No dia 13 de fevereiro foi realizada, na sede da ABC, uma primeira reunião de trabalho visando à estruturação do comitê brasileiro da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Solutions Network – SDSN, na sigla em inglês). A SDSN é uma rede constituída a partir do secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, que procura mobilizar o conhecimento científico e tecnológico relacionado aos desafios do desenvolvimento sustentável. Seu principal objetivo é subsidiar a construção e futura implementação da Agenda Pós-2015.

Sob a coordenação global de Jeffrey Sachs – economista norte-americano conhecido pelo seu trabalho como conselheiro econômico de diversos governos do mundo em desenvolvimento e por seu trabalho em agências internacionais para a redução da pobreza, o cancelamento da dívida e o controle de doenças para esses países – a SDSN se articula a partir da visão da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. O desenvolvimento sustentável é visto como um conceito holístico, com quatro dimensões fundamentais: desenvolvimento econômico (incluindo o fim da pobreza extrema), inclusão social, sustentabilidade ambiental e boa governança. Para alcançar todas as dimensões, é preciso que as sociedades entendam que falhas em uma delas podem comprometer o progresso das outras.

Na abertura do evento, o presidente da ABC, Jacob Palis, reafirmou o compromisso da ABC com a construção da sustentabilidade global. Como salientou em seu discurso, a Academia não somente se debruça sobre este tema há muito tempo, como em 2013 promoveu duas reuniões científicas internacionais de grande magnitude que tiveram como eixo essa temática: a Conferência & Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), em fevereiro, e o Fórum Mundial de Ciências, no mês de novembro.

De forma similar, a ABC já vem participando do processo de articulação de outro braço desta rede; o SDSN-Amazônia, que tem no acadêmico Adalberto Val o presidente de seu comitê científico. Palis concluiu sua fala afirmando que a ABC tem muita honra em sediar esta reunião e que não poupará esforços para colaborar para o êxito de tão importante iniciativa.

O presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Israel Klabin, também participou do evento, destacando que, até agora, as discussões realizadas no âmbito da ONU têm dado atenção quase exclusiva ao estudo dos problemas. Para ele, agora é hora de pensar de forma pragmática e “sugerir soluções objetivas baseadas na ciência e implementáveis pelo setor privado ou pelos governos na área de sustentabilidade”.

O SDSN consta de 12 grupos temáticos fundamentais. Um deles, o de número nove, diz respeito às cidades. Na reunião sediada pela ABC, foi esse o assunto debatido com maior profundidade e ficaram sob a responsabilidade da FBDS os estudos sobre o Rio de Janeiro. De acordo com Klabin, que na década de 70 foi prefeito da cidade, a ideia é que sejam propostas políticas de longo prazo. A partir do dia 17 deste mês, novos workshops serão organizados, na capital carioca e em Manaus, para que se debatam os demais temas da rede.

Para Emma Torres, assessora sênior em sustentabilidade da Oficina Regional para América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil é uma nação extremamente importante quando se trata de sustentabilidade. Destaque no quadro de países emergentes, seus esforços em relação ao etanol e investimentos em energias limpas, além das tentativas de redução do desmatamento na Amazônia foram alguns dos exemplos citados por Torres em entrevista ao Notícias da ABC.

E, sobre a construção da Agenda Pós-2015, ela opina: “Existem problemas básicos, como a pobreza e a falta de saneamento básico, que ainda persistem em muitos países. Por outro lado, também estão sendo traçados novos objetivos, dentre eles a cidade sustentável e a biodiversidade em florestas e oceanos.”

Elogiando a fala de Palis durante a reunião, Torres lembrou que uma das conclusões da Rio+20 foi exatamente a importância de uma forte base científica e tecnológica na elaboração de políticas públicas. Por isso, ela afirma que a ABC pode contribuir para o SDSN a partir da mobilização de conhecimento de pesquisa. “A problemática do desenvolvimento sustentável depende da inovação”, explica.

Por fim, o CEO da Fundação Amazônia Sustentável, Virgílio Viana, destacou que estruturar um comitê brasileiro para a rede é uma ótima oportunidade para que as instituições nacionais se mobilizem em torno da promoção do desenvolvimento sustentável nas diferentes regiões do país. O engenheiro, que também atua como coordenador do SDSN-Amazônia, concorda com Emma Torres quanto ao contato da ABC com a rede. “Isso vai ser muito importante porque esse é um possível canal de aproximação dessa iniciativa internacional com as instituições de pesquisa e produção tecnológica do Brasil”, comenta.