Bactérias, óxidos encontrados na indústrias, diesel de escapamento do ônibus, cinzas de vulcão. Todos agridem os pulmões, podendo infiltrar ali substâncias que perduram por anos, embora cada qual assuma um caminho até finalmente tornarem-se doenças respiratórias. Um grupo de pesquisas da UFRJ pôs a lupa sobre algumas dessas rotas e já prepara novos anti-inflamatórios para fechá-las. Suas primeiras conclusões serão apresentadas hoje na 26ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), no Centro do Rio. “Queremos entender o caminho das lesões e bloqueá-los, para que elas não progridam”, explicou o Acadêmico Walter Araujo Zin, pesquisador do Laboratório de Fisiologia da Respiração do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ). “Novas moléculas estão sendo desenvolvidas e vão gerar mais drogas para o mercado”.
Um dos medicamentos em fase de elaboração já tem duas pré-patentes e está sendo submetido a um exame de toxicidade. Zin acredita que, quando aprovado, poderá vir daí um novo coquetel. Seu uso seria eficiente para algumas vias de inflamações. Não há remédio que possa proteger o organismo de todas as formas de contaminação, pois elas são diversas demais, como mostram os numerosos materiais analisados pelos pesquisadores da UFRJ. “Poluição é qualquer agente estranho ao organismo, podendo ser químico, físico ou biológico. A composição de cada um é, naturalmente, diferente. Nosso objetivo não é fazer um ranking de periculosidade, mas, quanto maior for o leque de substâncias conhecidas, maior poderá será a chance de produzirmos novos anti-inflamatórios”, ressaltou o pesquisador.
O Campo pode ser tão poluído quanto a cidade
A poluição urbana é velha conhecida dos acadêmicos. Há um ano e meio o grupo de Zin coleta partículas nocivas aos pulmões na Ilha do Fundão, enquanto outro grupo captura material semelhante no Túnel Rebouças e na Avenida Brasil. A interação entre esses agentes poluentes e doenças, como a asma, está sendo estudada por Zin. Em São Paulo, alguns trabalhos já mostram que, no dia seguinte a um pico de poluição, aumenta o número de atendimentos em unidades de pronto-socorro. “Um epidemiologista pode analisar os dados coletados, como a quantidade de poluição de determinadas áreas da cidade, e calcular os anos de vida perdidos por quem está exposto àquele material. O custo que isso representa ao sistema de saúde é analisado inclusive por economistas”, alertou.
Poucos sabem, porém, que o campo pode ser tão perigoso quanto a cidade. Ao realizar a captura de poluentes em Araraquara, no interior de São Paulo, em período de queima de caça-de-açúcar, Zin percebeu que aquele ambiente era tão contaminado quanto o ar da metrópole paulistana. “A queima da biomassa é um fator poluente que deve ser levado em consideração. Incêndios em florestas e cinzas de vulcões também produzem substâncias que, quando inaladas, geram doenças respiratórias”, informou.
Se venta quando alguém passa um arado na terra, aquele solo pode perder seus nutrientes e ainda liberar o dióxido de silício, um dos principais poluentes atmosféricos. “Ir da cidade para o campo não significa necessariamente respirar um ar mais puro. Há, na verdade, diversas recomendações que costumam ser ignoradas, seja pelo trabalhador do campo ou da cidade. Não é comum ver pintores com máscaras de proteção, por exemplo. Motoristas também deveriam prestar atenção na combustão do motor e na qualidade do combustível que usam no carro”, concluiu.