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Se não estivesse em Curitiba para receber o título doutor honoris causa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na sexta-feira, 24 de novembro, o engenheiro, matemático e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Jacob Palis, de 77 anos, teria começado o expediente no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio, exatamente às 9 horas, como faz desde 1971. Além do pioneirismo em sua área — a de sistemas dinâmicos –, que o fez merecer notoriedade internacional, Palis é conhecido pela longevidade de suas pesquisas, às quais se dedica há mais de 50 anos.
O único título de doutor honoris causa concedido pela UFPR em 2017 foi recebido por Jacob Palis em cerimônia no Salão Nobre do Campus Politécnico. O autor do pedido foi Yuan Jin Yun, professor do Departamento de Matemática da UFPR, que concluiu o doutorado em Matemática Aplicada pelo Impa em 1993. A concessão foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (Coun) pela Resolução 24/2014, em novembro de 2014.
Ao receber o título das mãos do reitor Ricardo Marcelo Fonseca, Jacob elogiou o diploma. “Muito bonito, além de ter muito significado”. Em seu discurso, o pesquisador comentou o longo histórico da UFPR, que completa 105 anos em 2017, e se disse orgulhoso pela homenagem. “É uma história que mostra a relevância da universidade a que vocês pertencem e, agora, eu também”.
Jacob Palis também fez um apelo para que pesquisadores da UFPR se associem à centenária Academia Brasileira de Ciências (ABC), que tem como missão agir de forma independente para alavancar pesquisas que interessam à sociedade brasileira, criando propostas para políticas públicas. Jacob Palis é membro acadêmico da instituição desde 1970.
Ciência brasileira
Um dos aspectos mais marcantes da carreira de Jacob Palis. é o fato de ter optado por permanecer no Brasil, apesar de ter recebido convites para atuar em instituições estrangeiras praticamente a vida toda. O pesquisador comenta que as perspectivas para o cientista brasileiro nunca foram fáceis e é preciso ser resiliente, especialmente frente às notícias preocupantes sobre cortes no investimento público em ciência a partir de 2018. “Estamos na luta. De fato, a gente nunca deixou de lutar. É uma situação difícil, mas sou um otimista nato”, afirma.
Jacob Palis avalia que os parlamentares brasileiros ainda não abriram os olhos para a importância do investimento público em ciência nacional. “Não dá para desistir e precisamos que o Congresso Nacional participe disso”, diz. O matemático conta que foi frente da campanha de apoio à inclusão de dispositivo na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2018 para impedir o contingenciamento de recursos mesmo após a aprovação da PEC 55/2016, que instituiu em 2016 um teto para os gastos públicos.
A ideia era que as pesquisas contassem com percentual fixo de investimento que chegaria gradualmente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). A inclusão, porém, foi negada, e não faz parte da LOA 2018, aprovada em agosto como Lei n.º 13.473/2017.
“Era uma proposta pensada havia 20 anos por mim, quando era presidente da ABC, e pelo Marco Antonio Raupp, que era da SBPC [Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência]. Então o que parecia realidade se tornou sonho outra vez. Temos que ir à luta e continuamos, não dá para parar. Temos bons cérebros, jovens muito bons, até um Medalha Fields, que é o Artur Avila. Vamos em frente”.
O fato de Jacob Palis ter se dedicado à ciência no Brasil não o impediu de receber algumas das homenagens mais importantes que um pesquisador pode receber. Entre elas, o Fondazione Internazionale Premio Balzan, em 2010, do qual foi o primeiro premiado fora da Europa e dos Estados Unidos; a medalha Abdus Salam, da World Academy of Sciences (TWAS), em 2015; e o Prêmio Internacional Tartufari da Accademia Nazionale dei Lincei, a mais antiga academia de ciência do mundo, que teve como membro Galileu Galilei.
O matemático também é doutor honoris causa por outras universidades brasileiras, tais como as universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Pernambuco (UFPE), e a Universidade Estadual do Rio de janeiro (Uerj). No exterior, recebeu o diploma também de universidades no Chile, Cuba, Peru, China e Argentina.
Matemática na escola
Também dedicado ao ensino da Matemática, Jacob Palis defende que as crianças podem aprender a gostar da disciplina ainda muito cedo. Oitavo filho de um casal de migrantes (o pai era libanês e, a mãe, síria), ele foi matriculado cedo em uma escola de bairro em Uberaba (MG) e, com cerca de cinco anos, já tinha noções de cálculos matemáticos. “Não é porque foi o meu caso, é que a criança pode ser estimulada a aprender bem. A criança é inteligente também”, diz.
Ele cita a pesquisa do economista James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel de 2000, para defender o investimento no ensino de crianças de até seis anos. “É uma visão com a qual concordo muito. Se o país puder abraçar uma linha como essa, será muito positivo”.