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Sérgio Mascarenhas ministra Aula Magna no ICMC da USP

No dia 28 de março de 2012, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP em São Carlos, realizou no auditório Pau-Brasil a premiação dos melhores alunos formados em 2011 nos cursos de graduação, seguida pela Aula Magna ministrada pelo Prof. Dr. Sérgio Mascarenhas, um dos mais renomados pesquisadores da atualidade. O tema da aula foi “O Big Bang do Conhecimento: Dos Gregos ao Século XXI”.
 
A apresentação começou com dados históricos, usados para representar em detalhes a evolução do conhecimento, utilizando figuras de expressão dentro da filosofia antiga, como Heráclito, Parmênides e Demócrito, passando por outros pensadores conhecidos, dentre eles Sócrates, Platão, Aristóteles e Ptolomeu. Desta forma, Mascarenhas construiu uma viagem cronológica dos acontecimentos sociais que contribuíram para a formação da ciência moderna, ligando todos estes filósofos (e a própria filosofia) às ciências exatas, com principal destaque para a matemática. Assim, o palestrante deixou claro a necessidade da teoria para a prática científica e vice-versa.
 
“A teoria sem a prática é cega, mas a prática sem a teoria é completamente ignorante”, ressaltou Mascarenhas, utilizando uma das frases de Albert Einstein ao ligar os estudos aos trabalhos do ICMC. “Tenho uma admiração muito grande com este Instituto, o ICMC contribui bastante para a experimentação cientifica e, sem dúvida, é muito importante para a ciência”, conclui.
 
Ainda guiando os participantes pela história das ciências, o palestrante destacou a atuação de grandes matemáticos, como Leonardo Fibonacci, responsável por umas das maiores revoluções da matemática. “Fibonacci foi uma das figuras mais importante, pois foi ele quem introduziu o conceito dos números decimais, ampliando os estudos, já que os número romanos, utilizados até o momento, só permitiam contagem até o número 3999”, explica Mascarenhas.
 
A aula ainda abordou nomes como Copérnico, Galileu, Kepler, Descartes e Newton, além de discutir brevemente os conceitos da criação do universo, da geometria e alguns paradoxos, ressaltando a importância do surgimento da computação. Mas, alguns dos principais comentários ficaram para o final da aula, quando Sérgio Mascarenhas se posicionou a favor do que o físico C. P. Snow chamou de uma terceira cultura. “A sociedade sempre foi dividida entre humanidades e conhecimento científico, quando na verdade estas deveriam ser unidas e unirem também a arte”, comenta Mascarenhas.
 
Para ele, só desta forma o conhecimento será aproveitado da melhor forma. Ressaltou ainda que a tríade que envolve Governo, Universidade e Empresa para o desenvolvimento das pesquisas, conhecida como Triângulo de Sábato, não basta. “É necessário que haja um quarto item, a Gestão, pois não adiantaria nem um dos outros três, sem a organização destes”, explica Mascarenhas.
 
Para finalizar o evento, Mascerenhas trouxe um de seus alunos para realizar uma apresentação de malabarismo, demonstrando a capacidade e a complexidade do cérebro humano. Na oportunidade, o pesquisador ainda aproveitou para lançar um desafio. Ele propôs a criação de um prêmio para o aluno da área de Computação que seja capaz de produzir um robô malabarista.
 
Mais do que uma oportunidade de assistir a aula de um dos principais pesquisadores do país, os presentes puderam entrar em contato com a história das ciências e do próprio conhecimento humano, ampliando o modo de pensar de cada um.

Morre o Acadêmico Aziz AbSaber

Um dos maiores especialistas brasileiros em geografia física e referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas, Aziz AbSaber morreu hoje, aos 87 anos, de infarto.

Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, Presidente de Honra, ex-presidente e conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), AbSaber é autor de estudos e teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos naturais do Brasil.

Nascido em São Luís do Paraitinga, em 24 de outubro de 1924, AbSaber desenvolveu ao longo de sua extensa carreira de cientista centenas de pesquisas e tratados de significativa relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia. Ele foi presidente da SBPC de 1993 a 1995 e desenvolveu trabalhos no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) até ontem.

Um dia antes de morrer, o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, mesmo involuntariamente, ele entregou na tarde de ontem à secretaria da SBPC sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas.

“Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, diz AbSaber em sua dedicatória.

AbSaber morreu antes de ver publicada sua última obra que será o terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, a ser publicado pela SBPC.

O terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis” faz uma homenagem ao trabalho dos primeiros geógrafos no interior do Brasil, como José Veríssimo da Costa Pereira e Carlos Miguel, e às primeiras expedições de Candido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon (1865 a 1958). “Essa é uma homenagem a eles”, disse Aziz, em sua última entrevista ao Jornal da Ciência. O livro contempla também trabalhos sobre a cidade de São Paulo.

Prêmios – AbSaber, que também foi professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, recebeu diversas láureas, como o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005), e em ciências exatas (2007); o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia; a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001).

Código Florestal – AbSaber, em suas últimas declarações sobre o novo Código Florestal, criticou o texto por não considerar o zoneamento físico e ecológico de todo o País, como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Na ocasião, ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais.

Veja a reportagem do Jornal Nacional sobre o falecimento do geógrafo, com depoimento da presidente da SBPC, Helena Nader.

Brasil pode sediar primeira Olimpíada Educacional Internacional em 2016

A realização dos Jogos Olímpicos, em 2016, no Brasil, deverá deixar como legado ao País não só a infraestrutura que tem sido construída – e, espera-se, algumas medalhas da delegação brasileira – mas também um marco na educação científica mundial. Uma proposta pioneira para a criação da primeira Olimpíada Educacional Internacional foi apresentada, na última semana, aos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, que se entusiasmaram. Assinado pelo físico e professor do instituto de Estudos Avançados de São Carlos (USP), Sérgio Mascarenhas, e apoiada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), o projeto prevê que a primeira edição da competição aconteça paralelamente ao evento esportivo, com a mesma periodicidade.

“Trata-se de uma oportunidade imperdível e que poderá ter grande poder transformador para a humanidade”, explica Mascarenhas, que utilizou o próprio modelo dos Jogos Olímpicos tradicionais para idealizar a Olimpíada Educacional. Na proposta apresentada aos ministros e também à comunidade científica, o físico afirmou que a idéia é que as olimpíadas educacionais se revertam em recursos para a educação. “Ela dará retorno necessário não apenas para sua continuidade, mas também para adicionar recursos faltantes às atividades educacionais da humanidade”. O próximo passo agora será apresentar a proposta ao ministro Aldo Rebelo, dos Esportes, pois apesar de ser um evento educacional, terá como motor propulsor o evento esportivo.

A inspiração veio do próprio modelo da Olimpíada Esportiva, que, segundo Mascarenhas, gera importantes progressos sócio-econômicos, incorporando inovações científicas e tecnológicas em diversas áreas, como transmissões por satélites, logística, organizações bancárias, infraestrutura de turismo, defesa e construção civil e modelos de gestão. Assim como no esporte, poderão ainda ser criadas a Para-Olimpíada Educacional, para crianças com problemas de aprendizagem, e uma Olimpíada Educacional para Idosos, pensando na educação continuada.

Um importante fator que facilita a realização da competição científica é a existência de Olimpíadas isoladas de Computação, Robótica, Química, Física e outras áreas ligadas à inovação. Só a Olimpíada Brasileira de Matemática mobilizou, na última edição, mais de 18 milhões de estudantes.

Para o professor, que também foi o idealizador e primeiro reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), será uma oportunidade para se aproveitar todas as iniciativas já existentes e dar a elas um caráter global e interdisciplinar, adicionando nova gestão, planejamento estratégico e caráter empresarial. “Assim, após os eventos, serão deixados não apenas piscinas, estádios e hotéis, mas redes de Centros Olímpicos Educacionais e Museus de Ciências, onde serão preparados e realizados os eventos em cada país-sede”.

