Embora a nanotecnologia tenha se desenvolvido consideravelmente nos últimos anos, os cientistas ainda não atingiram níveis de controle de precisão capazes de explorar e desvendar todo o seu potencial. Nessa busca por ferramentas de precisão, surgiram o grafeno, ótimo condutor de calor e energia, e a fidelidade de programação das nanoestruturas de DNA. Durante o último Brazil – U.S. Frontiers of Science and Engineering, realizado no Rio de Janeiro em março de 2014, dois membros da ABC trataram destes temas. O intuito da sessão era explicar como essas duas aplicações da nanotecnologia levaram a relevantes avanços na área.

Professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Acadêmico Ado Jório Vasconcelos foi o primeiro palestrante a falar. Levando em conta que os nanomateriais de carbono estiveram à frente da revolução nanotecnológica desde seus primórdios, ele tratou das propriedades eletrônicas e vibracionais dos nanotubos de carbono e do grafeno na Espectrocospia Ramanuma técnica fotônica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos segundos, informação química e estrutural de quase qualquer material, composto orgânico ou inorgânico, permitindo assim sua identificação.

Além disso, Vasconcelos explicou como a nanotecnologia auxilia seu grupo de pesquisas a identificar o papel do carbono na manutenção da fertilidade da terra preta de índio. Localizado em várias áreas da Amazônia, esse tipo de solo impressiona por sua alta produtividade e notável resistência à degradação. Especialistas afirmam que isso decorre do manejo indígena, cujo processo de queima controlada fez com que essas terras se tornassem altamente férteis. Os estudos do Acadêmico estão sendo desenvolvidos no âmbito de uma parceria da UFMG com o Inmetro do Rio de Janeiro e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O segundo conferencista do painel foi o membro afiliado da ABC Alexandre Reily Rocha. Físico graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ele atualmente trabalha como pesquisador do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp). Em sua fala, Rocha discutiu as simulações de transporte eletrônico em dispositivos nanoscópicos – particularmente sistemas baseados no carbono, como o grafeno – e também algumas características do DNA.

De acordo com Rocha, o DNA reúne toda a informação necessária para a construção de qualquer estrutura viva. Nesse sentido, o preço do sequenciamento genômico vem diminuindo com o passar do tempo e à medida que avança a tecnologia. Isso torna a medicina personalizada uma realidade cada vez mais tangível. “Nós queremos ser capazes de determinar predisposições genéticas para doenças e ganhar um entendimento profundo do nosso código genético”, explica. E seu grupo de pesquisas já alcançou resultados interessantes na simulação de um dispositivo de sequenciamento por nanoporos, que pode se transformar em uma ferramenta ultra-rápida de sequenciamento de DNA em alguns anos.