O Prêmio L’Oréal-ABC-Unesco Para Mulheres na Ciência deste ano veio acompanhado de uma novidade: a realização de mesas redondas sobre o papel das cientistas na sociedade, com a participação de vencedoras do prêmio regional e internacional, estudantes, representantes da mídia especializada e de instituições parceiras. A primeira edição desse debate aconteceu na manhã do dia da cerimônia de premiação que reconheceu o trabalho de mais sete jovens pesquisadoras.

Participantes das mesas redondas
Quatro mesas debateram seis temas: o papel da mulher na ciência; como incentivar estudantes do ensino médio e universitário a seguirem a carreira científica; como se destacar na carreira; possíveis carreiras dentro da área científica; oportunidades e dificuldades para se fazer ciência no Brasil e o preconceito contra mulheres cientistas.
Participaram da discussão as Acadêmicas Lucia Previato, Belita Koiller e Marcia Barbosa, todas vencedoras do Prêmio Internacional L’Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência. Durante o evento, elas compartilharam suas experiências com outras cientistas em vários estágios de carreira, incluindo vencedoras de todas as edições do prêmio nacional.
Em relação ao papel da mulher na ciência, os debatedores concluíram que este não é diferente do papel do homem, principalmente porque, nos tempos atuais, a força física não faz mais tanta diferença. Elas pontuaram, no entanto, vantagens que a mulher tem em relação ao homem para formar um grupo na carreira científica, como a sensibilidade e a capacidade de aglutinação e acolhimento.
Já para incentivar os estudantes a seguirem a carreira científica, os participantes do debate opinaram que o exemplo dado pelos cientistas é fundamental, de modo que os alunos vejam que também podem “chegar lá”. “Outro aspecto é a inserção deles na cadeia produtiva, para que se sintam especiais e integrados à pesquisa”, afirmou a médica Maria Carolina Rodrigues, uma das vencedoras da edição de 2014 do prêmio. Concluiu-se que as universidades precisam se aproximar mais da educação básica, pois a distância faz com que muitos talentos acabem sendo perdidos. Para isso, o apoio dos governos é essencial.
A cardiologista Ludhmila Hajjar, também vencedora desse ano, complementou que, no ensino fundamental, não basta apenas passar a informação para o aluno – é preciso ensinar a refletir, criticar e analisar. “Também merece atenção o ensino da língua inglesa desde a educação básica”, comentou Hajjar, destacando que a mídia tem um papel fundamental na valorização da imagem do cientista em relação à sociedade. “Os jovens têm que saber que as possibilidades de futuro não são só ser cantor ou jogador de futebol.”
Na visão da química Carolina Horta, outra vencedora do prêmio de 2014, uma medida necessária de incentivo aos estudantes é a expansão das bolsas de iniciação científica (IC). “Além disso, também deve haver uma maior participação dos estudantes dentro das empresas, desenvolvendo projetos de IC.”
Para que as mulheres se destaquem na carreira, as cientistas ali presentes afirmaram que é importante ser persistente e ter um objetivo. Para parte das debatedoras, o pesquisador, atualmente, está mais interessado em concursos públicos do que na ciência, por isso é preciso manter o foco e se destacar com uma linha de pesquisa específica. Os participantes também apontaram a importância da capacidade de se relacionar e de agregar, bem como de liderança.
Sobre as possíveis carreiras nas áreas científicas, os participantes concluíram que estas são as mesmas que as dos homens. No entanto, apesar de não existirem carreiras femininas e masculinas, existe muito preconceito nesse sentido – por exemplo, como a crença de que cursos de química ou física são voltados para o gênero masculino.
Em relação às oportunidades para se fazer ciência no Brasil, as cientistas destacaram o apoio significativo das agências de fomento, que vêm financiando boa parte da pesquisa desenvolvida no país. Já as dificuldades esbarram na burocracia e a perda de tempo que ela acarreta, atravancando o trabalho dos pesquisadores e dificultando o caminho rumo à internacionalização e competitividade. Carolina Horta citou, ainda, a falta de apoio técnico para a pesquisa e a dificuldade em se ter uma estrutura adequada.
O preconceito com as mulheres cientistas, segundo os debatedores, muitas vezes parte das próprias pesquisadoras: “Temos esse conflito entre maternidade e carreira, questionamos se vamos acabar deixando nossos filhos de lado, e isso tem que ser pensado. Se houver um suporte, como creches nas nossas instituições de pesquisa, será que as mulheres renderiam mais?”, ressaltou Maria Carolina Rodrigues. Já para Carolina Horta, o preconceito é visível principalmente na área privada – por exemplo, em relação à diferença de salários entre homens e mulheres no mesmo cargo.
Para a Acadêmica Lucia Previato, no que diz respeito à participação das mulheres na ciência, o Brasil é um país especial, que tem todas as condições para atingir uma efetiva igualdade entre os gêneros: “Sou otimista, acho que estamos caminhando muito bem. Essas diferenças já estão diminuindo. E a nossa ciência é jovem, então acredito que vamos chegar lá”.

Pesquisadora em microbiologia, Previato acrescentou que o país já tem um grande número de mulheres representando todas as áreas da ciência, inclusive as tecnológicas. “Queremos reconhecimento, mas que aconteça naturalmente”, disse a cientista, lembrando que a Academia Brasileira de Ciências tem uma porcentagem de membros mulheres maior que a National Academy of Sciences, dos Estados Unidos.