O presidente da ABC, professor Luiz Davidovich participou da série de reportagens produzidas pela rádio CBN. A série traz entrevistas de importantes nomes da economia, política e ciência brasileira, que dão sugestões de como o Rio de Janeiro pode sair da crise. Na entrevista, Davidovich ressalta que o estado tem um grande potencial econômico e o casamento entre as ideias da universidade e os setores produtivos pode ajudar o Rio a sair da crise. Confira a íntegra abaixo ou ouça no link.
Aposta no potencial criativo e no conhecimento acadêmico pode salvar o Rio da crise
Com a economia estagnada e os setores produtivos desaquecidos, às vezes parece que falta luz no fim do túnel. Quem entende do assunto diz que a guinada que a economia do Rio precisa pode estar na chamada indústria criativa. E o investimento em conhecimento científico parece ser fundamental também. Não à toa, sediamos instituições e universidades de renome nacional.
Um estado parado. Uma cidade inerte. Como retomar o fôlego da economia, num cenário em que setores como indústria, comércio e construção, não dão sinais de recuperação? O tamanho do buraco em que o Rio se meteu não é novidade para ninguém. O desafio é como sair dele.
Com o futuro da exploração de petróleo com os dias contados, há quem defenda que a saída para o Rio é diversificar sua economia tomando como aliada a criatividade. Ao longo de nossa história, sempre exercemos papel de protagonista na produção cultural e científica do Brasil. É algo do DNA carioca, destaca o pesquisador da Firjan Gabriel Bichara, um apaixonado pela cidade.
É uma inovação mais soft. O Rio é capaz de fazer um produto gostoso ou adequado de se consumir, encantador. Cariocas tem capacidade de gerar significado, gerar emoção, diz.
Pesquisa feita por Gabriel mostra que quase cem mil pessoas trabalham hoje na indústria criativa do Rio. E numa cidade de turismo e beleza, há ainda um potencial bem maior a ser explorado. Só para se ter uma ideia, o PIB do setor criativo cresceu 70% em uma década no Brasil e a tendência é positiva, conforme preveem os especialistas.
A chamada economia criativa engloba tanto a indústria cultural como o design, a moda, passando por games, audiovisual, publicidade, inovação e desenvolvimento de novas tecnologias. Se a criatividade impulsionaria a área, o conhecimento sem dúvida consolidaria essa vocação.
O Rio é um polo de produção acadêmica: concentra importantes instituições de pesquisa como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, a Fundação Oswaldo Cruz e universidades tão renomadas quanto como a UFRJ, a PUC e a Uerj, que ainda resiste.
O físico Luiz Davidovitch acredita que há um potencial imenso a ser explorado. Ele é presidente da centenária Academia Brasileira de Ciências, sediada em solo carioca. Para o cientista, o casamento entre as ideias da universidade e os setores produtivos é um futuro possível para o Rio.
O estado do Rio de Janeiro não pode viver só de petróleo. Com essa concentração de inteligência, o estado, a cidade deveriam apostar em valor agregado, em produtos com alto valor tecnológico, que poderiam ser exportados, beneficiando a pauta de exportações e a população. Isso é tão claro, tão óbvio, que eu não sei como os governos dispensam, opina.
Apostar na pesquisa científica pode elevar o Rio a um patamar superior. A prova é o que fizemos na ocasião dos primeiros casos de zika vírus. Mesmo na crise, muitas cabeças pensantes trabalharam duro para buscar soluções urgentes diante da epidemia.
Não à toa, 13% dos artigos sobre zika produzidos no mundo saíram do Brasil e um terço deles foi feito aqui no Rio de Janeiro. Pesquisas à parte, o fato de servirmos de sede para duas grandes empresas nacionais, a Petrobras e a Vale, também geram, dizem os especialistas, motivos suficientes para acreditarmos numa retomada econômica.