teoria da informação quântica, é o estudo de emaranhamento de estados/orbitais em baixa dimensão. Estes problemas são desafiadores e estou diariamente envolvido nestes temas”, acrescenta Franscico.
Fora dos laboratórios, o lazer dos tempos de faculdade foi um pouco além. Francisco se apresenta hoje em shows por Alagoas e em gravações com outros cantores. “Me dedico basicamente à composição de peças instrumentais para violão e bandolim e participações musicais em pequenos trabalhos locais.”
Nas horas vagas, Francisco gosta de estar com a família ou praticar artes marciais, esporte que começou na infância, por causa de uma fragilidade física causada pela asma. “Não preciso de muita coisa para me divertir, não dependo muito do mundo externo. Minha vida é bem focada em meu trabalho, meus instrumentos e minha família.”
O físico define a titulação como membro afiliado da ABC para o período de 2017 a 2021 como um verdadeiro sonho. Ele afirma que tem estudado as atividades da Academia para entender como pode contribuir e participar da luta pela ciência no país. “Sem dúvida, minha atuação será ativa e com o intuito de somar dentro do contexto de lutar por um ambiente científico produtivo e rico no Brasil. Integrar este grupo é uma experiência única, um verdadeiro sonho, não é todo dia que alguém consegue algo assim”, afirma.