TWAS e o Brasil: uma história entrelaçada

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O Brasil tem sido uma força econômica em crescimento que demonstrou resiliência, segundo agências como o Banco Mundial. Mas um elemento inegável desse crescimento resiliente é o compromisso com a ciência, particularmente a ciência colaborativa no mundo em desenvolvimento — um compromisso que se manifesta através de uma forte relação com a TWAS desde os primeiros anos da Academia.

Neste ano, a 17ª Conferência Geral da TWAS acontece no Rio de Janeiro, Brasil — a terceira edição do evento principal da Academia Mundial realizada no país. Em andamento nesta semana, o evento se concentra em como ciência, tecnologia e inovação podem ser aproveitadas para promover o desenvolvimento sustentável globalmente, reunindo apresentações e painéis com alguns dos mais renomados especialistas científicos do Sul Global. A Conferência é organizada em parceria pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a TWAS. A ABC também hospeda o Parceiro Regional da TWAS para a América Latina e o Caribe.

Destaques da 17ª Conferência Geral da TWAS | Foto: Mario Marques

Reconhecimento e proximidade com o Brasil

O evento deste ano também simboliza a estreita relação da Academia com o Brasil, um país que tem sido um aliado constante da TWAS e, por meio dela, um importante apoiador do crescimento científico no mundo em desenvolvimento.

“É particularmente significativo que esta Conferência Geral esteja acontecendo no Brasil, uma nação que recentemente sediou o S20 e a Cúpula do BRICS, reafirmando seu forte compromisso com o multilateralismo, com a colaboração científica e com a construção de pontes entre os países do Sul Global e o restante do mundo”, afirmou Helena Nader, presidente da ABC e vice-presidente da TWAS para a América Latina e o Caribe.

Ciência brasileira em destaque

“O Brasil é um dos maiores produtores de conhecimento científico do Sul Global”, destacou Francilene Garcia, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na cerimônia de abertura da Conferência em 29 de setembro. Ela citou o papel do país em áreas como ciência relacionada à Floresta Amazônica, saúde pública e vacinas, além do “equilíbrio entre energia renovável e tecnologia digital, e também inteligência artificial para o bem público”.

“É inspirador ver aqui três mulheres presidentes: da TWAS, da ABC e também da SBPC”, acrescentou, referindo-se a Quarraisha Abdool Karim (TWAS), Helena Nader (ABC) e a si mesma.

Na mesma cerimônia, [a Acadêmica] Denise Pires de Carvalho, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), destacou a importância das bolsas de estudo tanto para a formação básica quanto para a pós-graduação. “As universidades de pesquisa e os institutos de ciência e tecnologia têm um trabalho fundamental a desempenhar no aumento do número de doutores em nosso país, o que pode contribuir para o desenvolvimento socioeconômico.”

Brasileiros na liderança da TWAS

Dois dos sete presidentes da TWAS foram brasileiros. O primeiro, José Israel Vargas, sucedeu diretamente o fundador Abdus Salam e atuou de 1996 a 2000, acumulando a presidência da TWAS com o cargo de ministro da Ciência e Tecnologia no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ambos, Cardoso (sociólogo) e Vargas (químico), eram membros da TWAS, e Cardoso costumava se referir carinhosamente à TWAS como “minha academia”.

A Acadêmica Maria Vargas prestou homenagem ao ex-presidente da TWAS, seu pai, José I. Vargas | Foto: Mario Marques

Durante seu mandato, Vargas trabalhou para aumentar a visibilidade e a influência da Academia na América Latina — região que já tinha papel forte na Ásia e na África — e mobilizou apoio governamental para o recém-criado Fundo Patrimonial da TWAS, hoje base da estabilidade financeira da Academia. Ele também contribuiu e testemunhou a assinatura do acordo histórico entre a Unesco e o governo italiano para garantir financiamento permanente à TWAS.

De 2007 a 2012, outro brasileiro presidiu a TWAS: Jacob Palis, matemático de grande impacto. Palis já atuava em comitês da TWAS desde 1991 e havia sido secretário-geral entre 2001 e 2006. Durante sua presidência, expandiu o programa de bolsas de pós-graduação Sul-Sul, que chegou a quase 300 bolsas anuais, e fortaleceu os Parceiros Regionais da TWAS na tarefa de estimular jovens talentos científicos.

O matemático Jacob Palis, que presidiu a ABC e a TWAS | Foto: TWAS

Mais recentemente, a TWAS contou com seu primeiro diretor executivo brasileiro, [o Acadêmico] Marcelo Knobel, físico, ex-reitor da Universidade de Campinas (Unicamp) e figura de destaque na ciência brasileira. Knobel também se dedicou à comunicação científica, tendo fundado o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp e pesquisado a percepção pública da ciência. Entre suas realizações na TWAS está a criação, em parceria com a Fundação Conrado Wessel (FCW), do prêmio internacional de fotografia científica Through Southern Lenses: Science in Focus, que celebra a excelência científica do mundo em desenvolvimento por meio da fotografia.

Conferências da TWAS no Brasil

A primeira vez que o Brasil sediou o principal evento da TWAS foi em 1997, também no Rio, sob a presidência de Vargas e com apoio de Cardoso. Foi a primeira vez que a Conferência ocorreu na América Latina e ajudou a projetar a Academia na região.

A segunda vez foi em 2006, em Angra dos Reis, durante a 10ª Conferência Geral da TWAS, patrocinada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, pelo CNPq, pela Finep e pela ABC. Foi nesse evento que Palis foi eleito presidente da TWAS. A conferência também marcou a primeira Reunião Regional de Jovens Cientistas da TWAS e o acordo de criação do Consortium on Science, Technology and Innovation for the South (Costis).

O especialista em mudanças climáticas Carlos Nobre fez uma apresentação sobre a importância da Floresta Amazônica | Foto: Mario Marques

A edição de 2025, novamente no Rio, comemora o 40º aniversário da TWAS, com simpósios sobre inteligência artificial no Sul Global, mudanças climáticas e segurança alimentar, além de desafios de saúde. Também inclui sessões de networking para jovens afiliados da TWAS e uma cerimônia especial de premiação.

Bolsas TWAS-CNPq: impacto direto

A parceria contínua entre a TWAS e o Brasil se reflete sobretudo na formação de cientistas do mundo em desenvolvimento, por meio do programa de bolsas TWAS-CNPq.

Essas bolsas permitem que cientistas de países em desenvolvimento (exceto Brasil) realizem doutorado ou pós-doutorado em instituições brasileiras. Desde 2004, o programa já atendeu 418 doutorandos e 148 pós-doutorandos. Atualmente, a cada dois anos são oferecidas até 50 bolsas de doutorado.

Alguns exemplos:

  • Almas Taj Awan (Paquistão) – biotecnologista que pesquisou a produção de bioetanol a partir de resíduos de laranja na Unicamp.

  • Deena Shrestha (Nepal) – bióloga que, após doutorado no Brasil (2009–2014), criou no Nepal um centro pioneiro de pesquisa em saúde e doenças humanas.

  • Fouad Majeed (Iraque) – físico teórico que, em 2019, fez pós-doutorado na UFRJ estudando reações nucleares.

  • Afonso Filipe João (Moçambique) – químico que concluiu doutorado em 2021 na UFU, seguiu com pós-doutorado na mesma instituição e hoje lidera o departamento de Pesquisa, Edição e Publicação na Universidade Púnguè, em Moçambique.

“Espero que esta notável iniciativa continue por muitos anos”, declarou [o Acadêmico] Ricardo Magnus Osorio Galvão, presidente do CNPq, durante a Conferência.


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(Sean Treacy para TWAS)