Alysson Roncally Carvalho, eleito Membro Afiliado da ABC para o período entre os anos de 2012 e 2016, teve uma infância tranqüila. Criado em Campina Grande, cidade localizada no interior da Paraíba, ele diz ter usufruído ao máximo de todo o conforto esperado de uma cidade pequena. Ao contrário da realidade enfrentada por seus filhos hoje em dia, Alysson pôde jogar bola e andar de bicicleta na rua.

Adorava praticar esportes. Na escola, por sua vez, gostava bastante de biologia e, apesar de sentir certa dificuldade, a física também o agradava. Brinca, dizendo que continuou gostando dessas matérias, dado que hoje atua como docente no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCC/UFRJ). De acordo com o novo Acadêmico, a única disciplina com que não se identificava muito era a matemática. “Mais tarde descobri que eu nunca tinha tido, de fato, aula de matemática.”

Filho mais velho de três irmãos, seu pai era gerente de uma empresa de gêneros alimentícios e sua mãe, apesar de ter iniciado a graduação em medicina, desistiu do curso para dar prioridade aos filhos. Embora o pai dedicasse muito tempo ao trabalho, Alysson conta que qualquer tempo que passassem juntos era muito prazeroso e sua educação foi sempre pautada nos princípios da ética e na valorização dos estudos.
Segundo ele, por ser o mais velho, era visto como a “inspiração” das duas irmãs. Alysson foi o primeiro da família a cursar mestrado, doutorado e pós-doutorado, e ambas seguiram seus passos alguns anos mais tarde. Atualmente, uma delas é doutora pela Technical University Dresden, localizada na Alemanha, e a outra está cursando o doutorado em Engenharia Biomédica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Carvalho acredita que uma influência bastante significativa para a escolha de sua profissão foi o convívio familiar. Seus tios por parte de mãe, professores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), lecionam física para os cursos de graduação em engenharia. Alysson conta que gostava muito de suas aulas particulares, que geralmente tinham como objetivo tirá-lo do “sufoco” das provas de fim de ano. Para ele, essas aulas eram um desafio e ele achava muito interessante “notar que a física ensinada na universidade era mais bela do que a física lecionada no colégio”.

Escolha profissional: um processo inusitado

De acordo com Alysson, a escolha de uma carreira, no seu caso, foi um processo longo e bastante inusitado. Ele, que estava em dúvida entre engenharia e medicina, acabou iniciando o curso de fisioterapia na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), ao mesmo tempo em que cursava farmácia, curso que não completou. Na graduação, sua maior motivação era a vontade de concluí-la e obter seu diploma. Ele brinca, dizendo que seu pai já desconfiava que ele “não ia ser nada”.

A partir do segundo período, ingressou no programa de iniciação científica da universidade e, desde então, ficou ainda mais convencido de seus desejos e objetivos: queria, de fato, ser um pesquisador. Alysson admite que não é uma tarefa fácil fazer pesquisa no Brasil. Sua primeira submissão de projeto ao CNPq em 1996, voltado para a caracterização de coliformes totais e fecais em polpas de frutas comercializadas em campina grande, foi negado. “Foi muito frustrante. Eram tempos mais difíceis do que hoje”, destaca. Entretanto, não desistiu e, embora ainda sofra com algumas rejeições após o julgamento dos projetos que submete, ele diz que se mantém entusiasmado e procurando motivar colegas e alunos.

No ano de 1997, quando já estava no quinto período do curso de fisioterapia, transferiu a matrícula para o Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR), na cidade do Rio de Janeiro, onde concluiu sua graduação. Carvalho conta que, além de ótimos professores, ele teve também o grande prazer de lecionar ao lado de muitos deles. Como exemplo, ele destaca o professor Fernando Guimarães, da faculdade de medicina da UFRJ, que foi seu orientador na monografia de conclusão de curso e o indicou ao professor Antonio Giannella Neto, o qual veio a ser seu orientador e, segundo ele, a pessoa mais importante em seu desenvolvimento científico.

Posteriormente, ingressou no programa de pós-graduação em engenharia biomédica na COPPE/UFRJ e realizou, também, um doutorado pela mesma instituição. Carvalho obteve um pós-doutorado no Departamento de Anestesia e Terapia Intensiva do Hospital Universitário Carl Gustav Carus da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, local onde trabalhou até o ano de 2008, quando regressou ao Brasil. Ele conta que, durante o mestrado e doutorado, ainda encontrou tempo para frequentar disciplinas dos cursos de graduação em física e matemática – da qual finalmente aprendeu a gostar – na UFRJ. Em sua opinião, foi “interessante retornar a um curso de graduação mais amadurecido”.

Seu campo de pesquisa

A principal linha de pesquisa de Alysson consiste na busca por critérios objetivos para o ajuste da ventilação artificial, também chamada de ventilação mecânica ou controlada. Ele diz que a técnica é “uma importante alternativa para a insuficiência respiratória, sendo imprescindível para o suporte de vida”, tanto em pacientes críticos em terapia intensiva, quanto em centros cirúrgicos durante a anestesia geral – quando, segundo ele, a musculatura respiratória também é freqüentemente paralisada. “Para este propósito, utilizo técnicas de processamento de sinais e de imagem, em busca de estratégias ventilatórias individualizadas e baseadas em parâmetros obtidos à beira do leito.”

De acordo com o Acadêmico, a inspiração é um ato cíclico que se dá durante toda a vida de um ser humano, consumindo parte de suas reservas energéticas, visto que ocorre mediante gasto de energia dos músculos inspiratórios. Enquanto isso, a expiração é essencialmente passiva. Ele diz que o “custo” da ventilação é bastante baixo e quase imperceptível. “Contudo, diversas doenças do aparelho respiratório podem elevar este custo ao ponto de levar a musculatura à insuficiência ou mesmo à falência. Neste contexto, o ajuste adequado da ventilação artificial é fundamental para otimizar as trocas gasosas sem comprometer a estrutura pulmonar.” No entanto, Alysson ressalta que uma ventilação artificial inadequadamente ajustada pode promover uma lesão pulmonar ou até mesmo agravar uma já existente.

Descoberta como sinônimo de diversão

Atualmente, Carvalho é professor não só do Laboratório de Fisiologia da Respiração do IBCC/UFRJ, mas também do Laboratório de Engenharia Pulmonar do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE/UFRJ, além de membro da Sociedade Brasileira de Fisiologia. A descoberta é o seu fator de encantamento com a ciência. Parafraseando um grande cientista – Guy Zimmerman, da Universidade de Utah -, Alysson costuma dizer: “Vamos descobrir algo e nos divertir!”

Para ele, um profissional da ciência deve ser, acima de tudo, ético, imparcial, persistente e curioso e aconselha os jovens interessados em ciência a relaxarem na hora da escolha de uma carreira. “A ciência emerge e as portas, apesar de parecerem mais estreitas, nunca se fecham com a profissão que se venha a escolher.”

Honrado com a titulação, Alysson afirma que ser nomeado Membro Afiliado da ABC é “uma oportunidade ímpar de conhecer e conviver com os grandes expoentes da ciência brasileira”. Seu objetivo inicial como membro afiliado é explorar um pouco mais todas as possibilidades da Academia. “Acredito muito nas relações e nos contatos pessoais, que estreitam caminhos e ajudam a enxergar o mundo sob uma outra ótica.”