Nos dias 14, 15 e 16/9, aconteceu o Simpósio Ciência Tecnologia e Inovação: Visões da Jovem Academia, realizado na sede da ABC. A apresentação do evento contou com a participação do presidente Jacob Palis, do Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade e dos Membros Afiliados Hamilton Brandão Varela de Albuquerque, Lisiane de Oliveira Porciúncula, Krerley Irraciel Martins Oliveira, Luís Carlos Bassalo Crispino, Marcos André Gonçalves e Stevens Kastrup Rehen.
Da esq. para dir., Marcos Gonçalves, Stevens Rehen, Lisiane Porciúncula,
Jacob Palis, Jailson Bittencourt, Luís Carlos Crispino e Krerley Oliveira.
O presidente Palis saudou os presentes e disse que foi uma sábia decisão da Academia implementar a categoria de membros Afiliados da ABC no ano de 2007. “Na época, houve uma mudança no estatuto, o que foi aprovado por uma maioria total”. Junto com a titulação de Membro Afiliado, criaram-se as vice-presidências regionais, no intuito de tornar a ABC presente em todas as áreas do país. “Jovens talentos não escolhem onde nascer. Espero que vocês tenham gostado de ser Membros durante cinco anos”, acrescentou Palis, destinando suas palavras finais ao grupo de Afiliados de 2007/2008-2012.
Os demais agradeceram pela oportunidade e lembraram a todos que os debates visavam levantar os principais problemas e preocupações de cada tema e, também, elaborar propostas.
Qualidade para o sistema de avaliação
A primeira mesa do Simpósio, Critérios de avaliação acadêmica, teve os Acadêmicos Hamilton Varela, como mediador, Martín Pablo Cammarota, como relator, e, como debatedores, os Afiliados Dráulio Barros de Araújo, Leandro Helgueira de Andrade e o Membro Titular Jailson Bittencourt.
Leandro Helgueira, Jailson Bittencourt, Martín Cammarota,
Hamilton Varela e Dráulio Araújo
Em sua apresentação Avaliação na carreira docente: ensino, pesquisa, extensão, Araújo, pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que possui experiência na avaliação intra-muros, destacou que não é fácil a aplicação de um método que avalie a eficiência individual ou institucional. “A partir de 1965, a necessidade de se ter pessoas com títulos aumentou. Não se tinha programas de pós-graduação no país, o que levava os interessados a procurar formação no exterior. Com a volta desse pessoal é que surgiram os primeiros programas de pós”, explica o Acadêmico, acrescentando que o Brasil precisava agir para não perder cérebros. “Assim, nasceu o sistema de avaliação, com o intuito de medir a qualidade desses cursos”.
Segundo ele, a avaliação é necessária, pois é preciso conhecer o sistema de ensino superior, além de prestar contas à sociedade. “Precisamos ter dados sobre a satisfação dos alunos, se a produção do docente não está estagnada, incluindo outros aspectos”. Outro ponto levantado por Araújo foi a relação entre carreira e títulos, que eram os principais responsáveis pela progressão da carreira acadêmica. “A partir de 1990, o grande número de professores com doutorado tornou as carreiras em instituições brasileiras obsoletas. Novas demandas apareceram e a subida na profissão não dependia mais da titulação máxima, mas sim de uma performance mínima”, ponderou.
Com esse cenário, a avaliação focou em três critérios muito conhecidos: ensino, pesquisa e extensão. “O professor é levado a atender esse tripé, que é o da universidade. Esse sistema é falho. Muitas vezes o critério de ensino é baseado na popularidade do docente entre os alunos”, lamentou Araújo. Para ele, o indivíduo deve ser estimulado a fazer aquilo que ele faz melhor. “O meu papel como docente é dar aula. É impossível ser competitivo integralmente em pesquisa, ensino e extensão”, concluiu.
O segundo debatedor, o Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade, da Universidade Federal da Bahia, falou sobre Avaliação e excelência, que, segundo ele, são magistérios interferentes e dependentes entre si. “A agenda do século XXI assumiu três responsabilidades: sustentabilidade, interdisciplinaridade e inovação. Para alcançarmos esses valores, precisamos reconfigurar o ensino, desde o básico até a pós-graduação”, apontou.
Bittencourt, que tem vasta experiência em comitês de avaliação acadêmica, afirma que a avaliação individual de um cientista como professor se volta para aspectos como QI, boas ideias e formação. “Mas é preciso muito mais para ser, também, um professor gestor e avaliador. Inteligência emocional é fundamental”. Para ele, a avaliação coletiva é ainda mais importante, pois o processo ocorre de maneira gradativa, passando pelas equipes de pesquisa, pelos departamentos, depois os cursos de pós-graduação, pela rede e, finalmente, a instituição como um todo.
Ao final, o Acadêmico disse que é preciso potencializar o papel das sociedades científicas, pois são órgãos que devem participar da definição dos critérios. “Atualmente, presta-se mais atenção à quantidade do que à qualidade. Basta olharmos para as perguntas da avaliação que são feitas aos professores cientistas. Antes tínhamos Você faz pesquisa?, agora temos Você pretende descobrir o quê? ou Quantos trabalhos você já publicou este ano?”.
Continuando na discussão da qualidade x quantidade, o Acadêmico Leandro Helgueira, que tem experiência como assessor de agências científicas e trabalha no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), disse que muitos escolhem a qualidade, enquanto outros a quantidade com qualidade. “Como medir a qualidade de uma pesquisa científica? Sendo inovação, como medimos essa inovação? Sendo a forma como o resultado da pesquisa foi publicado/divulgado, precisamos identificar o tipo de publicação do pesquisador. Enfim, são várias perguntas dentro de outras”, esclareceu Helgueira, acrescentando que, de qualquer maneira, é essencial primar pela qualidade.
Em seguida, deu-se início ao debate entre todos os participantes. Foram destacados alguns pontos propositivos importantes para a avaliação. Em primeiro, a avaliação acadêmica, pois muitos concordaram que o tripé (ensino, pesquisa e extensão) deveria julgar a universidade, e não os pesquisadores. “Essa avaliação deve se centrar, especificamente, no cerne de nossas atividades. Não conseguimos ser excelentes em todas as três áreas”, disse o relator da mesa, Martín Cammarota.
Outro ponto considerado foi a avaliação da carreira científica, pois na maioria dos casos ela é essencialmente política. “Precisamos considerar a área na qual o pesquisador atua, em que ponto da carreira se encontra, entre outros fatores. Não há como comparar a atividade de uma pessoa já estabelecida no mercado com uma pessoa que está entrando”, continuou o relator.
Por último, levantou-se a questão da avaliação feita pelo CNPq e pela Capes. Muitos entraram em consenso quanto à avaliação de baixa qualidade praticada por essas instituições. “As agências de fomento reconhecem sua incapacidade de nos avaliar. O volume de trabalhos é muito grande, o que prejudica a qualidade da avaliação. Estamos de acordo em propor que elas deem preferência à qualidade e não à quantidade”, finalizou o Acadêmico.
Assista ao vídeo com o relatório da Mesa Critérios da Avaliação Acadêmica.