As etapas iniciais para a estruturação do evento são a constituição de um Comitê Olímpico Educacional Brasileiro (COEB), articulando ministérios da Educação, da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Esporte e das Relações Exteriores, em cooperação com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB); e a oficialização da Olimpíada Internacional Educacional pela Unesco e pela ONU. Além disso, seriam abertas licitações públicas para atividades empresariais de organização, exploração de produtos – como camisetas e bonés – e serviços necessários à organização.

Já as medidas legais e operacionais ficam a cargo da SBPC e da ABC, em parceria com o governo federal, que fornecerá os fundos iniciais necessários para a realização da primeira edição. Mascarenhas reforça também a importância de cativar grandes empresas para a viabilização do evento, por meio de patrocínios. Segundo o físico, grandes empresas, como Gerdau e Vale, podem lucrar com a iniciativa e ainda ajudar na criação de um fundo internacional para a educação.

“Além de corações, pulmões, membros, músculos, ossos e tendões, necessários aos esportes, o cérebro humano é o mais nobre atributo para a criação, através do processo educação-aprendizagem e do conhecimento universal”, conclui Mascarenhas.

Falece Wladimir Lobato Paraense, aos 97 anos

Wladimir Lobato Paraense nasceu em 16 de novembro de 1914 em Igarapé-Mirim (PA). Médico formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará e pela Faculdade de Medicina de Pernambuco, ele se especializou em anatomia patológica na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

O médico entrou para o Instituto Oswaldo Cruz em 1939 e em 1965 se tornou pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Suas pesquisas principais foram no campo da malacologia, ramo da biologia que estuda os moluscos. Ele foi responsável por identificar dez novas espécies de moluscos de água doce, entre os quais transmissores da esquistossomose.

Membro de 24 sociedades científicas no Brasil, nos Estados Unidos, na Inglaterra, Irlanda e Índia – inclusive a Academia Brasileira de Ciências -, Lobato foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1995. Dois anos depois, foi eleito o homem do ano pelo American Biographical Institute, dos EUA. Em 1982, recebeu o prêmio Golfinho de Ouro e, em 1985, o prêmio Oswaldo Cruz.

Um dos maiores cientistas brasileiros do século XX, teve atuação também nas salas de aula. Foi professor em universidades de São Paulo, Minas Gerais, Santa Maria (RS), na Universidad de Los Andes (Venezuela), na Nacional del Nordeste (Argentina), na Escuela de Salud Pública (México) e no Instituto de Medicina Tropical Pedro Kourí (Cuba).

Lobato morreu sábado, aos 97 anos, devido a complicações depois de uma queda em casa. Ele deixa mulher e filha. A Academia lamenta profundamente essa perda e se solidariza com a família.

Brasil desenvolve método não invasivo para monitorar a pressão intracraniana

Há mais de dois séculos perdurava um dogma na medicina, conhecido como doutrina de Monro-Kellie, que afirmava que o crânio é uma estrutura óssea rígida e inextensível.

Nos últimos cinco anos, pesquisadores do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos começaram a derrubar esse paradigma, estabelecido em 1783.

Eles provaram que o aumento ou a diminuição da pressão intracraniana causa variações volumétricas lineares na caixa craniana. E que, em função dessa pequena elasticidade da estrutura óssea, seria possível medir e monitorar a pressão interna do cérebro de pacientes com hidrocefalia, traumatismo craniano e tumores, sem a necessidade de perfurar o crânio, como fazem os equipamentos existentes atualmente.

Para isso, os cientistas fundaram uma empresa e desenvolveram por meio de um projeto, realizado com apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), um método simples e minimamente invasivo.

Idealizado pelo professor Sergio Mascarenhas, fundador e ex-coordenador do polo do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP em São Carlos, o equipamento ganhou agora mais duas novas versões.

“Começamos o projeto com um método minimamente invasivo e, por meio das pesquisas que realizamos ao longo desses cinco anos, conseguimos desenvolver nos últimos meses mais dois equipamentos não invasivos”, disse Gustavo Henrique Frigieri Vilela, pesquisador da empresa Sapra Assessoria, apoiada pelo PIPE, à Agência FAPESP.

