Ao longo de mais de 40 anos, a Cromodinâmica Quântica, teoria que descreve a interação entre as partículas quarks e glúons, permitiu diversas previsões precisas de fenômenos da natureza. Apesar disso, esses constituintes, que encontram-se confinados no interior do núcleo atômico, nunca foram observados diretamente. Buscando aprimorar o conhecimento de suas características e desvendar sua interação, a física Letícia Palhares faz dessas partículas o seu principal objeto de estudo.

Baseada na pergunta “Do que nós somos feitos?”, sua pesquisa tem como proposta revelar as propriedades mais íntimas da matéria e quais formas a mesma poderia adquirir se exposta a condições extremas variadas. “A compreensão da comunidade científica precisa de muitos estudos até chegar à natureza. Buscamos entender a dinâmica das partículas, seus aceleradores e o que eles provocam. A partir dessa ideia, tentamos construir alguns caminhos”, explica a carioca.
Assim como no campo teórico, na vida pessoal as descobertas da Dra. Letícia também foram feitas aos poucos. Mostrando habilidade para as ciências exatas desde pequena e um olhar ávido por novos aprendizados, a jovem enveredou para a Física por incentivo dos amigos. “No Brasil, ninguém sabe o que é ser pesquisadora. Eu mesma tinha preconceito. Na escola, havia aquela imagem do gênio descabelado. E até hoje, quando falo o que estudo, as pessoas não entendem, me perguntam se é Educação Física”, conta ela.
Depois de entrar para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde formou-se em 2005, a Dra. Letícia percebeu que a vida de cientista não era como imaginava e passou a se interessar por algumas linhas de pesquisa. “Comecei a gostar mais dos métodos estatísticos, que tentam descrever fenômenos de efeito coletivo, e também do estudo das partículas. Por isso, a minha pesquisa busca unir esses dois mundos”, diz ela.
Aprofundando seus conhecimentos, Letícia emendou o bacharelado com o mestrado e, em seguida, o doutorado na UFRJ, com período sanduíche no Institut de Physique Théorique do CEA-Saclay, na França. Fez pós-doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – onde atualmente é bolsista de Atração de Jovens Talentos, através do programa Ciência Sem Fronteiras – e entre 2012 e 2014, complementou sua formação no Institut für Theoretische Physikda Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg, na Alemanha.
Aos 30 anos, a jovem acredita que ainda há muito a aprender e considera o Prêmio Para Mulheres na Ciência uma motivação à carreira. “A iniciativa é um grande estímulo para continuar meus estudos. Sou muito nova na academia e a ciência é um meio muito competitivo. Prefiro enxergar o prêmio não como um reconhecimento, mas como um incentivo profissional”, ressalta.
Com a bolsa, a pesquisadora planeja investir em um computador de alta tecnologia, para realizar simulações do projeto, e em viagens, para participar de conferências internacionais e agregar colaborações à pesquisa.