Taís Gratieri nasceu em 1983, na cidade de Alfenas, no estado de Minas Gerais. Até os sete anos, morou em Monte Belo, onde levou uma infância típica de cidade pequena, brincando nas casas das amigas e assistindo televisão. Em seguida, seus pais se mudaram para Guaxupé, cidade mineira com 50 mil habitantes, para que a menina pudesse ter um ensino melhor e mais oportunidades – e foi um excelente investimento.

Sobre a escolha do magistério como carreira, a decisão de Taís não foi uma surpresa. Os exemplos da Acadêmica estavam dentro de casa: o pai trabalhava como técnico agrícola durante o dia e, à noite, dava aulas de biologia no ensino básico, segmento em que a mãe também atuava, dando aulas de português. Filha única, ela relembra que muitas vezes seus pais não tinham quem cuidasse dela à noite e, com isso, ela acabava os acompanhando nas aulas – momentos que criaram memórias inesquecíveis. “Eu era pequena essa época, mas tenho a nítida lembrança de ficar sentada na última carteira da sala assistindo a aula de biologia do meu pai.” Foi nessas ocasiões, especialmente nas aulas experimentais, que o interesse de Taís pela ciência aflorou.

Nesse ambiente, Taís Gratieri cresceu achando a ciência “uma coisa linda”. Isso influenciou sua visão de mundo e foi um fator fundamental para que ela mantivesse o foco nos estudos, almejando sua própria independência no futuro. “A vida dos meus pais era muito difícil, de muito esforço e pouco retorno financeiro. Desde muito cedo eu sabia que tinha que estudar para passar no vestibular para uu8ma faculdade pública, pois pagar faculdade não seria uma opção. Então, cresci com a ideia de que, se eu quisesse ser alguma coisa, teria que estudar.”

Por conta das notas altas, medicina parecia ser o caminho mais provável para a jovem. Ela até considerou a carreira, mas seu medo ao ver sangue tornaria impossível exercer a profissão. Foi num churrasco que um conhecido lhe sugeriu o curso de farmácia industrial. “A ideia de ficar quietinha em um laboratório estudando me pareceu formidável. E pronto. Estava decidido”, contou Gratieri, que começou a estudar sobre o curso antes mesmo de ingressar no ensino médio. “Eu nem sabia que a área de atuação do farmacêutico ia além do trabalho em drogaria. Mas, ainda na oitava série, decidi que cursaria farmácia. Pesquisei sobre os melhores cursos e quais seriam minhas opções.”

E todo o planejamento deu certo: ainda no segundo ano do ensino médio, a Acadêmica foi aprovada na Universidade Estadual Paulista (Unesp); porém, seu sonho era obter um diploma da Universidade de São Paulo (USP), onde foi aprovada no ano seguinte, em segundo lugar. “Eu me lembro que os cinco primeiros colocados no vestibular tiveram um encontro com o reitor”, relatou Gratieri. “Ele me perguntou o

que eu queria fazer quando me formasse, quais eram minhas expectativas, e eu respondi: quero ser professora e pesquisadora.”

Desde o primeiro ano na faculdade, na iniciação científica, Gratieri fez pesquisa em farmacotécnica – área que nunca pensou em deixar. Por conta dessa experiência e de seu bom desempenho, foi aprovada para o doutorado direto na USP. “Terminei a graduação em dezembro e em janeiro do ano seguinte já estava no doutorado. Passei dez anos no mesmo laboratório”, ressaltou Taís. Em 2008, realizou seu primeiro sonho: morar na Alemanha, onde cursou o doutorado-sanduíche na Universidade de Saaland. Entre 2010 e 2012, fez um estágio de pós-doutorado na Universidade de Genebra, na Suíça. Até hoje, Taís Gratieri mantém colaborações científicas com ambas as instituições europeias.

Atualmente, Gratieri é professora associada da Universidade de Brasília (UnB) e coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da instituição. É uma das fundadoras e coordenadoras do Laboratório de Tecnologia dos Medicamentos Alimentos e Cosméticos (LTMAC) onde, além das pesquisas acadêmicas, atua em projetos de desenvolvimento de produtos tecnológicos em colaborações com indústrias farmacêuticas e cosméticas.

Em seu laboratório, a professora e seu grupo de pesquisa se dedicam ao desenvolvimento e à avaliação de tecnologias para administrar fármacos e ativos de forma tópica, ou seja, de maneira efetiva e não invasiva. Gratieri explica a metodologia: “Há doenças graves no olho, por exemplo que não têm como ser tratadas com colírios normais, o produto precisaria ser injetado no olho. Procuramos desenvolver colírios mais efetivos que os tradicionais, para que não seja preciso uma injeção. Nesse processo, desenvolvemos modelos de estudo, verificamos o que influencia a eficácia e vamos avançando no conhecimento.” Além disso, a Acadêmica utiliza modelos experimentais in vitro e ex vivo, alternativos ao uso de animais.

Sua excelência em pesquisa vem sendo comprovada pelos múltiplos prêmios que recebeu na última década: em 2012, o Prêmio Capes de Tese; em 2013, o Prêmio ABC-L’Oréal-Unesco Para Mulheres na Ciência; em 2016, o Prêmio UnB de Teses do Programa para tese de mestrado orientada. Para o futuro, ela tem um novo sonho: ser membro titular da ABC.

Tornar-se afiliada da ABC em 2022 serviu como impulso para Gratieri, que precisou lidar com grandes adversidades durante a pandemia. “Sinto que venho dos dois anos mais difíceis da minha carreira”, contou a pesquisador, que precisou trabalhar de casa e cuidar das filhas, sendo que a menor nasceu no fim de 2020. “Fazer ciência entre gritos e choros, noites mal dormidas, incertezas e cortes de verbas não tem sido fácil. Esse título, portanto, vem como um estímulo para continuar e me traz esperança de que teremos uma fase melhor à frente.”