Segundo Vilela, para realizar o monitoramento da pressão intracraniana pelo primeiro equipamento que desenvolveram, era necessário raspar o cabelo e realizar uma pequena incisão na pele da cabeça do paciente, de modo a colar um sensor sobre o crânio que registra sua deformação óssea – que é proporcional à pressão interna do cérebro.

Por meio dos dois novos equipamentos não é preciso sequer cortar o cabelo do paciente. “Basta tocar o sensor sobre o couro cabeludo para realizar o monitoramento”, afirmou.

A primeira nova versão do equipamento, que pode ser utilizada em clínicas e ambulatórios, é um sistema que se prende à cabeça do paciente para medir a deformação do crânio.

Por sua vez, o segundo novo equipamento, batizado de Brain Strap, é uma faixa de 10 centímetros para ser colocada em volta da cabeça do paciente, que não precisa ficar imóvel e pode estar acordado ou realizando atividade física durante o monitoramento.

Segundo Vilela, os dois novos equipamentos têm a mesma sensibilidade do método minimamente invasivo e serão patenteados nos Estados Unidos e alguns países da Europa por meio do apoio da FAPESP.

Os três equipamentos estão em fase de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e serão certificados posteriormente na agência regulatória de alimentos e fármacos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) e na Comunidade Europeia para poderem ser comercializados.

“Nós aprimoramos os protótipos dos equipamentos, depois patenteamos e agora estamos na fase de registro para podermos alcançar o mercado”, disse Vilela.

Artigos e nova empresa

O equipamento minimamente invasivo foi testado em pacientes com traumatismo cerebral internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto.

Posteriormente, passou a ser testado para diversas outras aplicações, como no diagnóstico e acompanhamento de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) – que aumenta o volume interno do cérebro e a pressão intracraniana -, além de no diagnóstico de morte encefálica, quando desaparece a pressão intracraniana, e epilepsia.

Outras possíveis aplicações do equipamento estão em farmacologia, para medir os efeitos de drogas que atuam sobre desequilíbrios químicos do cérebro que alteram a pressão intracraniana – como a enxaqueca – e em veterinária, para medir a pressão intracraniana de animais de grande porte, como boi e porco, de modo avaliar a presença de encefalite – que aumenta o encéfalo e a pressão intracraniana.

Comparando o equipamento com os métodos invasivos existentes hoje para monitorar a pressão intracraniana nos estudos clínicos iniciais, de acordo com Vilela, os resultados atingidos pelo dispositivo que criaram foram melhores. Além disso, o método minimamente invasivo também foi capaz de captar os sinais de respiração e batimento cardíaco dos pacientes.

“O equipamento passou de ser um monitor clínico para um multiparamédico, capaz de registrar, além da pressão intracraniana, as frequências cardíaca e respiratória dos pacientes”, afirmou.

Em fevereiro, os pesquisadores brasileiros publicarão um capítulo na Acta Neurochirurgica Supplementum, em que demonstram por meio do método que desenvolveram que a doutrina de Monro-Kellie não é mais válida.

Intitulado Intracranial Pressure and Brain Monitoring XIV, o livro reunirá cerca de 80 artigos de pesquisas apresentadas no 14º Simpósio Internacional de Pressão Intracraniana e Monitoramento Cerebral, que ocorreu em setembro de 2010 em Tuebingen, na Alemanha.

Em março, eles também publicarão outro artigo, no International Journal of Mechatronics and Manufacturing Systems, em que descrevem a utilização do novo equipamento e do método minimamente invasivo para o monitoramento da pressão intracraniana em neurocirurgia e neurofisiologia.

“Nosso projeto tomou uma proporção um pouco maior do que imaginávamos no início e possibilitou o surgimento de uma nova empresa, chamada Brain Care, que estamos registrando para comercializar os equipamentos para aplicação neurológica”, disse Vilela.

O artigo The New ICP Minimally Invasive Method Shows that the Monro-Kellie Doctrine Is Not Valid, de Vilela e outros, pode ser lido na Acta Neurochirurgica Supplementum, que pode ser adquirida em www.springer.com/medicine/surgery/book/978-3-7091-0955-7.

Leia mais sobre a pesquisa: www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3860&bd=1&pg=1&lg= e agencia.fapesp.br/14264 .

