Leia artigo do Acadêmico Wanderley de Souza, que discorre sobre o período eleitoral e as possíveis mudanças para a política brasileira.

”Todas as atenções sevoltam neste momento para o processo eleitoral quando escolheremos, de formademocrática, os dirigentes do país e dos estados, bem como os membros dospoderes legislativos da união e dos estados. Infelizmente, até o momento, oscandidatos não têm tido a oportunidade de travar um debate construtivo quepermita à população ter clareza das suas posições em relação aos temas maisimportantes. As colocações feitas até aqui são de caráter genérico. Predomina,a julgar pelo que se pode acompanhar nos ”debates” (?), a críticapessoal, o jogo sujo, as perguntas com segundas intenções, etc.

Infelizmente, o sistemapolítico partidário nada mais representa em termos ideológicos ou deprincípios. Vota-se em pessoas e não em programas e propostas de governo.

A maioria dos candidatosjá se esqueceu das manifestações, onde ficou patente a inquietude dos jovens ede boa parte da população que foi às ruas para protestos, infelizmentecontaminados por baderneiros de plantão. No entanto, a mensagem permaneceu e,quem sabe, poderá influenciar o resultado final das eleições.

Ainda que de formatímida, as conversas de pequenos grupos em encontros sociais continuam. Dessasé possível verificar algumas preocupações, em grande parte, fruto dosescândalos crescentes em magnitude, onde fica clara a existência decomportamento incompatível com o que se espera de autoridades públicas. Énecessário um novo pacto político onde algumas práticas precisam sereliminadas. Mencionarei apenas algumas que têm sido discutidas com maiorfrequência.

Primeiro, é fundamental que os líderes do poder executivo organizemequipes (ministros e secretários de estado) com base eminentemente técnica. Asuniversidades, institutos de pesquisa, setores empresariais, entre outros,dispõem de quadros altamente especializados para atuar de forma a contribuirpara o desenvolvimento do país. Áreas como Educação, Ciência e Tecnologia,Saúde, Transportes, Energia, etc, precisam ser comandadas por especialistas comexperiência e espírito público para identificar as reais prioridades do país.Outras áreas, de caráter político, devem ser dirigidas por políticosexperientes e competentes.

Além disso, é absolutamente necessário reduzirdrasticamente o número de ministérios/secretarias e da máquina pública,propiciando que os governantes, efetivamente, interajam com sua equipe auxiliarcom a frequência necessária para que os projetos possam ser discutidos eimplementados.

Também, é preciso que a independência entre os poderes executivoe legislativo sejam efetivamente respeitados. Precisamos avançar na experiênciapositiva de outros países onde membros do poder legislativo não podem ocuparposições no poder executivo. Esta prática, que vem se aprofundando nos últimostempos, é responsável por muitos dos problemas que afloram todos os dias naimprensa. Se algum deputado ou senador deseja participar da equipeadministrativa do poder executivo deve renunciar ao seu mandato. Esta é aprática correta, como ficou bem exemplificado no momento em que Hillary Clintonrenunciou ao seu mandato de senadora para ocupar a posição de Secretária deEstado no primeiro governo de Barack Obama, nos Estados Unidos.

Esperamos queocorra uma evolução positiva no processo político brasileiro e que aspreocupações da sociedade sejam levadas em consideração por aqueles que foremeleitos.”

 

Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ e diretor do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina.