O Instituto Abramundo, braço social da Abramundo – Educação em Ciências, anunciou os resultados de sua primeira pesquisa para indicar o índice de letramento científico no país.
O Indicador de Letramento Científico Abramundo (ILC) é uma iniciativa inédita do Instituto Abramundo, em parceria com o Instituto Paulo Montenegro, o IBOPE, e a ONG Ação Educativa, a partir da experiência de mais de 10 anos destas duas organizações na realização do Inaf – Indicador de Alfabetismo Funcional. A realização do trabalho de campo, bem como da correção dos testes e do processamento dos dados, ficou sob a responsabilidade do IBOPE Inteligência, também responsável pela realização do Inaf.
Para esta primeira edição, foi selecionada uma amostra de 2.002 casos, representativa da população de 15 a 40 anos residente no Distrito Federal e em 9 regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Belém) e que tenham completado quatro anos de estudo. Com base no recorte geográfico e populacional da amostra, os resultados são representativos de 23 milhões de pessoas entre 15 a 40 anos que completaram os quatro primeiros anos do ensino fundamental (antigo primário) e que residem em 92 municípios das 9 regiões metropolitanas brasileiras.
Os indivíduos selecionados para fazerem parte da amostra foram entrevistados em seus domicílios por profissionais do IBOPE Inteligência. Os trabalhos de campo ocorreram em março/abril deste ano e foram feitas duas versões de teste, cada uma contendo 26 questões. As respostas dadas pelos participantes foram submetidas a análises estatísticas com base na Teoria da Resposta ao Item (TRI), sob a coordenação dos especialistas Prof. Tufi Machado Soares e Prof. Carlos Alberto Huaira Contreras, da Universidade Federal de Juiz de Fora / Caed.
Os quatro níveis do ILC – 64% dos entrevistados possuem baixo letramento científico


A partir das respostas dadas pelos participantes da pesquisa e com base no conjunto de habilidades que cada indivíduo demonstra ter para responder às questões propostas, foi possível estabelecer 4 níveis de letramento científico: Nível 1 (letramento científico ausente), Nível 2 (letramento científico elementar), Nível 3 (letramento científico básico) e Nível 4 (letramento científico proficiente).
Em uma primeira análise, a pesquisa demonstrou que a grande maioria (79%) das pessoas entre 15 e 40 anos, com mais de 4 anos de estudo e residentes nas 9 regiões metropolitanas do país, pode ser classificada nos níveis intermediários da escala, sendo que 48% desta população se encontra no Nível 2 (Letramento Científico Elementar) e 31% se enquadram no Nível 3 (Letramento Científico Básico).
Apenas 5 a cada 100 pessoas foram classificadas no Nível 4 (Letramento Científico Proficiente) e 16% da população pesquisada se encontra no Nível 1 (Letramento Científico Ausente).
Dentre os indivíduos que chegam ao ensino superior, 48% atingem o nível de Letramento Científico Básico e 11% podem ser considerados proficientes. Nesse grupo de mais alta escolaridade, há uma parcela significativa, 37%, com Letramento Científico apenas Elementar e 4% que podem ser considerados iletrados do ponto de vista científico.
Letramento Científico e os efeitos na produtividade
O perfil do trabalhador em termos de letramento científico tem, evidentemente, grande potencial de impacto no campo econômico. O domínio das habilidades de letramento científico pela liderança da gestão empresarial e pela força de trabalho são componentes essenciais para assegurar a produtividade e a competitividade, assim como para promover a geração de capital intelectual por meio de novas patentes.
Segundo os dados do ILC, mais de 6 em cada 10 trabalhadores (61%) entre os 15 e os 40 anos residentes nas 9 regiões metropolitanas do país e com pelo menos 4 anos de estudo não atingem o nível Básico de Letramento Científico, sendo que 14% deles podem ser considerados cientificamente iletrados.
Em outras palavras, apenas 4 em cada 10 trabalhadores das principais capitais do país e dos municípios de seu entorno, onde está concentrada grande parte da produção nacional, têm a habilidade necessária para resolver problemas ou interpretar informações de natureza científica.
Esse recorte do estudo é bastante preocupante. “Choca a insuficiência das elites com letramento proficiente em ciências”, afirma Ricardo Uzal Garcia, presidente da Abramundo, ao constatar que somente 15% dos tomadores de decisão possuem letramento científico proficiente. Na administração pública, somente 9%; na indústria de transformação, apenas 5%.