Pérsio de Souza Santos morre aos 83 anos

Pérsio de Souza Santos, professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), morreu em 1º de janeiro, aos 83 anos, em decorrência de um infarto. Era membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e foi assessor da Fapesp.

Nascido em 1º de março de 1928 em Rio Claro, no interior de São Paulo, Souza Santos graduou-se em engenharia química em 1951 pela Poli-USP, ingressando em seguida no Instituto Butantan. Obteve o título de mestre em biofísica pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, em 1956, e os de doutor e livre-docente, respectivamente em 1959 e 1961, na Escola Politécnica da USP.

Em 1956, assumiu a chefia da Seção de Cerâmica da antiga Divisão de Química e Engenharia Química e atual Agrupamento de Tecnologia Inorgânica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que tinha como um dos objetivos identificar e avaliar a qualidade de minérios não metálicos brasileiros como, entre outros, argilas, feldspatos, talcos, calcitas e zirconitas para utilização como matérias-primas pelas indústrias cerâmicas e químicas do País.

A partir de 1962, tornou-se professor titular de química industrial nos Departamento de Engenharia Química e de Engenharia Metalúrgica e de Materiais na Poli-USP, sendo responsável por muitos anos por um grupo de química industrial. Como professor, orientou 24 dissertações de mestrado e 23 teses de doutorado sobre matérias-primas minerais brasileiras. Publicou mais de 300 trabalhos científicos em revistas nacionais e internacionais e foi pioneiro nas pesquisas sobre argilas no Brasil, formando gerações de pesquisadores na área.

Alguns resultados de suas pesquisas sobre argilas brasileiras e outros materiais não metálicos realizadas no IPT e na Poli-USP estão descritos no livro Ciência e tecnologia de argilas: aplicação às argilas brasileiras (Editora Edgard Blücher, 1992), de sua autoria.

Foi presidente da Comissão de Tecnologia do CNPq no período de 1968 a 1977, da Associação Brasileira de Cerâmica por duas vezes entre os anos de 1970 e 1980, da qual era conselheiro emérito, e vice-presidente de materiais da Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica. Era membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, da Sigma Xi (The Scientific Research Society), da Clay Minerals Society, dos Estados Unidos, e da Association Internationale pour lÉtude des Argiles (Aipea), da França.

Realizou pós-doutorado nos Estados Unidos no período de 1990 a 1992 na Universidade do Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, com quem mantinha colaborações de pesquisa, além de outras instituições como a English China Clays, na Inglaterra, e a Universidade de Salta, na Argentina.

Ganhou o prêmio “Heinrich Rheinboldt”, do Sindicato dos Químicos do Estado de São Paulo, em 1975, o “Francisco de Salles V. de Azevedo”, da Associação Brasileira de Cerâmica, em 1979, e recebeu uma homenagem da SBPC, em 1976, e do Instituto Tecnológico de Pernambuco, em 1997, por sua contribuição científica.

Souza Santos foi um dos pesquisadores principais do Projeto Temático “Caracterização reológica de misturas poliméricas (blendas) e nanocompósitos de matriz polimérica reforçados com argilominerais”, financiado pela Fapesp. “Ele foi um grande pioneiro e propulsor de pesquisas em várias áreas imprescindíveis, principalmente em tecnologia de argilas, na qual as pesquisas no Brasil não eram tão profundas até então. Depois, avançou para a área de cerâmicas”, disse Vahan Agopyan, pró-reitor de Pós-Graduação e membro do Conselho Superior da Fapesp.

“Como trabalhei com materiais com os quais ele tinha interesse, como gesso e outros materiais fibrosos, mantivemos contato contínuo por mais de 30 anos”, contou. Souza Santos compôs a banca de livre-docência na USP, em 1991, de Agopyan.

Agopyan lembra que Souza Santos era um cientista bastante meticuloso, que zelava pela precisão dos dados em suas pesquisas, e era avesso a cargos administrativos, para os quais foi diversas vezes convidado e nomeado e recusou porque queria continuar realizando pesquisa. “O amor dele pela pesquisa era marcante. Mesmo aposentado, há quase 15 anos, ele vinha periodicamente ao laboratório que criou e coordenou na USP”, disse Agopyan.

