Filha de um comerciante e uma dona de casa e costureira, Andreza Fabro de Bem é a filha do meio de seis irmãos. Nasceu na pequena cidade serrana de São Joaquim, em Santa Catarina, e lembra com carinho da infância, quando brincava com as amigas até tarde nas ruas próximas de casa, durante o verão, único período possível, devido às baixas temperaturas do inverno. Durante essa época, se divertia com as meninas imaginando como seriam suas vidas no futuro.
Do ambiente familiar nasceu sua primeira inspiração para a carreira científica: seu irmão mais velho, que se graduou em veterinária, pesquisava a fertilização in vitro de bovinos, técnica recorrente na atividade pecuária.
A área que escolheria foi uma “casualidade”, em suas palavras. “Não sabia exatamente quais atribuições o curso me possibilitaria assumir depois de formada, apenas me encantava a ideia de passar meu dia trabalhando em um laboratório”, comenta.
Embora sem muita consciência da profissão a seguir quando escolheu o curso de farmácia e bioquímica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Andreza foi bem recebida no ambiente universitário e garante ter aproveitado da melhor forma seus anos de graduação. “Não há como não ser um período especial. Você está no auge de sua vida, rodeada de amigos, em uma universidade pública repleta de ótimos professores e sua única responsabilidade é aprender coisas novas”, avalia ela.
Logo após esse período, quando iniciou o mestrado, teve seu primeiro contato com a área de biologia redox, estudando os efeitos mediados pelas espécies reativas e a sincronia das respostas antioxidantes celulares. Naquele período, seu orientador, o Prof. Daniel Wilhelm Filho, ensinou-lhe que a vida era “muito mais do que medicamentos e seres humanos”, lição essa que a marcou durante toda a carreira. Foi orientada pelo Acadêmico João Batista Teixeira da Rocha em seu doutorado, período que descreve como de intenso aprendizado. “O convívio em seu laboratório favorecia discussões científicas interessantes e plurais, dando oportunidade para a experimentação baseada no método científico”, comenta.
Atualmente, sua área de pesquisa envolve a aplicação de compostos orgânicos sintéticos contendo selênio. O trabalha busca entender a possibilidade do uso destes compostos no tratamento de doenças cardiovasculares. A linha mais atual da pesquisa investiga o funcionamento dos mecanismos bioquímicos que regulam a atividade biológica dos compostos, dando foco à modulação da resposta antioxidante celular e à função mitocondrial. Além destes trabalhos, o grupo de Andreza estuda ainda as inter-relações entre distúrbios metabólicos, como a obesidade, e os níveis aumentados de colesterol no sangue, assim como a ocorrência de doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer.
Andreza participa também na Rede Nacional de Educação e Ciências (RNEC), atuando na melhoria do ensino de ciências em escolas públicas, promovendo uma rede de contato entre cientistas, estudantes e professores de ensino básico.
Para ela, o aspecto mais encantador da ciência é a possibilidade de identificá-la em qualquer área da vida. “A possibilidade de questionar, formular hipóteses e testá-las experimentalmente são os alicerces da formação do cientista. Com estas premissas incorporadas, a ciência é plena, leve, intuitiva e encantadora”, comenta ela.
É essa forte ligação com a ciência e os frutos que ela tem trazido que levaram Andreza ao título de membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para o período de 2017 a 2021. Para ela, a indicação representa uma grande responsabilidade. “Tenho claro que a comunidade científica brasileira está repleta de excelentes jovens pesquisadores e, portanto, temos o compromisso de representá-los e atuar em prol deste coletivo”, pontua.