É com grande pesar que a Academia Brasileira de Ciências comunica o falecimento do Acadêmico Leopoldo de Meis, ocorrido neste domingo, dia 7 de dezembro de 2014, no Rio de Janeiro.

Nascido no Egito, em primeiro de março de 1938, De Meis ainda criança veio para o Brasil, onde se naturalizou. Aos 18 anos ingressou na Faculdade de Medicina, da Universidade do Brasil, atual UFRJ, e graduou-se em 1961. Iniciou sua carreira científica como estudante de Medicina sob a orientação do Dr. Walter Oswaldo Cruz. Foi professor titular de Bioquímica na UFRJ desde 1978, onde fundou o atual Instituto de Bioquímica Médica que leva seu nome em uma justa homenagem. Recebeu ainda o título de Professor Emérito da UFRJ. Foi vencedor do prêmio Conrado Wessel, em 2008 e também agraciado com o prêmio Globo Faz a Diferença, do Jornal O Globo, em 2010.

Suas principais linhas de pesquisa versaram sobre mecanismos de transdução de energia em sistemas biológicos, transporte ativo de íons, acoplamento, transporte de íons, síntese e hidrólise de ATP. Durante muitos anos, dedicou boa parte de seu tempo à pesquisa na área de Educação para Ciência, despertando a vocação científica de muitos jovens de baixa renda, através dos cursos de férias que criou e manteve na UFRJ. Nestes cursos, fórmulas e decorebas eram abolidas e os participantes sempre foram convidados a pensar em seus próprios questionamentos e experimentos a partir de um tema pré-definido. Os Cursos de Férias e o Programa Jovens Talentos são hoje projetos e estratégias adotadas por muitas instituições nacionais agregadas em uma Rede de Educação fundada por Leopoldo de Meis.

Foi membro da Academia Brasileira de Ciências, Honorário Nacional da Academia Nacional de Medicina e membro correspondente estrangeiro da Academia das Ciências de Lisboa. Pertenceu à Academia de Ciências do Terceiro Mundo e foi Titular Fundador da Academia de Ciências Latino Americana.

Além do Conrado Wessel e do prêmio Globo Faz a Diferença, recebeu outras distinções: Prêmio Glaxo Evans (1965), Prêmio LAFI (1978), Prêmio de Química, da Academia do Terceiro Mundo (Trieste, Itália – 1985), Diploma World Cultural Council (1986), Prêmio Oswaldo Cruz, da Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro (1988), N. Van Uden Award Lecture, da Universidade de Coimbra (1993), Doctor Honoris Causa, da Universidade de Louvain, Bélgica (1994), a Ordem Nacional do Mérito Científico, Classe Grã Cruz (1995) e a Ordem Nacional do Mérito Educativo (2000), entre muitos outros.

Publicou 205 trabalhos científicos em revistas internacionais e nacionais e é autor de 13 livros. Orientou 34 dissertações de mestrado e 37 de doutorado.

Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (1983 a 1984), participou do Conselho Diretor do CNPq e da Capes (1992 a 1994), e fez parte do Corpo Editorial de vários periódicos ao longo de toda sua carreira.

Por toda sua trajetória profissional, hoje a ciência brasileira está de luto. Ele deixa a companheira de muitos anos, a professora Vivian Rumjanek, quatro filhos e seis netos.

Colegas de Leopoldo de Meis expressaram seus sentimentos:

 

”Aquele que foi nosso chão, nosso norte, nosso guia e que sempre soube nos impulsionar e até mesmo travar, muitas vezes corrigindo nossos rumos. Perdemos aquele que, por inúmeras vezes, sem muito ou nada dizer, nos dizia tudo! Bastava ser! Bastava estar! E isto já era nós, sem ele por perto, e estando ele em toda parte, mantermos-nos nessa trilha virtuosa que nos trouxe até aqui e que ensinou nosso Grande De Meis!”

Débora Foguel, Acadêmica e pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ

”Quero compartilhar minha profunda tristeza deixando meus pêsames muitos sentidos. Leopoldo deixou muitos grandes amigos, e um deles era eu. Continuarei sendo amigo de Leopoldo pelo resto da vida.”

Ivan Izquierdo, Acadêmico e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)

”Com enorme pesar que comunicamos hoje a perda irreparável do fundador de nosso instituto nosso querido Leopoldo.”

Mario Alberto Cardoso da Silva Neto, diretor-geral Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis

 

”O Leopoldo imprimiu em cada um de nós a nossa história. Muito mais do que um departamento, um instituto, ele fez cada um de nós, amantes da ciência, do ensino e do conhecimento. Ele nos fez acreditar que podemos fazer a diferença para o nosso país e para a humanidade. Lembro-me, quando me colocou para dar aula de redescoberta para alunos de medicina um período depois do meu. Ou quando tive que apresentar um dos meus primeiros journals, e na audiência estava o autor, futuro ganhador do prêmio Nobel. Ele fez ”ciências sem fronteiras” e internacionalização 30 anos atrás; mostrou o perigo do desperdício de tempo e de talentos quando jovens são obrigados a ficar ouvindo aulas descritivas; mostrou que talento não tem endereço geográfico nem condição social; e aproximou ciência da arte. Para cada um de nós, ele foi um Anjo, no verdadeiro sentido da palavra, desenhando-nos múltiplos caminhos. Hoje estamos em luto. Mas Anjos não morrem; e Leopoldo está imortalizado em cada um dos nossos destinos e das nossas missões. Estamos nos sentindo um pouco órfãos, mas saberemos encontrar todas as pistas que Leopoldo nos deixa.”

Jerson Lima, Acadêmico e professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ

 

Em nota oficial, o Instituto de Bioquímica Médica (IBqM/UFRJ) também destacou a atuação social do professor Leopoldo:

 

”Sua trajetória de excelência acadêmica e sua dedicação à extensão universitária como forma de atenuação da miséria social e identificação de novos talentos para a educação, ciência, tecnologia e inovação serão para sempre perpetuadas através de sua obra maior, o IBqM, e de seus seguidores”.