Uma universidade voltada para ciência, engenharia e medicina, da qual fizeram ou fazem parte dois vencedores do Prêmio Nobel de Física, dois do Prêmio Henri Poincaré e três da Medalha Fields. Com 34 mil estudantes, dos quais 6.900 são de fora, a Universidade Pierre et Marie Curie (UPCM) é internacionalmente reconhecida pela área de modelagem interdisciplinar e engenharias e está na vanguarda da pesquisa de nanociência, física quântica e de partículas. O reitor dessa instituição francesa, Jean Chambaz, esteve na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para participar do Simpósio Internacional sobre Excelência no Ensino Superior, no fim de setembro, e falou sobre as principais características de uma educação de qualidade e moderna.
Quarta universidade do mundo em matemática no ranking Shanghai 2014, a UPCM faz parte de uma rede acadêmica de 13 instituições, que derivaram de um desmembramento da histórica Universidade de Paris, em 1970. Também integra o grupo Universidades de Sorbonne, que reúne instituições de ensino superior e pesquisa de primeira classe.
A excelência está relacionada, em parte, ao lançamento, em 2010, do programa do governo francês ”Investindo para o Futuro”, que buscou, entre outras medidas, transformar a educação através da promoção de pesquisa de ponta, estímulo à inovação, fortalecimento de uma presença internacional autêntica e incentivo a um ambiente de integração. ”Estamos lidando com mudanças profundas nas civilizações, na economia, nos marcos tradicionais. Vivemos uma revolução digital, o tempo passa mais rápido e os desafios globais pedem respostas globais”, afirmou Chambaz.
Segundo o francês, responder a essas mudanças envolve construir uma sociedade baseada no conhecimento, com novas práticas de pesquisa e inovação. ”Esses novos desafios aumentam o papel estratégico das universidades, que é entender, antecipar e se preparar para essas transformações.” Tais instituições, destacou Chambaz, devem desenvolver uma cultura de curiosidade, criatividade, pensamento crítico e ”serendipidade” – as boas descobertas feitas por acaso. ”O sucesso também depende disso. Descobertas não podem ser definidas antecipadamente; não existe inovação ‘on demand’.”
Jean Chambaz, em conferência na ABC
Essa responsabilidade de explorar o conhecimento que as universidades modernas enfrentam está estritamente relacionada à interdisciplinaridade, bem como à valorização da diversidade. ”Nós garantimos uma educação de qualidade preparando os estudantes com habilidades e hábitos conceituais, fundamentos baseados em métodos, experiências da vida real analisadas a partir de uma abordagem pautada na pesquisa e a assimilação de competências pela prática, e não por meio de cursos específicos”, ressaltou Chambaz.
Ou seja, é importante ir além do currículo e levar os alunos a explorar suas próprias maneiras de construir o conhecimento. ”Atualmente, somos a primeira universidade da França e a sexta na Europa. Para isso, temos algumas características como taxas baixas, não temos angariação de recursos, o reitor é eleito por um Conselho, entre outras.” Na França, quase todas as universidades são públicas, mas não gratuitas: ”Os estudantes pagam entre 180 euros, no caso do bacharelado, até 300 euros, no doutorado, anualmente. Então é quase de graça”.
Nas Universidades de Sorbonne, o programa ”Investindo para o Futuro” promoveu transformações através da pesquisa, com a seleção de 14 laboratórios de excelência e projetos transdisciplinares. ”Promovemos o empreendedorismo, as parcerias com a indústria, a gestão de ciência”, informou Chambaz. As instituições estimulam a sinergia entre programas, de modo a adaptá-los para um corpo de estudantes diversificado. Assim, é possível optar por áreas como ciência & musicologia, ciência & política e química & história da arte.
A Sorbonne também atua na direção da internacionalização: ”Preparamos nossos estudantes para serem ativos na sociedade global e trabalharem em problemas complexos com parceiros de todo o mundo”, comentou o palestrante. ”Queremos expor nossos estudantes ao mundo e atrair alunos estrangeiros para a universidade. Nosso interesse é trazer pesquisadores muito bons, transpassando as fronteiras.”