O cientista deixou a esposa Helena de Souza Filho, os filhos Pérsio de Souza Filho, professor do Instituto de Biociências da USP, e Fábio Lopes de Souza Santos, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, e três netos.

Eleitos novos membros da ABC

No dia 16 de dezembro, foi realizada a Assembleia Geral Ordinária da ABC, que elegeu os novos Membros Titulares e Correspondentes da Academia. A cerimônia de posse vai acontecer no dia 8 de maio de 2012, durante a Reunião Magna da ABC, que está marcada para os dias 7, 8 e 9 desse mês.

O processo de seleção dos novos membros inicia-se em setembro, com a indicação de candidatos, que pode ser feita apenas por Membros Titulares da ABC, através do sistema eletrônico de votação ou por carta. Todos os indicados são avaliados por seus pares, ou seja, os Membros Titulares da seção a que pertence o candidato. No mês de outubro, a tabela com as notas recebidas por cada candidato é encaminhada para a Comissão de Seleção, que se reúne na sede da ABC para decidir quantas vagas serão abertas para cada seção e preparar a cédula de votação.

Os indicados que passam por essa primeira fase têm seus nomes inscritos nas cédulas de votação, onde também está citado o número e vagas para cada seção. Essa cédula é encaminhada a todos o Titulares da ABC, que escolhem os novos membros da ABC entre os candidatos listados.

“A comissão apuradora da eleição dos novos Acadêmicos concluiu seus trabalhos no final da manhã e o presidente da ABC, Jacob Palis, tem a satisfação de anunciar os novos eleitos”, comentou o gerente administrativo da Academia, Fernando Carlos Azeredo Verissimo. “A participação dos Acadêmicos foi extremamente significativa, de cerca de 70%, o que reafirma o nosso grande interesse coletivo por este momento maior para o presente e o futuro de nossa Casa”, declarou Palis.

Confira abaixo a lista dos novos Acadêmicos:

Ciências Matemáticas

Enrique Ramiro Pujals (IMPA)
Lorenzo Justiniano Díaz Casado (PUC-Rio)
Paolo Piccione (USP)

Ciências Físicas

Antonio Martins Figueiredo Neto (USP)
Nathan Jacob Berkovits (Unesp)
Ronald Dickman (UFMG)

Ciências Químicas

Angela de Luca Rebello Wagener (PUC-Rio)
Luiz Carlos Dias (Unicamp)
Vanderlan da Silva Bolzani (Unesp)

Ciências da Terra

Cláudio Riccomini (USP)
Icaro Vitorello (INPE)
Jose Antonio Marengo Orsini (INPE)

Ciências Biológicas

Fábio de Oliveira Pedrosa (UFPR)
Fausto Foresti (Unesp)

Ciências Biomédicas

Gilberto de Nucci (USP)
Maria Júlia Manso Alves (USP)
Regina Pekelmann Markus (USP)

Ciências da Saúde

Fernando Cendes (Unicamp)
Francisco Rafael Martins Laurindo (USP)

Ciências Agrárias

Evaldo Ferreira Vilela (UFV)
Maria Fatima Grossi de Sá (Embrapa)

Ciências da Engenharia

Alvaro Toubes Prata (UFSC)
Joao Fernando Gomes de Oliveira (IPT-SP)
Victor Carlos Pandolfelli (UFScar)

Ciências Sociais

Bolivar Lamounier (Augurium)

Membros Correspondentes

Christine C. Winterbourn
Efim Zelmanov
Gérard Plateau
Hugo Kubinyi
James Joseph Heckman
Marc Andre Meyers
Meinrat O. Andreae
Michel Claudio Nussenzweig
Miguel N. Burnier Jr.
Moyses Szklo
Shankar P. Bhattacharyya
Victor Alberto Ramos
Wendelin Werner

Sérgio Mascarenhas propõe estudos de nova ciência no Brasil

“Não estamos enxergando o futuro!”, alertou o físico Sérgio Mascarenhas durante palestra sobre Engenharia de Sistemas Complexos, realizada no final de outubro, em São Paulo. Mascarenhas, que atualmente coordena projetos do Instituto de Estudos Avançados da USP São Carlos, apresentou uma proposta mobilizadora de criação de uma rede de pós-graduação para formação de doutores e pós-doutores em Sistemas Complexos no país, por acreditar que o Brasil está atrasado nos estudos desse tipo de engenharia.
 
