Como parte da Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência na América latina e Caribe 2009, realizada na ABC entre 30/11 e 3/12/2009, o Acadêmico Fernando Galembeck coordenou o simpósio sobre Ciências Químicas no Brasil.
Galembeck apresentou os palestrantes Ruben Dario Sinisterra, da UFMG, e Cláudio José Motta, da UFRJ, destacando o fato de serem autores principais de artigos publicados na revista de Química de maior impacto, no último ano, ao mesmo tempo em que têm um importante envolvimento com P&D conjunta com empresas. “Portanto, os palestrantes ilustram muito bem uma importante característica das Ciências Químicas no Brasil, que é a coexistência da criação científica de fronteira com a sua aplicação, com benefícios econômicos, sociais e estratégicos para o país”, destacou o Acadêmico.
Ruben Sinisterra, Cláudio Motta e Fernando Galembeck
Novas formas de administração de medicamentos
Ruben Sinisterra mostrou como a inserção de fármacos em vários tipos de arranjos supramoleculares e nano-estruturas produz novas formas de administração de medicamentos que superam limitações e barreiras químicas, físicas e temporais à plena manifestação das propriedades do fármaco.
Apresentou as bases teóricas e experimentais de controle da solubilidade do antidepressivo imipramina, através da sua associação à ciclodextrina, formando complexos que se agregam de forma controlada. A beta-ciclodextrina também se mostrou útil ao aumentar a ação hipotensiva de diocleína, um flavonóide, aumentando sua biodisponibilidade e viabilizando sua administração oral. Além desses exemplos, destacou a angiotensina formulada para administração oral , que mostrou efeito antitrombótico e cardioprotetor em ratos infartados e tratados com isoproterenol.
Sinisterra também descreveu a sua atuação junto ao núcleo de informação tecnológica da UFMG, especialmente quanto à interação com empresas e ao aproveitamento econômico dos resultados da pesquisa, enfatizando o significativo retorno financeiro que tem sido obtido pela universidade.
Energia e ambiente: catálise para a conversão de biomassa
Claudio Mota falou sobre o tema de energia e ambiente, tendo como foco a catálise para a conversão de biomassa. Inicialmente, ele fez um breve relato sobre os problemas climáticos atuais causados pelo uso de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo. Em seguida, fez uma breve explanação sobre a importância da catálise para a industria química, sobretudo em processos de refino de petróleo, petroquímica e, mais recentemente, na produção de biocombustíveis.
Mota comentou então sobre os estudos que tem realizado sobre a química de zeólitas, um dos principais catalisadores industriais utilizados atualmente, dando ênfase ao entendimento do processo catalítico em nível molecular. Concluiu mostrando alguns de seus estudos mais recentes sobre o aproveitamento da glicerina de produção de biodiesel, destacando o processo desenvolvido em parceria com a Quattor Petroquímica para a produção de propeno, importante insumo para produção de plásticos e que, atualmente, é produzido a partir de fontes fósseis.
Um novo modelo de eletrização de sólidos isolantes
O Acadêmico Fernando Galembeck apresentou um novo modelo de eletrização de sólidos isolantes, seus antecedentes e a verificação experimental de hipóteses baseadas neste modelo. Apresentou inicialmente declarações de pesquisadores destacados afirmando o atual estado de atraso da Eletrostática, se comparada a outras áreas das ciências da matéria, que é atribuído ao desconhecimento atual sobre a natureza das espécies responsáveis pela eletrização estática em isolantes.
Resenhando resultados do seu grupo, Galembeck apresentou evidências experimentais da partícipação de íons na eletrização de isolantes orgânicos e inorgânicos, destacando os íons derivados da água atmosférica. Descreveu então um teste crucial e recente, no qual o padrão de eletrização de sílica e de fosfato de alumínio foi modificado, dentro de um ambiente blindado e aterrado eletricamente, pela simples mudança na umidade atmosférica.
Galembeck concluiu sua palestra afirmando que o domínio dos fenômenos eletrostáticos deve permitir a criação de novos dispositivos e materiais, podendo contribuir para o surgimento de técnicas que viabilizem a captação da eletricidade atmosférica.