Lançada pelo secretário da geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon em agosto de 2012, a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN, na sigla em inglês) mobiliza a experiência, o conhecimento técnico e científico da academia, da sociedade civil e do setor privado no apoio à resolução de problemas de desenvolvimento sustentável em escala local, nacional e global.

A meta da Rede é acelerar a construção de um conhecimento coletivo e ajudar a superar a compartimentalização das ações políticas e técnicas, através da promoção de abordagens integradas para interconectar os desafios econômicos, sociais e ambientais que o mundo tem a confrontar. O trabalho da SDSN caminha junto com o das agências das Nações Unidas, de instituições financeiras multilaterais o setor privado e a sociedade civil.
 
Os processos pós-2015

A escala do desafio global do desenvolvimento sustentável é sem precedentes. A luta contra a pobreza extrema teve um grande progresso em função dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, mas mais de um bilhão de pessoas continuam a viver em situação de pobreza extrema. Desigualdade e exclusão social vêm se ampliando na maioria dos países. Como se estima que em 2050 a população mundial chegue a nove bilhões de pessoas e o GDP global (sigla em inglês para ”global gross domestic product”) a mais de 200 trilhões de dólares, o planeta precisa urgentemente atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – dentre os quais acabar com a miséria, aumentar a inclusão social e sustentar o planeta, ações que exigem boa governança, pública e privada.

Nesse sentido, as negociações globais sobre o desenvolvimento sustentável estão entrando numa fase crucial, que culminarão em três grandes conferências internacionais no ano que vem, as quais, juntas, definirão a agenda mundial pós-2015. Haverá um encontro na Etiópia para discutir financiamento, outro em Nova Iorque onde os presidentes de Estado assumirão os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e um em Paris, para se estabelecer um acordo sobre o clima a ser adotado por todos os países envolvidos. Este será o ápice de uma negociação de muitos anos sobre mudanças climáticas.

A Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN) está profundamente envolvida em todos os aspectos dessa negociação. Membro do conselho da SDSN, o prêmio Nobel de economia e consultor da ONU Jeffrey Sachs, diretor do Instituto da Terra da Universidade de Columbia e mundialmente conhecido por seus livros e por sua atuação política pró-sustentabilidade, foi o responsável pelo convite à ABC para integrar o ”braço amazônico” da Rede, conhecida como SDSN-A, feito em 2013. Na reunião regional da ABC-Norte do ano passado, foi projetado o vídeo em que Sachs oficializa o convite, que na ocasião foi muito bem aceito pelo presidente da ABC, Jacob Palis.
 
A Rede Amazônia de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável

A SDSN-A foi apresentada durante o 2º Encontro Regional de Membros Afiliados da ABC em Belém pela engenheira agronômica formada pela Universidade de São Paulo (USP), Thais Megid Pinto, coordenadora executiva do SDSN-A. Ela também atua como pesquisadora e coordenadora geral do Programa ”Rede Amigos da Amazônia” na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e como assessora do superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgílio Viana.

Thais explicou que o vínculo com a SDSN no Brasil foi construído através da FAS, que é uma instituição privada, sem fins lucrativos, de utilidade pública, não governamental e sem vínculos político-partidários, criada em 2007 por meio de uma parceria entre o Governo do Estado do Amazonas e o Banco Bradesco, conforme estatuto previamente aprovado pelo Ministério Público Estadual. Sua missão envolve promover o envolvimento sustentável, a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das comunidades moradoras e usuárias das unidades de conservação no Estado do Amazonas. Tem compromisso com a conservação das florestas e a melhoria da qualidade de vida das populações que nela vivem, por isso seu trabalho é realizado de forma integrada às políticas setoriais.

Falando sobre o processo de construção de uma rede de conhecimento sobre soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, Thais Megid explicou que não se pode depender apenas dos avanços vindos dos acordos diplomáticos e que já existem casos exitosos que podem influenciar a agenda do desenvolvimento sustentável. ”Temos que apoiar a disseminação destes casos e de novos projetos de inovação tecnológica relacionados aos ODS a serem adotados pela ONU em 2015”, apontou a engenheira.

Esta agenda global substituirá os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, considerado o impulso anti-pobreza global de maior sucesso na história e que tem melhorado significativamente a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, através de esforços concertados e direcionados. Enquanto várias metas já foram cumpridas, tais como reduzir para metade o número de pessoas vivendo em extrema pobreza, ainda espera-se que outros alvos dos ODMs sejam alcançados até à data limite, em 31 de dezembro de 2015. ”É a hora de discutirmos a Amazônia que queremos para 2030”, ressaltou Megid.

No processo de identificação e disseminação de soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, Megid apontou a criação de uma plataforma na nuvem do Google, a criação de prêmios e de fóruns de debate. ”As propostas geradas nestes fóruns podem subsidiar politicas públicas e inovação, através de mudanças no cenário da linha de base.”

Os objetivos maiores são ousados. Megid avalia que a SDSN-A pode se tornar referência, através de plataformas inovadoras que promovam o intercâmbio de experiências e ideias, disseminem soluções e possam facilitar o financiamento das soluções na Amazônia regional. Para tanto, ela considera que a Rede deve manter relações estreitas com parceiros ligados à gestão de unidades de conservação (como o World Wide Fund for Nature – WWF e o Fundo para o Meio Ambiente Global – GEF), à gestão de terras indígenas (como a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COICA), ao desenvolvimento na primeira infância (Unicef e Fundação Bernard Van Leer – FBVL), à educação (como o Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID), à gestão de obras de infra-estrutura (como a Câmara Internacional do Comércio – ICC e a Vale), à gestão pública (como a Fundação Getúlio Vargas – FGV), à agropecuária, à adaptação às mudanças climáticas e à redução de emissões de gases efeito estufa, além de outros temas relacionados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

No momento, o desafio a ser encarado é como criar uma rede eficiente e eficaz para o SDSN-A. Para Megid, as soluções virão através de indicadores em escala regional e interação com os ODS, que são parte fundamental da Agenda Pós-2015. ”Já estão sendo estabelecidas ações de articulação e dinamização de redes já existentes e convergentes com a agenda dos ODS”, relatou Megid, citando parcerias com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), com a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com a Articulação Regional Amazônica (ARA) e com Academia Brasileira de Ciências (ABC). ”Com a ABC estamos organizando um evento nos dias 5 e 6 de dezembro, em Manaus, intitulado ‘Bases cientificas para soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia’”, contou a coordenadora. O público-alvo deste evento são os dirigentes e cientistas de instituições de pesquisa da Amazônia e de organizações cientificas internacionais. ”Nosso objetivo é contribuir para a construção de uma agenda regional de pesquisas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, concluiu.