O Simpósio sobre ZIka realizado entre 7 e 10 de novembro numa parceria entre a Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Nacional de Medicina (ANM) e a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi impactante, especialmente por sua multidisciplinaridade.

De acordo com o Acadêmico e ex-presidente do CNPq Glaucius Oliva (na foto, à direita), o evento mostrou “um resultado extraordinário, que foi o preparo da comunidade científica brasielira em competências, em infraestrutura, em capacidade de trabalho dos seus jovens bolsista para responder a uma demanda.”

Oliva rememora que a grande descoberta de que zika era um problema sério e estava associado a microcefalia e outros danos neurológicos foi feita no final de 2015. “E estamos aqui, um ano depois desse fenômeno, com quase duzentos trabalhos de grupos de pesquisadores brasileiros nas melhores revistas internacionais, com pesquisa de qualidade. E mais do que isso: contribuindo no cenário internacional de forma protagonista para entender e reagir a essa ameaça que representa a epidemia de vírus zika – não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro.”

Legislação brasileira é ultrapassada: barreiras em vez de regras

A multidisciplinaridade também foi citada pelo médico e vice-presidente da ABC para a Região Minas Gerais & Centro-Oeste Mauro Martins Teixeira (na foto, à esquerda) como um ponto alto do evento. Do ponto de vista mundial da pesquisa, segundo ele, a crise da zika, assim como anteriormente a do ebola, foram muito interessantes, “porque a colaboração que houve entre pesquisadores e entre países foi sem precedentes. O Brasil, infelizmente, ainda tem leis muito ultrapassadas, antiglobais. Não ajudam.”

Ele relata que durante a epidemia de ebola, a abertura de dados foi fundamental para a colaboração científica. “E estamos tentando atuar internacionalmente em zika, apesar das dificuldades que a nossa legislação nos impõe. É um atraso absurdo: o vírus da zika obtido no Brasil é considerado quase como um patrimônio genético brasileiro”, destaca Teixeira. Em sua visão, é preciso, sim, que existam normas e regras. “Mas barreiras, não.”

Qualidade da ciência deve ecoar na comunicação científica

Para Oliva, falta compreensão da classe política e, às vezes, da sociedade, sobre a importância da ciência. “Isso também é resultado da dificuldade que a própria comunidade científica tem de comunicar ciência para a sociedade, de mostrar que a ciência básica é central para que tenhamos capacidade de responder a problemas aplicados como esse.”

Durante o período em que esteve à frente do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], Oliva relata que experimentou o lançamento de chamadas públicas em parceria com outros Ministérios, em temas muito aplicados, do interesse desses Ministérios. Ele deu exemplos, como uma chamada para projetos de tecnologias construtivas para o Programa Minha Casa Minha Vida, ou quais são as melhores tecnologias agrícolas para pequenos assentamentos rurais, ou uma busca de respostas para o problema da prematuridade em adolescentes. “Na maioria dos casos, recebemos pelo menos cinco vezes mais projetos do que tínhamos recursos para financiar”, ressaltou.

Em sua opinião, isso significa que a ciência brasileira está prontíssima para responder às necessidades nacionais de desenvolvimento – basta dar oportunidades. “Não se pode exigir da ciência os resultados se a gente não chama os cientistas brasileiros para apresentar soluções. E com é que a gente chama? Abrindo chamadas públicas, oferecendo apoio financeiro para que se possa mobilizar equipes, equipamentos e recursos suficientes para dar respostas rápidas. Esse evento, com uma riqueza fantástica de resultados produzidos em laboratórios brasileiros, está mostrando que a ciência brasileira está pronta para isso”, concluiu o Acadêmico.