A palestra fez parte da programação da 1a Conferência USP de Engenharia, organizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). O objetivo do evento foi discutir assuntos relacionados à inovação, sustentabilidade e regulamentação em engenharia.
 
A proposta do cientista é criar e gerenciar uma rede multidisciplinar de pós-graduação em Engenharia de Sistemas Complexos, com previsão de que, em 2022, já se possa ter pós-doutores formados nessa área. Para Mascarenhas, não seria possível abrir um curso de graduação em Sistemas Complexos porque ainda não há professores capacitados suficientes para ensinar. Ele já apresentou a proposta para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação, e sugeriu que, além de instituições de ensino e de pesquisa, a rede conte também com empresas privadas.
 
Pioneiro em novidades
 
Não é a primeira vez que Mascarenhas tenta inserir de forma pioneira novidades científicas nos ensino superior brasileiro. Em 1971, o cientista, então reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), propôs a criação do primeiro curso de Engenharia de Materiais no Brasil. Na época, poucas pessoas o apoiaram, pois não havia informação suficiente para responder o porquê de mais uma área na Engenharia.
 
Atualmente, a Egenharia de Sistemas Complexos aparece como uma interrogação, assim como foi a Engenharia de Materiais há 40 anos. “Minha proposta é levantar esse problema mais como um alerta, um desejo de mostrar um risco de um tsunami que podemos sofrer por falta de previsão de futuro”, disse o pesquisador.
 
A complexidade da Engenharia de Sistemas Complexos
 
Mascarenhas afirmou que “se atreve” a falar sobre o assunto, já que não é um especialista na área. Ele explicou que os Sistemas Complexos são sistemas que não possuem uma autoridade centralizadora e não são desenhados a partir de uma especificação única e conhecida, mas, pelo contrário, envolvem múltiplos atores que se relacionam mesmo que indiretamente. Trata-se da gestão de sistemas composto por outros sistemas em uma rede complexa de relações. “Internet é o maior exemplo de sistemas de sistema, pois nela existe desde pornografia a sites como Wikileaks“, disse o físico.
 
A Engenharia de Sistemas Complexos foi criada nos Estados Unidos para ser aplicada em guerras. Atualmente, ela é necessária para inúmeras áreas. “Sistemas Complexos não envolvem só engenharia, envolvem educação, economia, parte social, humanística”, afirmou Mascarenhas. No Brasil, o sistema pode ser aplicado, por exemplo, na área de segurança pública, de saúde pública, no controle de fraudes e também na agricultura. O problema da irrigação, de gasto de água no campo, ou mesmo o problema do transporte de produtos agrícolas poderiam ser sanados através da Engenharia de Sistemas Complexos.
 
Experiências bem-sucedidas
 
O pesquisador citou a experiência nesse tipo de engenharia do New England Complex Systems Institute (NECSI), que se uniu com várias instituições, inclusive a Massachusetts Institute of Technology (MIT) e as universidades de Harvard e Brandeis, tendo realizado em 2011 seu oitavo congresso de Engenharia de Sistemas Complexos. Mascarenhas afirmou que a Embrapa é um caso positivo de Sistemas Complexos que funciona no Brasil. Além de analisar a cadeia produtiva agrícola como uma cadeia complexa, desde a produção até o mercado consumidor, a empresa leva em conta o fluxo de mercadorias e de capital, num sistema de sistemas.
 
Atualmente, no Brasil, são desenvolvidas pesquisas em Sistemas Complexos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Complexos (INCT / MCT), no Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Matemática (INCT / MCT – IMPA), no WG Complex Systems Institute for Advanced Studies (USP – SC) e no Instituto de Estudos da Complexidade – IEC.
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