Durantepalestra no Seminário Internacional Sociedadee Natureza, realizadona sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no dia 30 de setembro, o físico e Acadêmico Luiz Pinguelli Rosa, discursou sobre a contribuição das ciências naturais e sociaispara o desenvolvimento sustentável. Pinguelli destacou as matrizes energéticas adotadaspelo Brasil e pelo mundo no processo das mudanças climáticas.

Membrotitular da ABC e ex-membro do ConselhoPugwash, associação fundada por Bertrand Russel e Albert Einstein, Pinguelli integrao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) desde 1998. Foi presidenteda Associação Latino-Americana de Planejamento Energético e da Eletrobras. Atualmente,é diretor e professor titular do Programa de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).

Após a conferência, Pinguelli concedeu uma entrevista à Assessoria de Comunicação da ABC e respondeu perguntas sobre sustentabilidade e planejamento energético.

ABC | Dentro do cenário internacional, o Brasil tem um modelo energético sustentável?

PINGUELLI | O Brasil até que é sustentável. Se considerarmos o uso de energia renovável, por exemplo, o Brasil usa muito mais esse tipo de energia do que o mundo. Cerca de 40% da energia do país é renovável, e isso é um número muito elevado. No mundo, esse valor é da ordem de 10% e nos países ricos chega a 5%.

ABC | Se apenas 10% do mundo investe em energia renovável, quais são os principais modelos energéticos usados nesses países? E no Brasil?

PINGUELLI | No mundo, ainda usa-se muito o carvão. Ao todo, 80% da energia do mundo é a soma de carvão, petróleo e gás natural. Todos esses emitem muitos gases do efeito estufa, o que causa as mudanças climáticas. O Brasil também utiliza essas fontes de energia, mas além delas usa a hidroeletricidade e os biocombustíveis, que emitem menos gases que outras fontes energéticas. Mas isso não significa que estamos usando as melhores tecnologias.

ABC | Quais são as tecnologias em que o Brasil precisa investir?

PINGUELLI | O Brasil deve diversificar e usar com mais intensidade a energia eólica e a solar. Além disso, o país precisa investir em termoelétricas mais modernas, as nossas estão muito obsoletas.

ABC | Sobre a recente crise hídrica em São Paulo, o senhor considera que é consequência de um mau planejamento energético?

PINGUELLI | O problema da falta de água em São Paulo é o próprio abastecimento. Mas a questão da água para geração elétrica existe desde o ano passado. Passamos um ano muito difícil no campo de geração de energia, e se não fossem as termoelétricas, estaríamos no escuro. As hidrelétricas dependem da chuva. Se chover, elas funcionam bem. Normalmente, o Brasil usa em torno de 80% da energia gerada pelas hidrelétricas. Este ano, por conta da forte redução das chuvas, só usamos em torno de 40%, o restante veio das termoelétricas.

ABC | Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a taxa de desmatamento na Amazônia Legal aumentou 29% em um ano. Com base nessa informação, o Brasil alcança o primeiro lugar do ranking mundial no desmatamento de florestas tropicais, uma das principais fontes de emissões de gases estufa no país. Além disso, dados registrados diariamente pelos satélites do Inpe já indicam uma tendência de continuidade do aumento este ano. Com base nesses dados, o senhor acredita que o Brasil vai cumprir a meta voluntária proposta na Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-15) de reduzir entre 36% e 39% as emissões projetadas para 2020?

PINGUELLI | O Brasil já diminuiu muito o desmatamento. Em principio, tudo indica que o Brasil vai conseguir o que ele propôs em Copenhague. Ainda faltam seis anos. O problema é depois de 2020. O Brasil vai fazer o que? Não existe nenhum planejamento para depois desse período.