O ecólogo Ernesto González, do Instituto de Biologia Experimental da Universidade Central da Venezuela, falou sobre o estado da arte das águas da Venezuela e apresentou estudos de caso.

O pesquisador informou que o país tem mais de 100 reservatórios de água, construídos com diferentes propósitos. “Alguns se destinam à água potável e ao fornecimento industrial, outros servem para irrigação, controle de inundações, recreação e produção de energia hidrelétrica”. As atividades humanas nessas bacias, porém, causaram problemas de eutrofização, que é o aumento do processo natural da produção biológica em ambientes aquáticos causado pela elevação dos níveis de nutrientes como fósforo e nitrogênio. A eutrofização pode resultar no aumento visível de algas como cianobactérias tóxicas ou proliferação de outras algas, ou ainda infestação de plantas aquáticas flutuantes ou submersas.

Bons resultados na melhoria das águas

González apresentou algumas práticas bem sucedidas em seu país que contribuíram para melhorar o acesso da população à água e para melhorar a qualidade da água nos reservatórios. Contou que o Ministério do Ambiente investiu grandes quantias para recuperar a água deles, assim como investiu muito tempo na organização das comunidades, capacitando seus membros para proteger seus recursos naturais. González destacou a criação das mesas-redondas técnicas para problemas hídricos nas comunidades, para encorajar a população a se envolver em ações que melhorem sua qualidade de vida. O despejo do esgoto in natura nos reservatórios foi proibido.

No reservatório da Mariposa, por exemplo, um dos maiores mananciais da região, se faz necessária a retirada anual das algas, continuamente, assim como o controle da qualidade da água. Outro caso é o do reservatório de Pao-Cachinche, no qual a desestratificação artificial foi a solução encontrada para controlar a eutrofização, que é um fenômeno causado pela cobertura das águas por algas, resultantes do excesso de nutrientes oriundo dos esgotos e responsável pela mortandade de peixes, dada a falta de oxigênio pelo abafamento da superfície.

Para González, Pão-Cachinche foi o primeiro caso de sucesso em tratamento da água por desestratificação artificial, contando que o processo levou um ano em operação contínua até obter resultado positivo. Esse processo se dá através da aeração da coluna da água com aeradores de fundo, misturando a água do fundo do viveiro com a de cima o que provoca a incorporação de oxigênio da atmosfera e a expulsão dos gases tóxicos, se houver. O pesquisador considerou esse caso como um bom exemplo de interação entre cientistas e planejadores, companhias de água e universidades, em prol da qualidade da água potável destinada à população.

“Continuamos tendo problemas, mas esses casos nos mostraram que com o estabelecimento de padrões regulatórios adequados e o envolvimento e participação popular, podemos enfrentá-los e resolvê-los”, concluiu o cientista.