Os onze Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) que atuam na região Norte têm sido responsáveis por pesquisas relevantes e contribuído para o desenvolvimento sustentável e a conservação da Amazônia. Alguns desses trabalhos foram apresentados no 2º Encontro Regional de Membros Afiliados da ABC da Região Norte, realizado no final de agosto, no Instituto Tecnológico Vale de Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS), em Belém do Pará.

Coordenado pelo Acadêmico Niro Higuchi, o INCT de Madeiras da Amazônia tem como meta viabilizar o manejo florestal sustentável, aumentando o rendimento das indústrias madeireiras da região amazônica. ”A situação é preocupante, pois há uma relação direta entre produção de madeira e desmatamento, e essa é uma atividade extremamente predatória que não distribui renda”, aponta Higuchi.

Além disso, analisando-se as origens da produção de madeira da Amazônia brasileira entre 1996 e 1997, observou-se que 68% do corte raso foi feito sem autorização. O tema merece atenção, conforme explicou Higuchi: ”Sem tecnologia de madeira não há manejo florestal sustentável e, sem ele, não há floresta em pé. Sem a floresta, por sua vez, não haverá biodiversidade, serviços ambientais nem proteção a outras formas de vida”. Ele comentou, ainda, que a taxa de conversão de toras da Amazônia em diferentes usos (serrados, laminados, compensados e outros processos secundários) é menor do que 30%.

Por isso, a rede tem os objetivos de consolidar o manejo florestal sustentável na Amazônia (a longo prazo, de 75 a 100 anos); integrar os resultados deste projeto às instruções normativas do Poder Público e aos procedimentos técnicos do setor produtivo (a médio prazo, de 25 a 30 anos); e comprovar a viabilidade técnica de diminuir o diâmetro mínimo de corte para o aproveitamento industrial e aumentar o rendimento da indústria florestal da região (a curto prazo, em cinco anos).

Este INCT também vem tendo importantes resultados na transferência de conhecimento para a sociedade. Alguns exemplos são o curso de marchetaria para as comunidades e as oficinas de ukulelê (guitarra havaiana), com o objetivo de sensibilizar os jovens para o aproveitamento da madeira.

 

Potencial energético e geológico da Amazônia

O INCT de Energias Renováveis e Eficiência Energética da Amazônia (EREEA), apresentado pelo seu coordenador, João Tavares Pinho, tem seu programa de longo prazo focado em sete linhas de pesquisa. Entre elas, estão o estudo das necessidades e potencialidades energéticas da região amazônica, com ênfase na quantificação e caracterização das fontes solar, eólica, hídrica e biomassa; o estudo da eficiência energética aplicada a sistemas elétricos e a edificações; e a qualificação de equipamentos para sistemas solar fotovoltaicos, solar térmicos, eólicos, hídricos, de geração com biomassa, e de eficiência energética.

”Todas essas tecnologias ainda são caras no Brasil, diferentemente de outros países, em que a energia eólica, por exemplo, já é competitiva”, lamentou Pinho, que tem experiência de mais de 17 anos na área de fontes renováveis de energia. Ele acrescentou que a rede também visa à implantação de cursos ou disciplinas de pós-graduação e cursos de graduação de engenharia de energia e a capacitação de recursos humanos.

Já o INCT de Geociências da Amazônia (Geociam), coordenado pelo Acadêmico Roberto Dall’Agnol – que é vice-presiente da ABC para a região Norte-

tem como metas tornar-se referência para pesquisas em geociências na região, aprofundar as pesquisas sobre magmatismo, evolução crustal e metalogênese do Cráton Amazônico, que forma o núcleo mais antigo do continente sul-americano, sendo dividido pela bacia amazônica em duas partes: o escudo da Guiana ao Norte e o escudo Guaporé (ou escudo brasileiro central) ao sul.

Segundo Dall’Agnol, outros objetivos da rede são contribuir para a educação em ciências e difusão do conhecimento, além de formar recursos humanos na área de geociências, diante das condições difíceis dessa área de estudo. ”São poucos cursos de geociências no país e, quando o mercado está aquecido, os salários são bons nas empresas, então fica complicado fixar pessoal nas universidades”, explicou.

Sobre o Cráton Amazônico, o Acadêmico informou que a região de Carajás é o foco, por sua importância econômica e política. ”Buscamos entender como se formaram as rochas, como elas evoluíram, vendo o lado histórico da geologia.” De acordo com o pesquisador, um terço da economia da região gira em torno dos recursos minerais. ”É um setor que, se for utilizado com responsabilidade e tecnologia, pode ter um pequeno impacto em Carajás.”

Os principais objetivos do projeto já foram atingidos, dado que os estudos permitiram entender melhor a evolução do Cráton Amazônico. Além disso, o grupo publicou em periódicos internacionais de forma expressiva, incluindo um artigo na revista Nature. O Geociam formou 18 doutores e 77 mestres, abrigou oito estágios de pós-doutorado e mais de 200 pesquisas de graduandos, além de ter atuado na divulgação da ciência no ensino médio e fundamental.

Veja mais uma matéria apresentando resultados positivos de outros INCTs da Amazônia.