Única mulher entre os 12 israelenses ganhadores do Prêmio Nobel, a química Ada Yonath foi responsável por revolucionar os estudos sobre a estrutura e o funcionamento do ribossomo. Ela não acha, no entanto, que o fato de ter recebido a homenagem mais prestigiada do mundo mereça tanta atenção. “Não considero o Prêmio Nobel como o objetivo da pesquisa, seja a nível individual ou em relação a um país em geral”, afirmou Ada, em entrevista exclusiva para a ABC. A cientista estará na sede da Academia Brasileira de Ciências no dia 6 de maio para participar da 9ª edição da Reunião Magna.
Em sua opinião, os cientistas devem se esforçar para fazer descobertas significativas: o prêmio é o reflexo da relevância de seu trabalho. Por isso, ela não dá conselhos para que o Brasil conquiste o seu primeiro Nobel, além de muita dedicação à pesquisa. Israelense graduada pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Ada Yonath foi vencedora do Nobel de Química em 2009, juntamente com os cientistas Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz.
Sobre o estudo que a levou a conquistar o prêmio, a química explica que um dos principais processos da vida é a tradução do código genético para o que ela chama de “trabalhadores” celulares. “Eu determinei a estrutura da partícula celular multicomponente que executa esta tarefa, ou seja, o ribossomo, o que possibilitou que se explicasse o mecanismo deste processo”, revela. Os ribossomos são estruturas presentes em todos os tipos de células, que têm como principal função a síntese de proteínas que serão usadas em processos internos celulares.
“O Valor da Ciência”, tema da Reunião Magna 2015, está presente no trabalho de Ada, que se reflete em aplicações práticas para a sociedade. Ela esclarece que, devido ao importante papel desempenhado pelos ribossomos, quase metade dos antibióticos úteis atuam paralisando-os. “Fomos muito além das minhas expectativas, e agora sabemos os modos de ação de todos os antibióticos que têm o ribossomo como alvo, bem como as bases da resistência bacteriana a eles.” Esse trabalho deve acelerar, portanto, o desenvolvimento de medicamentos antibióticos mais eficientes.
Ada Yonath é pesquisadora no Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, uma das instituições de pesquisa multidisciplinares mais importantes do mundo, classificada pela revista norte-americana The Scientist, em 2011, como o melhor lugar do mundo para se trabalhar em pesquisa entre as instituições de fora dos Estados Unidos. Foi lá que ela completou o doutorado, com estudos de raios-X cristalográficos na estrutura do colágeno.
A química é membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, da Academia de Ciências e Humanidades de Israel, da Academia Europeia de Ciências e Artes, entre outras. Em 2008, foi ganhadora do Prêmio LOréal-Unesco Para Mulheres na Ciência e do Prêmio Mundial de Ciência Albert Einstein. E, apesar de ainda não contarmos com um Prêmio Nobel, Ada Yonath vê no Brasil um grande potencial científico: “A ciência brasileira avançou de forma intensa, recentemente”.
Não perca a Conferência Magna da química Ada Yonath, no dia 6 de maio, 4ª feira, às 11h, na Academia Brasileira de Ciências.
Nesta semana, a ABC publica uma série de entrevistas e reportagens com coordenadores de sessões e participantes da Reunião Magna 2015, que adiantarão os assuntos de suas apresentações e falarão sobre seus respectivos trabalhos e a relação deles com o tema do evento. Confira as entrevistas feitas com o coordenador da Reunião Magna, Vivaldo M. Neto, e com o matemático francês Étienne Ghys.
SERVIÇO
Evento: Reunião Magna da ABC 2015
Data: 4 a 6 de maio
Local: sede da ABC, na Rua Anfilófio de Carvalho, 29, 3º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ. Próximo ao metrô Cinelândia.
Confira a programação.