Em entrevista ao portal do Instituto de Física de São Carlos, a Acadêmica Andrea Simone Stucchi fala sobre como é se dividir entre a pesquisa e a família e as atribuições como mulher na ciência, na maternidade e na rotina familiar.

Quando completou 32 anos, Andrea Simone Stucchi de Camargo “ouviu o alarme biológico” e de repente desejou fervorosamente se tornar mãe. Nessa época, a docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) já estava com sua carreira acadêmica a todo vapor: havia ganhado o Prêmio LOREAL Para Mulheres na Ciência, e concorria a uma bolsa de pós-doutorado na Alemanha através da Fundação Alexander von Humboldt. “Descobri que estava grávida de meu primeiro filho no mesmo mês em que saiu o resultado positivo da bolsa. Fiquei muito apreensiva no início, mas fui totalmente incentivada e amparada pela Humboldt. Além de uma extensão da bolsa por três meses, período adicional ao qual me dediquei à amamentação, recebi ainda um adicional financeiro devido ao novo membro da família”, relembra.

Seis meses depois, ela partiu para Alemanha com uma grande mala e uma barriga igualmente avantajada, e fez daquele país a terra natal de Pedro, seu primeiro filho, hoje com oito anos. Pouco tempo depois, e ainda na Alemanha, chegaria Lukas, o segundo filho, hoje com seis anos. Mas como conciliar a pesquisa e a vida familiar?

Essa é uma resposta que vem de pronto: “Eu tenho ajuda, pois sozinha, de fato, seria inviável”, responde Andrea, que se considera uma pessoa de sorte, pois conta com a participação da mãe, de uma babá e de seu marido, o também docente do IFSC, Hellmut Eckert. “Tenho um marido excepcional, e sem a colaboração dele não seria possível conciliar essa vida dupla”, afirma.

Tendo sido influenciada durante sua infância por sua prima Elizabeth Berwerth Stucchi, docente do Instituto de Química da UNESP, e que, de acordo com a própria Andrea, foi seu role model inicial no que diz respeito à ciência e à pesquisa, Andrea concorda que os pais têm um papel crucial para despertar a vocação científica nos filhos.

Por essa razão, sempre que possível, ela incentiva o interesse pelas ciências na vida de seus pequenos. “Confesso que eu gostaria de ter mais tempo para isso, mas, sempre que possível, nas férias ou aos finais de semana, e principalmente quando estamos na Alemanha, levo-os a museus, parques de ciência, ou algo similar”, conta. “Quem desempenha muito bem esse papel com os meninos é o Hellmut. Temos vários kits de física e química em casa e, frequentemente, ele realiza experimentos com os meninos”.

Andrea conta que enquanto Pedro já demonstra mais afinidade com a área de exatas, Lukas parece estar mais inclinado às biológicas. “Pedro é mais amigo dos livros e da matemática, é mais analítico. Já o Lukas tem grande empatia com as pessoas, preocupação com o meio ambiente e os animais. Ele me diz que quer ser médico, e acredito mesmo que seria excelente neste ramo, mas, naturalmente, ainda é muito cedo pra saber se seguirá essa profissão”, conta a docente.

De fato, ainda é prematuro prever quais serão as profissões de Pedro e Lukas. Mas uma coisa é certa: eles já têm dois grandes exemplos para ajudá-los a tomar essa decisão no futuro. “Embora eu passe menos tempo com meus filhos do que gostaria, em função da minha outra paixão – a atuação científica, eu espero que eles cresçam tendo em mim e no pai exemplos de responsabilidade e comprometimento profissional. Espero ainda que futuramente eles se lembrem da qualidade do tempo que passamos juntos, muito mais do que dos momentos em que não pude estar com eles, devido a viagens e dias e noites de trabalho e horas extras”.

Para homenagear as mulheres na ciência, já que o dia internacional das mesmas se aproxima, a docente deixa a seguinte mensagem. “As mulheres podem concretizar tudo o que desejarem e se propuserem. Elas têm uma energia imensa para o trabalho, para fazer do mundo um lugar mais justo, próspero e seguro para seus filhos, para administrar, aconselhar, liderar, para endurecer quando necessário e acalentar quando merecido. Nenhuma mulher deveria ter que abrir mão do sonho de ter uma família em função de seu desempenho profissional e muito menos se masculinizar para conseguir espaço e reconhecimento profissional. As mulheres devem ser apoiadas e apreciadas, não tolhidas. Deem a elas oportunidades, e se surpreenderão com as infinitas possibilidades do universo feminino”, finaliza.