Leia matéria de Victória Ribeiro para VEJA, publicada em 2/10/2025:
A epidemiologista Quarraisha Abdool Karim, de 65 anos, é uma daquelas pessoas cuja história pavimentou a própria missão de vida. Descendente de indianos levados ao leste da África do Sul no século 19 para trabalhar em plantações de cana e minas de carvão, cresceu sob o apartheid, quando a cor da pele ditava até as oportunidades mais básicas. Foi nesse cenário que desenvolveu um olhar atento às desigualdades. Não por acaso, acabou se tornando uma das maiores referências globais na luta contra o HIV, com foco especial em meninas e mulheres africanas, tantas vezes marcadas por vulnerabilidade social, violência e abuso.
Sua trajetória começou a ganhar contornos ainda no fim dos anos 1980, depois de estudar na Universidade de Columbia, em Nova York. De volta à África, liderou um levantamento pioneiro que revelou que meninas adolescentes eram infectadas pelo HIV de duas a quatro vezes mais do que os meninos, uma tendência que ia na contramão da maioria dos outros locais do globo. Daí surgiu o conceito de “idade-sexo”, que mostrou como idade e gênero combinados determinavam o risco de infecção — e que homens mais velhos, em relações muitas vezes abusivas, eram um dos principais motores da epidemia da região africana.
Da constatação, ela resolveu colocar a mão na massa para desenvolver soluções práticas. Trabalhando lado a lado com profissionais do sexo, teve a ideia de um gel microbicida vaginal que permitiria às mulheres se proteger de forma autônoma. Mais tarde, seus estudos abriram caminho para a PrEP, hoje uma das principais estratégias globais de prevenção ao HIV. Entre os marcos da carreira, também está a criação do Programa Nacional de Aids na África do Sul, a convite de Nelson Mandela, e pesquisas que levaram tratamento antirretroviral para regiões rurais.
Hoje, Abdool Karim é a primeira mulher a presidir a TWAS, a Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência em Países em Desenvolvimento. Continua à frente de pesquisas que conectam prevenção ao HIV, saúde reprodutiva e preparação para futuras pandemias. Durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, para a 17ª Conferência Geral da TWAS, organizada em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), concedeu entrevista à VEJA sobre ciência, desigualdade e os desafios de manter o HIV no centro da agenda global. “Quando o foco se dispersa, a prevenção enfraquece, novas infecções aumentam e as desigualdades se ampliam”, alerta.
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Leia a entrevista na íntegra no site da revista