Mais um grupo de 20 jovens médicos do programa Young Physician Leaders (YPL) foi montado pelo Painel Médico InterAcademias (IAMP, na sigla inglês), em Berlim, na Alemanha, no âmbito da Cúpula Mundial de Saúde (WHS), em meados de outubro. Os participantes são nomeados pelas Academias membros do IAMP e selecionados para o encontro pelo Comitê Executivo, cuja representação brasileira é exercida pela Academia Nacional de Medicina (ANM) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), na pessoa do Acadêmico Eduardo Moacyr Krieger.

Grupo do Young Physician Leaders 2014, com alunos
e membros do Comitê Executivo

Na edição deste ano, o programa contou com a participação de dois médicos brasileiros selecionados pela ABC e ANM: Otavio Berwanger, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração (HCor), e Rodrigo Perez, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

Lançado pelo IAMP em 2011, em parceria com a WHS e a Aliança M8 de Centros Acadêmicos de Saúde e Faculdades de Medicina, o YPL visa desenvolver lideranças entre os profissionais de saúde e incorporar programas de treinamento voltados para esse aspecto no currículo médico. No encontro deste ano, os 20 jovens médicos, oriundos de 16 países, se juntaram a quatro ex-alunos de edições anteriores, que atuaram como mentores durante o workshop.

”Os participantes já são médicos com prática e competências de pesquisa, que assumiram cargos de responsabilidade”, explicou Jo Boufford, presidente da New York Academy of Medicine, membro do Comitê Executivo do IAMP e coordenador do workshop. ”Este encontro, no entanto, é projetado para apresentá-los a alguns conceitos mais teóricos de liderança e ampliar seu repertório de habilidades nesse sentido.”

Uma das atividades da oficina foi uma revisão das diferenças culturais esperadas de líderes em diferentes regiões – analisando, por exemplo, as práticas padrão na Europa ou na África, e em seguida, fazendo uma comparação entre as regiões. Um tema comum era que as pessoas, muitas vezes, precisavam trabalhar com uma equipe com a qual não havia tido contato, além da necessidade de ”manage upwards” – procurar maneiras de promover ou iniciar mudanças em níveis de gestão mais elevados dentro de sua organização. Definições de gênero e culturas, no entanto, mudaram a forma como esses desafios foram enfrentados.

O workshop também incluiu uma sessão de discussão com os membros do Comitê Executivo do IAMP Depei Liu (China), Fola Esan (Nigéria) e Carmencita Padilla (Filipinas), que deram algumas reflexões sobre os desafios que encontraram e superaram em suas carreiras.

Antes do seminário, em 17 de outubro, o grupo também visitou os laboratórios da Bayer Healthcare e do Centro Max Delbrück de Medicina Molecular, em Berlim, especialmente organizados pela Fundação Bayer, um dos principais patrocinadores do programa YPL.

Na manhã do último dia da oficina, os jovens médicos foram desafiados a desenvolver um plano de liderança pessoal, escolhendo apenas uma habilidade de liderança entre as discutidas durante as sessões anteriores (falar em público, o aumento da delegação de tarefas, ou formas melhores de trabalhar em equipe), além de considerar como melhorar o seu conjunto de habilidades nesta área e tornar-se um líder mais eficaz.

”Escolha algo um pouco arriscado, algo que você normalmente não faria se não participasse desta oficina”, desafiou Jo Boufford. ”E, em seguida, considere o que você precisa fazer para tornar isso possível.”

O jovens médicos também foram desafiados a considerar quem iria notar a diferença caso a mudança fosse efetiva.

”Vocês já são líderes e o que estão fazendo funciona para vocês”, confirmou Boufford, ”mas talvez vocês estão colocando um preço e não queiram balançar o barco. Se vocês fazem algo diferente, considere quais efeitos podem ser gerados.”

 

Observações dos alunos

”Depois do workshop do YPL, eu queria mudar a desconexão entre ser percebido como jovem e diferente de outros médicos dos Estados Unidos na liderança – como usar meus pontos fortes e estar mais presente na mesa de liderança”, disse Melissa Simon, uma aluna do Estados Unidos que participou da edição 2012 do workshop. ”Eu aprendi a não dizer alguma coisa em todas as oportunidades, mas a ficar quieta e ouvir, intervindo só quando eu realmente tinha algo a dizer. Minha paixão por fazer algo grandioso me ajudou a mudar a minha agenda. ”

Lakmali Amarisiri, uma aluna do workshop regional do YPL em Cingapura, em 2013, acrescentou: ”Quando vim para a oficina eu estava em uma encruzilhada. É difícil ser assertivo no sul da Ásia, e descobri que eu estava levando uma vida que as outras pessoas queriam que eu levasse. Usando o que eu aprendi no seminário, tornei-me mais assertiva, consegui mudar minha carreira e comecei a ir em outra direção. É justo dizer que ele mudou minha vida completamente. Algumas pessoas não estão felizes com a minha decisão, mas eu certamente estou.”

Taopheeq Rabiu, um ex-aluno da Nigéria, de 2012, observou: ”Para mim, eu realmente implementei a ideia do ”em pé na varanda” – em outras palavras, dando um passo para trás dos confrontos, tentando obter uma visão geral da situação e entendendo o que todo mundo está pensando. Essa ideia vem de um dos trabalhos que foram recomendados para ler antes do seminário, e que discutimos como parte da agenda. Como um neurocirurgião em um país em desenvolvimento, você quer fazer muito, mas nem todo mundo quer avançar no mesmo ritmo. Eu ainda tenho frustrações, mas tento dar um passo atrás e não discuto com as pessoas. Agora, faço menos inimigos e tenho mais amigos, mas ainda estou conseguindo fazer meu trabalho, e também traduzi isso em meus relacionamentos com meus alunos e residentes.”

 

Follow-up

Dentro de alguns meses, o IAMP vai fazer o follow-up com os participantes da oficina e perguntar-lhes se eles conseguiram implementar o seu plano de liderança pessoal, bem como os efeitos disso.