Quando criança, ela deixava a professora de Matemática desconcertada ao ignorar as fórmulas que ensinava e fazer contas à sua maneira. Foi cedo que a Dra. Ana Shirley Ferreira deu os primeiros indícios de sua vocação, mas foi no vestibular que a jovem confirmou o que todos já percebiam: os números sempre foram sua verdadeira paixão. Foi assim que a cientista iniciou sua carreira, primeiro com o bacharelado e depois com o mestrado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Nascida em Fortaleza, a nordestina disse “não” ao preconceito, reforçando o time das mulheres na área ainda predominantemente masculina.

Com o projeto “A Conjectura de Erdos-Faber-Lovász e a b-coloração de grafos com cintura alta”, que lhe rendeu o prêmio, ela pretende não só ganhar mais reconhecimento, mas deixar a sua marca na Matemática. “A Conjectura de Erdos-Faber-Lovászfoi proposta em 1972 por estes três cientistas (PaulErdos, Georg Faber e Lászlo Lovász) e até hojenenhum matemático foi capaz de verificar a sua veracidade. Acredito que a teoria sobre b-coloração de grafos com cintura alta poderá ajudar a provar se ela é verdadeira ou falsa”, diz a pesquisadora.
Para chegar a essa conclusão, muitas teorias já foram aplicadas, mas a de b-coloração de grafos com cintura alta é uma tentativa inédita que, segundo Ana Shirley, tem potencial para trazer uma excelente contribuição. Até lá, o caminho pela frente é desafiador. “Essa conjectura tem resistido aos ataques da comunidade científica. Uma provada dificuldade é a existência de poucos resultados ,mesmo que parciais. Recentemente, dois cientistas provaram que uma outra conjectura, a de Havet-Linhares-Sampaio, é na verdade uma consequência da Conjectura de Erdos-Faber-Lovász. Sabendo dessa relação, propusemos a investigação por meio de um outro viés”, explica.
O projeto ainda é puramente teórico, enriquecido por trocas com professores brasileiros e estrangeiros. Com doutorado em Matemática e Informática pela Université Joseph Fourier, realizado na França, Ana Shirley agregou conhecimentos no país onde a Matemática é muito valorizada e oferece um ambiente favorável às pesquisas. Voltou em 2010, com ideias novas e mais fôlego para aprofundar os estudos e persistirem busca da solução para o problema. Confiante em um final feliz, a fellow sonha em ultrapassar os limites da ciência. “Como as respostas matemáticas não são imediatas, daqui a 50 anos pode ser que essa descoberta sirva também para uma aplicação prática. Quem sabe?”.
Diante de tanta dedicação, ao chegar do trabalho, o que ela mais quer é relaxar e cuidar da família. Aos 33 anos, casada e dona de duas cadelas tratadas como filhas, a cearense muda de foco nas horas livres e deixa os números um pouco de lado. Sem esquecer, claro, que foram eles que o motivaram a alcançar uma posição conquistada por poucas no mundo, a de cientista premiada pelo Para Mulheres na Ciência. “Somos quase invisíveis na sociedade. Eu mesma não tinha ideia de quantas pesquisadoras existiam no Brasil e em outros países. A iniciativa nos traz visibilidade e comprova que não precisamos apenas lecionar, que podemos fazer também pesquisa de qualidade. Só tenho a agradecer à L’Oréal e à Academia Brasileira de Ciências”, comenta.