Nascido em Lima, Peru, em 1978, Alexander Arbieto se mudou para o Brasil aos cinco anos com a família, porque o pai veio cursar o mestrado em Matemática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Depois de concluída essa etapa, seu pai foi aceito para o doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e a família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu sua irmã.
Alexander gostava de jogar basquete, mas no Brasil vigorava o futebol. Voltou-se então para o pingue-pongue e o totó. Era um menino que gostava de ler e tinha especial interesse em videogames e em animação japonesa – os animes, dos quais gosta até hoje. Sempre se interessou por Matemática: com o apoio da mãe, comprava livros escolares de séries mais avançadas, que “consumia” como entretenimento.
A força da vocação
Ainda no ensino fundamental, Alexander descobriu alguns livros de cálculo e começou a aprender por sua conta a derivar e integrar funções, resolver equações diferenciais, sem muito rigor. Mas, quando tinha 12 ou 13 anos, registrou um fato decisivo para sua futura escolha de carreira. Um dia, foi procurar seu pai no IMPA e, tentando encontrá-lo através dos vidros das portas das salas de aula, viu num quadro-negro algumas derivadas e integrais, que lhe chamaram a atenção. Conta que pensou: “Ah! Então é aqui que ensinam aquelas coisas!” E acabou entrando na sala de aula.
Evidentemente não entendeu nada, pois era um curso de verão chamado “Análise na reta”, que tratava do cálculo com todo o rigor matemático. Mas o que entendeu da aula e o fascinou foi o fato de lá existir uma certa “busca pela verdade”. “Lembro que o professor se esforçava muito em alertar os alunos sobre certos argumentos que poderiam estar errados e levar a afirmações falsas. De fato, foi a primeira vez que ouvi o termo contra-exemplo”, relata Arbieto.
O menino se informou sobre a próxima edição do curso de verão e decidiu que no ano seguinte iria cursá-lo. Comprou então o livro adotado – do Acadêmico Elon Lages Lima – e tentou entendê-lo, sem muito sucesso. Mesmo assim, no ano seguinte, assistiu às aulas “e tudo aquilo foi se desmistificando”, recorda Arbieto. “No final, consegui aprovação no curso com conceito C”.
A partir dali, comprou mais livros da Sociedade Brasileira de Matemática e pretendia cursar mais disciplinas no IMPA. Porém, o pai foi contratado como professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a família se mudou para Florianópolis. Embora continuasse a estudar Matemática, de modo desordenado, sozinho, acabou dispersando sua atenção.
Embora o pai fosse matemático, Alexander nunca se sentiu pressionado a seguir a mesma carreira, até porque as conversas familiares raramente envolviam a Matemática. De fato, quando estava para prestar vestibular, ficou tentado a seguir a carreira de DJ em festas, com o que trabalhava então. Mas o gosto pela Matemática falou mais alto e quando fez o vestibular já tinha um plano traçado: queria fazer mestrado e doutorado em Matemática e aprender melhor o conteúdo daqueles livros, embora não tivesse ainda a noção do que era pesquisa. Mesmo assim, já na graduação cursada na UFSC, voltou a frequentar os cursos de verão do IMPA, onde foi solidificando sua formação.
Vocação e talento também requerem esforço
Arbieto cursou o bacharelado em Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), junto com o mestrado e o doutorado no IMPA. Completou pós-doutorado pela UFRJ, onde atualmente é Professor Adjunto.
Na graduação, Arbieto conta que, de certa forma, ainda encarava a Matemática como “uma coisa divertida” – até o curso de Teoria da Medida com o Acadêmico Claudio Landim. O curso era bem pesado, diferente dos outros cursos em que ele ia razoavelmente bem, sem muito esforço. Ficou apenas na média na primeira prova, o que o forçou – pela primeira vez – a estudar por horas e horas, até tarde, mesmo nos fins de semana e, mesmo assim, conseguir com custo passar com conceito B.
Ainda assim, recebeu convite do IMPA para cursar o mestrado. Mas recusou. “O fato de ter me matado de estudar e não ter obtido um A me fez repensar o que era ser matemático. E isto foi decisivo para mim, pois a partir daí vi a Matemática com outros olhos: um misto de trabalho muito árduo com o prazer de aprender argumentos e teorias belíssimas.”
