O X Seminário Nacional ABC na Educação Científica reuniu nos dias 9 e 10 de outubro, em Ilhéus, na Bahia, coordenadores de polos científicos do Programa e professores do ensino básico envolvidos com a metodologia, com o intuito de melhorar a formação e a atuação dos educadores no ensino de ciências na Bahia e em todo o país.

O seminário foi conduzido pelo Acadêmico Diogenes de Almeida Campos, coordenador nacional do Programa ABC na Educação Científica, e teve como palestrantes da terceira sessão os coordenadores de polos de diversas regiões do país Angelina Orlandi, Beatriz Athayde, Carlos Wagner Araújo, Danielle Grynszpan e Luís Paulo Piassi.

 

Formação de professores na Estação Ciência

Em sua palestra, a professora Beatriz Athayde destacou sua experiência à frente da formação de professores na Estação Ciência da Universidade de São Paulo (USP). Um dos objetivos do órgão administrado pela USP é instruir professores do ensino básico a promover o ensino de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental com a utilização de atividades investigativas. Além da elaboração de materiais didáticos de apoio aos educadores, a formação da Estação Ciência treina o planejamento de sequências didáticas de ensino e favorece o contato das escolas com centros de ciências e universidades.

De acordo com Athayde, o treinamento de professores era feito nas escolas, com o acompanhamento da equipe de formação da Estação Ciência e estagiários – estudantes universitários. A periodicidade das instruções podia ser mensal ou quinzenal. ”Esse processo de aprendizado desenvolve as habilidades do aluno – prever, planejar, argumentar, avaliar e buscar soluções – e o trabalho em equipe”, destacou Athayde. Para o desenvolvimento de experimentos em sala de aula, os professores receberam materiais de apoio: módulos didáticos – sequências com orientações e atividades sobre um tema – e maletas com materiais simples e de baixo custo para a experimentação.

Athayde explicou que foi realizado em 2008 um processo de avaliação diagnóstica pela Secretária Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP), cujos objetivos eram avaliar o desenvolvimento do programa ABC na Educação Científica nas escolas, verificar as ações dos professores no desenvolvimento das atividades com seus alunos e identificar indícios de melhoria no ensino de ciências.

A avaliação foi realizada através de protocolos de observação e questionários entregues aos formadores, professores e alunos. Havia também questões relacionadas ao tema da atividade investigativa desenvolvida na escola. ”O aluno faz a experiência sugerida pelo questionário e escreve sobre os resultados da atividade realizada.”

As respostas dos alunos mostroaram que a maioria foi capaz de confrontar suas hipóteses com os resultados obtidos e fornecer uma explicação para um fenômeno simples e conhecido. A maior parte dos alunos expressou suas ideias, observações e conclusões por escrito de maneira mais próxima da ciência do que seu pensamento inicial.

Em relação aos professores, a avaliação apontou que a maioria acha positiva a utilização da proposta de investigação, e que a partir dela o ensino de ciências tornou-se mais atraente para os alunos. Além disso, os professores apontaram ser mais prazeroso ensinar com essa metodologia, embora as aulas tornem-se mais trabalhosas, com necessidade de maior preparação, aprofundamento nos conteúdos abordados, observação e colaboração com cada grupo, para que posam avançar em suas discussões.

A avaliação teve a participação de 82% das escolas que faziam parte do programa de formação da Estação Ciência, ou seja, 58 de um total de 71 escolas da rede municipal.

O professor da USP e também representante da Estação Ciência Luís Paulo Piassi continuou a apresentação, lamentando o fim do trabalho, com a desativação do polo na cidade de São Paulo. Atualmente, o programa de formação de professores está sendo realizado com professores de Guarulhos, através da USP Leste, com parceria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Segundo Piassi, os resultados do programa de formação de professores da Estação Ciência foram positivos, pois produziu conhecimento. Ele também acredita que através desse trabalho torna-se possível a implantação do ensino por investigação nas escolas públicas.

