Organizado pela Vice-Presidência Regional Norte da ABC, em parceria com o Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais (Ipepatro/Fiocruz), o evento Ciência, Tecnologia e Inovação na Amazônia foi realizado no dia 15 de julho de 2010, em Porto Velho. Diversas autoridades ligadas a universidades, institutos de pesquisa e fundações de amparo à pesquisa da Região Norte se fizeram representar, em apoio ao movimento pela criação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de Rondônia. Representantes das FAPs do Amazonas, do Acre, do Mato Grosso, do Maranhão e do Pará apresentaram na reunião dados sobre suas instituições e os expressivos resultados alcançados desde que foram criadas.

A iniciativa do evento partiu do Acadêmico Luiz Hildebrando Pereira da Silva, médico, doutor em parasitologia com pós-doutorado pelo Instituto Pasteur, onde trabalhou por mais de 30 anos. Desde 1997 Hildebrando atua em Rondônia, onde fundou o Ipepatro, que este ano passou a fazer parte da rede Fiocruz. Hildebrando contou com o apoio significativo do membro afiliado da ABC Rodrigo Stábeli, doutor em Bioquímica, ex-diretor de Pesquisa e Inovação do Ipepatro, diretor executivo da Fundação Oswaldo Cruz – Unidade de Rondônia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Na mesa de abertura do evento estavam, além de Hildebrando, o presidente da ABC Jacob Palis e o reitor da UNIR, José Januário de Oliveira Amaral. Palis abriu o evento agradecendo a Hildebrando pela sua organização e reconhecendo o pesquisador como “o grande símbolo da ciência no norte do Brasil”. Expressou o especial apreço da ABC pela Amazônia. “Não fazemos mais do que a nossa obrigação. Defendemos um tese simples e poderosa, identificando a competência local em ciência e tecnologia (C&T) como a ferramenta fundamental para o desenvolvimento sustentável, justo tanto com as populações locais como com o meio ambiente.”


Marcos Cortesão, Jacob Palis, Luiz Hildebrando Pereira, José Januário Amaral e Rodrigo Stábeli

Na visão de Palis, os dirigentes nacionais têm respondido cada vez melhor a essa tese. “A adesão dos presidentes das FAPs locais, com quem estamos aprendendo muito e que têm sido muito receptivos às nossas propostas, fortaleceu a campanha liderada pelo Prof. Hildebrando de trazer para Rondônia instrumentos de capacitação em C&T”.

O presidente da ABC destacou que as FAPs estaduais, instituições com perfil moderno, são fundamentais para promover esse desenvolvimento. “Cada estado deve definir as suas prioridades. Se é um estado que tem uma costa marinha, vai priorizar a Oceanografia, a Biologia Marinha e assim por diante. Mas a Matemática, por exemplo, também tem que ser contemplada, pois é a base do desenvolvimento do raciocínio lógico e da modelagem, esta sendo fundamental para as Ciências do Mar.”

Hildebrando reforçou a importância da ciência amazônica ter foco em setores estratégicos para o desenvolvimento regional e a inovação. “A ABC tem esse papel fundamental, de ajudar a definir prioridades através das vice-presidências regionais, organizando encontros com especialistas da academia e com políticos”. Palis concordou, afirmando que a ABC aceita o desafio de contribuir para essas definições de prioridades.

Ele destacou outro papel fundamental das FAPs na atração e fixação de doutores na região Norte. “Para atingir esse objetivo é preciso oferecer uma diferenciação salarial. Isso não se consegue em nível federal, cuja política tende a ser igualitária. Mas se o pesquisador já foi avaliado, considerado qualificado e recebe uma bolsa de produtividade do CNPq, a FAP pode oferecer uma bolsa complementar, fazendo a diferença.”

O membro afiliado da ABC Rodrigo Stábeli, diretor da Fundação Fiocruz Noroeste, defendeu a micro regionalização das ações federais. “Os 30% a mais previstos nessas ações para os estados das regiões mais carentes são um grande apoio para o Amazonas, o Pará e o Ceará, por exemplo. Mas para Rondônia e outros estados que não têm sustentabilidade em CT&I, não chegam a ter significado”. Ele relatou que Rondônia não pode participar de diversos editais pelo fato de não ter uma FAP que possa aportar recursos de contrapartida. “Isso pesa com relação à inovação”. Stábeli ressaltou ainda a necessidade de que a ABC e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) atuem juntas para movimentar as bancadas políticas, no sentido de olharem as dificuldades dos estados que não tem Fundações de Amparo à Pesquisa.

O que falta para implantar uma FAP em Rondônia?

A Fundação de Amparo à Pesquisa de Rondônia (Fapero) já está criada na legislação, inclusive com fonte de recursos prevista. O que falta, segundo Hildebrando, é vontade política por parte do governo do estado para implantá-la. O reitor da UNIR, José Januário, acredita que com Hildebrando à frente, a FAP pode finalmente tornar-se uma realidade. Januário destacou a importância de sensibilização da bancada estadual, considerando muito positivo para esse fim o apoio da ABC e da SBPC. “Precisávamos ter deputados estaduais aqui para ver essas apresentações”, comentou o reitor.

Luiz Hildebrando lembrou que já foi feita uma reunião com autoridades do CNPq e da Capes, que chegou a ser notícia na TV local. Informou que a reunião estava sendo filmada e que o vídeo produzido será enviado a todos os candidatos a presidente e a outras personalidades que já estão apoiando ou possam vir a apoiar a implementação da Fapero. Para Roberto Sena Rocha, diretor do Centro de Pesquisa Leonidas e Maria Deane, da Fiocruz do Amazonas, tudo já foi dito, pensado e acordado. “Agora é fazer. O grupo de fora do estado poderia manifestar explicitamente, numa carta ou algo assim, seu apoio à criação da Fapero, o que seria uma grande contribuição, teria peso”. O reitor José Januário, coordenador da reunião, ressaltou sua expectativa de que num próximo encontro já se possa contar com um representante da Fundação de Amparo à Pesquisa de Rondônia.

Participaram das discussões o diretor do Instituto Federal de Rondônia , Artur Moret; o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Carlos Edilson de Almeida Maneschy; o reitor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), José Carlos Tavares Carvalho; Carlos Eduardo de Souza Gonçalves, reitor em exercício da Universidade do Estado do Amazonas (UEA); José Luiz de Souza Pio, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UEA; Selma Suely Baçal de Oliveira, pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); o pró-reitor de Pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Adnauer Tarquínio Daltro; Nilson Gabas Jr, diretor do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG); Edilson Soares, assessor da Presidência da Fapeam; e Marcos Cortesão, assessor da presidência da ABC.