As parcerias
No ano seguinte, Arbieto foi aceito no Programa de mestrado do IMPA, trancou a graduação em Florianópolis e voltou para o Rio de Janeiro, dessa vez já com um modo de estudar organizado. Conheceu o colega Carlos Matheus Silva Santos no mestrado -, na época, um menino de 13 anos que tinha sido aceito no Programa. Fizeram diversas disciplinas juntos, bem como seminários extras para aprender outras teorias que não eram ensinadas nas disciplinas oficiais do IMPA e publicaram diversos artigos em conjunto. Com tudo isso, construíram uma grande amizade. “Fui um de seus padrinhos de casamento”, conta Arbieto.
O pesquisador também considera fundamental o apoio do seu orientador, o Acadêmico Marcelo Viana. Ao mesmo tempo em que aprendia muito sobre Sistemas Dinâmicos com Viana, especialista na área, Arbieto também ficava livre o suficiente para estudar e trabalhar em outras áreas, como Geometria e Equações Diferenciais Parciais. “Sou muito grato a ele, que até hoje me dá muito incentivo e apoio.”
Arbieto também escreveu diversos artigos com seus colegas de doutorado, como os Acadêmicos Jairo Bochi, Krerley Oliveira e Adán Corcho, além de Fernando Codá Marques, que se tornaram bons amigos.
A área de pesquisa
Uma das coisas que lhe agrada muito em Sistemas Dinâmicos é a flexibilidade de aplicações da teoria. Ela estuda, de forma abstrata, qualquer fenômeno que evolua com o tempo. Em geral, fenômenos da natureza que evoluem com o tempo acabam sendo modelados por equações diferenciais ou mesmo interações de aplicações.
“Por exemplo, a evolução do número de habitantes de duas espécies que competem entre si, conforme o tempo vai passando, é modelada pelas chamadas equações de Lotka-Volterra. Um modelo simplificado para entender a previsão do tempo recai nas chamadas equações de Lorenz”, exemplifica o pesquisador.
Diversos fenômenos em diversas áreas – Química, Física, Biologia, etc. -, então, são modelados por alguma equação diferencial. “O que estudamos são as propriedades que tais equações possuem. Ou seja, não inferimos sobre o fenômeno em si, apenas analisamos as propriedades das equações que depois irão se traduzir em propriedades do fenômeno pelo pesquisador da área”, explica o matemático.
O que caracteriza um bom cientista?
Na visão de Arbieto, um cientista deve ser motivado pela curiosidade de entender os fenômenos que ele estuda. Deve fazer diversas perguntas e – o mais importante – buscar respondê-las. “Sempre pergunto a meus estudantes se eles estão se divertindo com as coisas que estudam, se vêem a beleza do assunto, se ficam felizes quando descobrem mais uma técnica ou teorema decisivo no tema que trabalham.”
Ele explica que dentro da Matemática existem muitos “pensar” diferentes, exigidos pela teoria. “Os argumentos e modos de pensar em Álgebra, por exemplo, são um tanto diferentes do que em Geometria Diferencial. Ajudar o estudante a se encontrar nessa quantidade de subáreas é importante.”
Mostrar ao aluno o comprometimento com a ciência é também uma responsabilidade do bom cientista. “Paciência e perseverança, esforço e dedicação… são palavras meio óbvias, mas já vi diversos estudantes que têm dificuldade de por em prática tais obviedades. Há que alertá-los desde cedo”, destaca Arbieto. “Temos que mostrar que, no fim, não cansa tanto, tudo é amenizado pelo gosto pela pesquisa.”
Quanto à indicação para Membro Afiliado da ABC, Arbieto considerou-a muito motivadora. “Foi importante saber que meu trabalho vem sendo apreciado. Também acredito que essa motivação se propaga para os meus alunos e para minha instituição, a UFRJ”. Declarou não saber ainda bem como contribuir para com a ABC, mas avalia que ter contato com os Acadêmicos de outras áreas, aprender sobre os problemas com que tratam e conhecer suas propridades vai abrir seu campo de visão. “Também acho que neste contato com a ABC eu possa ajudar a disseminar mais a Ciência em grupos diversos.”