Piassi argumentou que a falta de políticas públicas efetivas prejudica o desenvolvimento do projeto em outras escolas. ”Precisamos de uma política pública de Estado. Temos usado o PIBID
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência], mas nossos estudos, resultantes de nossa experiência, têm que ser aproveitados para que todas as escolas tenham uma educação científica baseada na investigação. Não dá pra ficar testando esse projeto eternamente. Já temos um trabalho consistente, já temos capacidade de trabalhar em maior escala. Precisamos agora é de apoio do governo e de financiamento. Ou seja, vontade política”, declarou.

 

”Mão na Massa” no CDCC

A coordenadora adjunta do programa ”ABC na Educação Científica: Mão na Massa” Angelina Orlandi abordou o trabalho promovido pelo Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da USP.

A proposta metodológica do programa é baseada em quatro tipos de ações: problematização, atividades de exploração, registro e término da investigação.

A problematização gera questionamentos e levantamento de hipóteses. Nas atividades de exploração, os alunos passam a buscar respostas às hipóteses levantadas através da experimentação, saída a campo, observação e pesquisa em livros e internet. O registro pode ser feito através de textos, desenho, pintura, modelagem ou gráficos. No término da investigação há a divulgação do trabalho dos alunos e professores, com a apresentação do trabalho para os pais e para a comunidade. ”O intuito é estimular outros gruposa conhecer e participar mais das atividades realizadas na escola”, afirmou Orlandi.

O ABC na Educação Científica no CDCC tem três tipos de abordagens: formação de professores, desenvolvimento de material didático e mostras anuais. Desde 2001, o CDCC começou a trabalhar com a formação de professores através de cursos presenciais e semipresenciais certificados pela USP. O curso do CDCC tem a característica de solicitar aos professores participantes a aplicação da metodologia do Programa em suas turmas e o retorno do que foi realizado. Para Orlandi, esse processo faz com que os professores saiam da teoria do curso e ponham a ”mão na massa”.

De 2004 a 2013, foram realizadas mostras de trabalhos, com palestras e oficinas. O objetivo foi divulgar o trabalho realizado pelos professores que participaram do programa de formação.

 

Educação científica para a formação de cidadãos

A coordenadora do polo do Rio de Janeiro do programa ”ABC na Educação Científica: Mão na Massa”, Danielle Grynszpan, contou que, no estado, o projeto começou com 18 municípios e teve a parceira da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. A experiência teve a participação de professores de ensino médio de biologia, física, química e matemática.

O Programa começou em 2001 no Rio. Atualmente, o trabalho é voltado para a educação científica, o que Grynszpan considera muito mais abrangente do que apenas ”ensino de ciências”, pois envolve educação em ciências e cidadania.

”Conseguimos montar na Fiocruz uma especialização em educação científica e cidadania. Trabalhamos com várias ciências, o que nos possibilita tratar de temas transversais, como ciência e tecnologia, sociedade e meio ambiente”, contou Grynszpan.

Outro objetivo do projeto ”Mão na Massa” no Rio é trabalhar a ciência da perspectiva cidadã, para que o aluno possa aprender através da investigação e também possa conviver com as diferentes realidades. ”Se nossos alunos virarem cientistas, muito bem, se se tornarem cidadãos, muito melhor”, declarou Grynszpan.

 

A ciência que supera as dificuldades

O professor Carlos Wagner Costa Araújo, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Pernambuco, trabalha na formação de professores em ciências da natureza. Durante sua palestra, Araújo destacou os obstáculos dos cursos de formação inicial e continuada realizados pela universidade através do projeto ABC na Educação Científica.

”Quando nós temos recursos, fazemos a formação continuada. Quando não temos, fazemos a formação inicial, que dura três anos e meio”, contou Araújo.

Apesar das dificuldades, o projeto de formação de professores vai além da sala de aula. ”Nós trabalhamos com a metodologia do ensino por investigação, abrimos vários leques, desde museus de ciências até teatros científicos. Na verdade, fazemos uma provocação muito saudável à educação básica na nossa região”, comentou Araújo.

O projeto ABC na Educação Científica completa uma década no vale do São Francisco. Durante esse período, já foram desenvolvidas oficinas de formação de professores nos estados de Pernambuco, Bahia e Piauí. Os temas variam de ”eletromagnetismo” a ”ciência e cordel” e são ensinados através da perspectiva investigativa.