A PLoS Neglected Tropical Diseases, da Public Library of Science, destacou o Brasil como o segundo país do mundo a submeter artigos científicos para publicação na revista, atrás apenas dos Estados Unidos. Para o professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), membro titular da Academia Brasileira de Ciências e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Protozoologia, Dr. Isaac Roitman, o fato de pesquisadores brasileiros terem submetido um expressivo número de trabalhos no PL0S (364) revela o potencial e expressivo interesse da comunidade científica brasileira nas doenças tropicais negligenciadas. “Essas doenças têm prevalência em países pobres e em desenvolvimento que justifica direcionar esforços para o seu controle ou erradicação”, avalia Dr. Isaac.
No Brasil o grande impulso para pesquisas nessa área veio após a criação, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na década de 70, do Programa Induzido de Doenças Endêmicas (PIDE) – um marco nos efeitos da política de Ciência e Tecnologia com efeitos positivos de médio e longo prazo, conforme assegura o membro titular da Academia Brasileira de Ciências. “Inicialmente o programa elencou dois temas prioritários: doença de Chagas e esquistossomose. As reuniões anuais de Pesquisa Básica em Doença de Chagas (Caxambu) e Pesquisa Aplicada (Uberaba) foram frutos desse programa”, lembra o especialista ao comentar que essas reuniões ampliaram as temáticas e estimularam a criação da Sociedade Brasileira de Protozoologia que passou a discutir outras doenças importantes, entre elas a malária e as leishmanioses. Dr. Isaac destaca outra consequência significativa impulsionada pelo PIDE: a expressiva participação de pesquisadores brasileiros no Tropical Disease Research (TDR) da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Outro aspecto fundamental do PIDE, foi o papel que desempenhou na formação de recursos humanos qualificados para a pesquisa biomédica, o que explica hoje o grande número de artigos submetidos ao PLoS Neglected Tropical Diseases”, analisa.
Questionado por que grande parte dos pesquisadores brasileiros dá preferência à publicação dos artigos fora do país, Dr. Isaac explica que no Brasil existe ainda um pequeno número de revistas indexadas com capilaridade internacional e que não atendem a demanda da produção científica na área biomédica e de outras áreas do conhecimento. “Creio que no futuro haverá outras fontes de divulgação aqui, principalmente de revistas com versão eletrônica”, pondera. Ele assinala que os artigos publicados em revistas brasileiras não indexadas é um obstáculo para a divulgação da produção científica na comunidade internacional. Mas garante que isto não significa que esses artigos tenham baixa qualidade. “Muitas vezes ele não é publicado na língua internacional reconhecida que é o inglês o que também dificulta a divulgação em nível internacional”, acredita. Para ele, a introdução de novas revistas indexadas poderá reverter o atual quadro.
Dr. Isaac ressalta que alguns eventos têm chamado a atenção da comunidade científica internacional, como os Congressos da Sociedade Brasileira de Protozoologia, da Sociedade Brasileira de Parasitologia e da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. “Penso que a qualidade das publicações na área de doenças negligenciadas é boa. Os trabalhos feitos por pesquisadores brasileiros têm reconhecimento internacional”, comenta ao alegar que isso também favorece a publicação dos artigos produzidos no país em revistas estrangeiras.
De acordo com o especialista, um grande número de excelentes pesquisadores brasileiros tem publicado seus trabalhos em revistas brasileiras indexadas. Segundo ele, a publicação nesses veículos tem divulgação e repercussão equivalentes às das melhores revistas publicadas no exterior. “Algumas, editadas no Brasil, alcançaram o índice de qualidade das melhores revistas de circulação internacional. Entre elas, na área biomédica, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Brazilian Journal of Medical and Biological Research, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Revista de Microbiologia (Journal of the Brazilian Society for Microbiology) e a Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. Na área multidisciplinar é importante destacar os Anais da Academia Brasileira de Ciências”, enumera o especialista.
“A Capes estabeleceu um ranking de qualidade das revistas científicas em todas as áreas de conhecimento que é conhecido como Qualis”, revela Dr. Isaac. Segundo ele, esse ranking é atualizado de forma permanente e as revistas brasileiras de boa qualidade devem ter posição equivalente às melhores revistas do mundo. “A expectativa é de que à medida que a ciência brasileira sofre um processo de consolidação, como ocorre atualmente na área biomédica, as revistas científicas brasileiras de boa qualidade recebam o reconhecimento que legitimamente merecem.”
PLoS Neglected Tropical Diseases
Inglaterra e a França dividem a terceira posição com o maior número de submissões de artigos para a PLoS Neglected Tropical Diseases. A revista também recebe contribuições de outros países da América Latina, como Peru, México e Argentina. Cerca de metade dos trabalhos submetidos é de países do hemisfério Sul.
No editorial da Revista, os professores Peter Hotez, do Núcleo Medicinal da Universidade George Washington, e Serap Aksoy, da Escola de Saúde Pública de Yale, ambos nos Estados Unidos, apontam que “as submissões do Brasil têm sido de qualidade extremamente alta e abrangem uma amplitude de tópicos, de patogênese molecular e aspectos clínicos à epidemiologia e política.”