Considerado a maior autoridade brasileira em Medicina Tropical, Aluízio Rosa Prata morreu na última sexta-feira, 13 de maio, aos 91 anos. Seu corpo foi velado na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), de onde partiu o féretro rumo ao Cemitério São João Batista, em Uberaba (MG).

Veja abaixo matéria publicada nas Notícias da ABC em 2008, contando sua história, à qual foram acrescentados dados recentes, publicados no Boletim da Faperj:

Aluízio Rosa Prata nasceu em 1º de junho de 1920, em Uberaba, Minas Gerais, numa família de fazendeiros, sendo o mais velho de seis irmãos. Criado na fazenda, aos oito anos foi encaminhado para o colégio interno – o Colégio Marista -, que tinha uma disciplina muito rígida. “Eu sofri muito, tinha que acordar cedo, tomar banho frio, antes eu vivia solto lá na fazenda”, conta Aluízio.

No início ele não era bom aluno, não gostava, não estudava. Mas com o tempo foi vendo que ia ter que ter uma profissão, mudar, ia ter que dar um rumo para a vida. Quando terminou o ginásio conversou muito com um parente do Rio de Janeiro, que lhe apresentou diversas opções, e lá se foi Aluízio, com 17 anos, para o Rio de Janeiro. “Tive um choque muito grande, a vida no Rio era muito diferente, tinha saudade de casa”, confessa o pesquisador.

Ele conta que de início, via os amigos do seu tio, profissionais bem sucedidos, alguns médicos, mas não achava que tivesse muita vocação pra Medicina, que pudesse ser igual a eles. E se preocupava em apresentar algum retorno, alguma justificativa para estar no Rio de Janeiro, pois seu pai não era muito rico, mas lhe mandava religiosamente uma mesada. “Meu pai dava muito apoio para tudo que a gente queria fazer, quando eu fui embora ele disse pra eu experimentar seis meses, e que voltasse se não desse certo.”

Fazia o Colégio Universitário, para entrar na universidade, ainda sem saber o que cursar. Com o tempo, porém, foi tomando gosto pelo estudo, e quando decidiu entrar para Medicina foi logo que pôde para o pronto socorro, para a parte prática. “Já estava disposto a estudar bastante, vi que eu era capaz.”

No Rio trabalhou em vários hospitais, já tinha gosto pelo estudo e pensava em se dedicar mais às doenças do Brasil, como a esquistossomose e a doença de Chagas. “Eu já estava formado, clinicava na Marinha, já tinha feito concurso, e pesquisava ao mesmo tempo. Conversava muito com pessoas que tinham voltado de Mato Grosso e achei que seria um lugar interessante para começar a vida. Fiz o concurso e fui para Ladário, em Corumbá.”

Aluízio estudava muito, assinava 15 revistas médicas internacionais, estava sempre se atualizando e foi se dedicando cada vez mais às doenças infecciosas. “Lá tinha muita sífilis e eu me dediquei bastante a isso. Mas fiquei lá só dois anos, era ruim demais. Um calor insuportável, os outros médicos muito competitivos com quem vinha do Rio, enfim, vi que lá não ia ter muita oportunidade”, concluiu o ousado pioneiro.

Conseguiu ser transferido de volta para o Rio de Janeiro, montou um consultório e clinicava em três hospitais. Conheceu então os irmãos José e Hélio Pellegrino, médicos mineiros como ele, que gostavam de fazer pesquisa, e se interessou pela área. “Achei que eu deveria sair do Rio e achar um lugar que tivesse mais condições de estudar o que me interessava. Estava entre amebíase, onde o forte era no Pará, e esquistossomose, forte na Bahia, que foi para onde eu decidi ir”, recorda Prata. E lá ele descobriu do que realmente gostava.

“Quando cheguei na Bahia, vi que o pessoal não gostava de trabalhar com esquistossomose porque tinha muito, eles gostavam de doenças raras. Então eu me envolvi e me tornei representante da Bahia em diversas reuniões nacionais sobre esquistossomose.” Ele mesmo fazia os exames de fezes, já tinha então 150 doentes e vários resultados. Foi representar a Bahia numa reunião em São Paulo, e lá se abriu um outro mundo para ele. “Eu conheci lá os melhores profissionais do Brasil que trabalhavam com esquistossomose, o único fraco era eu. E eu decidi que ia chegar lá também. Foram dois dias com eles lá e então eu vi que era isso que eu queria da minha vida”, contou Prata.

O médico trabalhou muitos anos na Bahia, outros tantos em Brasília, e depois voltou para Uberaba. Tornou-se professor catedrático de Doenças Tropicais e Infecciosas e fundou diversos centros de pesquisa e cursos de pós-graduação na área, em todos os estados em que trabalhou. Joje, é considerado o decano da Medicina Tropical no Brasil.

Realizações profissionais

Aluízio Rosa Prata foi catedrático e livre docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), titular da Universidade Nacional de Brasília (UnB), titular e doutor honoris causa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Nas três universidades, foi responsável pela criação de grandes escolas de tropicalistas no país.

Foi membro das Academias Mineira e Brasileira de Medicina, além de ter sido membro de diversas comissões da Organização Mundial de Saúde, da Organização Panamericana de Saúde e dos Ministérios da Saúde e Educação. Representou o Brasil na Unesco em sua área. Foi editor de diversas revistas científicas especializadas e fundou a Sociedade Latino Americana de Medicina Tropical (SBMT). Publicou mais de 530 trabalhos científicos e orientou mais de 50 teses de mestrado e de doutorado ao longo de sua vida.

Entre outros prêmios e homenagens, Aluízio Prata recebeu a Comenda da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores (1974), o Prêmio Alfred Jurzykovski da Academia Nacional de Medicina (1980), a Medalha Capes 50 anos (2001), a Medalha da Ordem do Grande Mérito da Saúde do Governo do Estado de Minas Gerais (2002) e, no mesmo ano, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico do Presidente da República do Brasil. Na Inglaterra, foi laureado pela Royal Society of Tropical Medicine.

O professor era casado com Martha Toubes Prata, com quem teve três filhos: Aluízio Prata Júnior, professor da Universidade da Califórnia; Álvaro Toubes Prata, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina; e a educadora Martha Toubes Prata.

A Diretoria da ABC cumprimenta a família e lamenta a perda de tão ilustre Membro.