Foi a rotina nas UTIs que incentivou a cardiologista e intensivista Ludhmila Hajjar a estudar alternativas para reduzir o risco de complicações em pacientes após cirurgias cardíacas. Apesar de ser um procedimento muito comum – realizado em cerca de 50 milhões de pessoas por ano -, a chamada cirurgia de evascularização do miocárdio, que consiste na restauração do fluxo sanguíneo para o coração, pode afetar alguns pacientes com prévia disfunção cardiovascular.Entre as complicações mais frequentes, estão as insuficiências renais, respiratórias e infecciosas.
Na tentativa de reduzir essas sequelas, a Dra. Ludhmila propõe em seu estudo o uso do balão intra-aórtico (BIA) nas cirurgias desses pacientes. Trata-se de um dispositivo de assistência circulatória, inserido através de punção da artéria femoral, que, segundo a pesquisadora, é muito eficaz na redução de complicações. O BIA vem sendo adotado em cirurgias desde a década de 60, mas somente na iminência de parada cardíaca. “Usado de maneira preventiva, ele pode minimizar a morbidade e a mortalidade nesses pacientes”, explica. É por isso que seu projeto é um estudo clínico randomizado e controlado para definir o papel profilático do BIA.
Segundo Ludhmila, é fundamental ainda ter maior experiência na sua utilização. “Por ser um dispositivo de assistência circulatória, é necessário expertise para sua inserção, manutenção e cuidado”, diz. Esta extrema dedicação com pacientes de alto risco acompanha a carreira da pesquisadora. Hoje, com apenas 37 anos, ela acumula as funções de chefia da UTI cirúrgica do Instituto do Coração (InCor), da UTI do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e das duas UTIs cardiológicas do Hospital Sírio-Libanês, além de ser professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e Coordenadora da Pós-graduação da Cardiologia da mesma instituição. “Por ano, atendemos cerca de 3.500 pacientes após cirurgia cardíaca e, em torno de 20% dos casos, observamos complicações, sendo as mais comuns as cardiovasculares. Por isso, meu interesse em estudar alternativas para reduzir o risco nesses pacientes”, revela.
A paixão pela medicina começou cedo na vida desta goiana de Anápolis. Com apenas 16 anos, ingressou na Universidade de Brasília (UnB), onde cursou a graduação até 2000. No ano seguinte, decidiu ir para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde está até hoje. Foi ali que cursou a residência em Clínica Médica, seguida pela especialidade em Cardiologia, em 2004. Durante a residência de Cardiologia, foi aprovada com o Título de Especialista em Terapia Intensiva e, três anos depois, assumiu a chefia das UTIs. Em 2010, cursou o doutorado e, em 2014, recebeu o título de Professora Livre-Docente da FMUSP. “Desde criança sonhava em ser médica. Admirava a profissão. E hoje minha vida profissional é prioridade pra mim”, diz.
A dedicação também se reflete na pesquisa, por isso decidiu inscrever o projeto no Para Mulheres na Ciência. “Li sobre o prêmio e achei que poderia ser um meio de concluir a pesquisa e, ao mesmo tempo, incentivar outras pessoas no Brasil a fazer ciência. A ciência no nosso país precisa de estímulos como este”, diz. Apesar da rotina intensa, alguns motivos fazem Ludhmila se desviar do foco no trabalho: a família e a leitura. “Meus pais ainda moram em Anápolis e tenho um irmão e uma sobrinha, a Laura, que também é minha afilhada. No meu tempo livre, aproveito para visitá-los. E adoro ler sobre política e história, dou sempre um jeito”, afirma.