Filho de professores universitários, Hamilton Varela já tinha em casa o incentivo pela busca do conhecimento. Nascido em Natal, suas brincadeiras com formigas e maceração de folhas de árvore com álcool prenunciavam o caminho que viria a trilhar. “Sempre me interessei muito por esse tipo de investigação”, revela, “fez parte do meu universo infantil”.

Não foi surpresa, portanto, quando Hamilton optou pelo curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A atividade de pesquisa começou já no segundo ano, quando entrou para a iniciação científica no Departamento de Química, e se manteve até 1998, quando se formou. “Depois surgiu uma oportunidade de ir para um dos melhores centros de Eletroquímica do Brasil no Instituto de Química de São Carlos, da USP”, conta. Varela ficou dois anos por lá, fez seu mestrado e foi para o Instituto Fritz Harber da Sociedade Max Planck em Berlim, onde cursou o doutorado. “Trabalhei no departamento de Gerhard Ertl, o Prêmio Nobel 2007 de Química”.

Em seguida, passou um período na Universidade Técnica de Munique, onde cursou um pós-doutorado e finalmente voltou ao Brasil, através do programa “Jovem Pesquisador” da FAPESP. Atualmente professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo, Varela não abandonou a pesquisa e comemora uma conquista recente. “Fundamos um centro na Coreia do Sul chamado Ertl Center, onde trabalham cerca de vinte pesquisadores de diversos países”. “Sou o único da América Latina”, complementa.

Varela interessa-se por sistemas complexos e pesquisa as reações químicas oscilantes. “Eu misturo três substâncias que ao invés de reagirem e se estabilizarem, se mantêm em constante oscilação”, explica. Tal característica encontrada na Química se repete em sistemas vivos, o que atraiu a inclinação interdisciplinar do engenheiro, que tem especial interesse pela Física e pela Biologia. “Embora seja muito difícil isolar um sistema vivo, interesso-me muito por analisar sistemas biológicos mais complexos que possam nos ajudar a entender o comportamento biológico real”, explica o cientista.

Adicionalmente aos sistemas complexos, Varela também se dedica à eletrocatálise, principalmente com foco na área de energias alternativas, como o desenvolvimento de células combustíveis. “É um dispositivo eletroquímico de alta eficiência que converte energia química de combustíveis como o etanol em energia elétrica limpa”, explica. E há muitas outras perspectivas de uso. “Imaginar um motor elétrico que funciona à base de hidrogênio e oxigênio e tem a água como único dejeto anima bastante. Esse conceito já foi usado até no espaço, a água era inclusive bebida pelos tripulantes da nave”, conta o pesquisador.

Indicado para a Academia Brasileira de Ciências pelo Acadêmico Sérgio Mascarenhas, Hamilton Varela ficou muito lisonjeado com a indicação. “É certamente um incentivo a mais para eu continuar me aprofundando em minhas pesquisas”.