No dia 16 de setembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou o Simpósio e Diplomação dos Novos Membros Afiliados 2025-2029 para a Regional Rio de Janeiro, em sua sede, no Centro da capital fluminense.
Na ocasião, cinco jovens e destacados cientistas foram diplomados e apresentaram suas pesquisas. Saiba um pouco mais sobre eles!
A matemática Diana Sasaki Nóbrega faz pesquisa em matemática combinatória na Uerj, mas se sente realizada mesmo quando está em sala de aula.
“Sinto agora que sou mais ainda representante das mulheres cientistas, representante da UERJ e do Rio de Janeiro na área, e sei que é muita responsabilidade que esse título traz. Pretendo divulgar pesquisa das diversas formas possíveis, e continuar formando e incentivando meus alunos para que um dia eles possam conquistar o que quiserem.”
Ciência para melhorar a vida dos brasileiros
Professor da UFRJ, Luiz Eduardo Baggio estuda como mecanismos de sinalização imunológica atuam em doenças que afetam o sistema nervoso central, como zika e covid-19.
“Para mim, que venho de uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul, esse título representa um grande reconhecimento e um marco importante na minha jornada como pesquisador. Ser parte da ABC é uma afirmação do meu compromisso com a ciência, com a busca por novas descobertas e com a contribuição para o avanço da ciência no Brasil.”
Bioquímica e pesquisadora do Inca, Mariana Boroni venceu o câncer na adolescência e hoje usa a bioinformática para trazer novas formas de enfrentar a doença.
“Além do reconhecimento pessoal, esse título traz uma grande responsabilidade. Vejo isso como uma oportunidade única de contribuir não apenas para a ciência, mas também para a sociedade. Acredito que a ciência deve ser acessível e utilizada de maneira ética para promover benefícios concretos.”

A trajetória da biomédica Tatiana Maron, pesquisadora da Fiocruz, demonstra que a prática científica vai muito além da bancada do laboratório.
“Esse título representa um marco tanto profissional quanto pessoal. Pretendo atuar na ABC integrando-me a outros pesquisadores, incentivando o desenvolvimento de jovens cientistas e participando de iniciativas que fortaleçam a ciência no país. Além disso, quero contribuir para a disseminação do conhecimento científico, aproximando a pesquisa da sociedade.”

A ciência mudou a vida da química Vanessa Nascimento, professora da UFF, que busca criar substâncias inovadoras não apenas eficazes e seguras, mas também acessíveis e sustentáveis.
“O título representa um reconhecimento do impacto e da relevância do meu trabalho científico. Além do prestígio, também significa um compromisso maior com a promoção da ciência, da inovação e da formação de novas gerações de pesquisadores. É a realização de um sonho que eu nunca pensei que fosse capaz!”
Abertura
A vice-presidente para a Regional RJ, Patricia Torres Bozza, abriu a cerimônia lembrando do ex-presidente da ABC Jacob Palis, que nos deixou em maio deste ano. A ideia de uma categoria distinta para jovens cientistas promissores veio dele, em 2007, e desde então contribuiu muito para oxigenar e trazer dinâmica para a Academia continuar cumprindo seu papel social, que é representar a ciência e trazer o diagnóstico científico para problemas complexos do Brasil e do mundo.
“Hoje estamos aqui para conhecer suas trajetórias e projetos, para trazê-los para dentro da Academia, e esperamos muito vê-los mais vezes, participando e propondo atividades para a Academia”, afirmou Bozza.
Em seguida falou o coordenador de Pesquisa e Inovação do Instituto Nacional do Câncer (Inca), João Paulo Viola. Ele parabenizou os novos Acadêmicos e reforçou que o Brasil só será reconhecido como país soberano “se tiver uma ciência forte, independente e financiada para seu crescimento”. Viola foi procedido pela Acadêmica Eliete Bouskela, atual presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM). “A presença de vocês faz com que tenhamos outra visão, nos faz sair da torre de marfim. A ideia é tão boa que a ANM copiou”, brincou.
Por fim, a diretora da ABC Débora Foguel reforçou a convocação para uma presença ativa na Academia. “Organizem-se, somem aos que já estão, proponham atividades, pensem em como se inserir, propondo temáticas e grupos de trabalho. Sejam bastante ativos para que possamos ter esse convívio intergeracional. Para que a energia que vocês nos emprestam possa ser canalizada”.

Palestra Magna – O que o funcionamento dos nossos tecidos tem a ver com a ciência?

Para recepcionar os novos Acadêmicos, a ABC convidou a membra titular Thereza Christina Barra Fidalgo para ministrar uma palestra magna. Como parte desse exercício, a Acadêmica decidiu refletir sobre as semelhanças entre o funcionamento de um organismo e do ecossistema científico, identificando os fatores chaves para que cada um cresça e prospere de forma saudável.
Ela, que é especialista em processos inflamatórios, lembrou que esse processo é uma mistura de respostas locais e gerais a estímulos do ambiente onde o corpo está inserido. Os monócitos, células do sistema imune, são altamente adaptativos, podendo se transformar em macrófagos altamente eficientes numa inflamação em um indivíduo saudável, ou em mais uma célula cancerígena quando num ambiente tumoral. Outro exemplo, os osteoblastos, que, em um organismo saudável vêm a se tornar osteócitos que compõe os ossos, quando num ambiente com muitas células adiposas, numa pessoa obesa, adquirem também características de adipócitos. “O meio faz toda a diferença”, sumarizou Fidalgo
Da mesma forma, ela compara, o ambiente científico traz um conjunto de condições que influenciam sobre como se dará a validação e a difusão do conhecimento científico. Esse conjunto de fatores e estímulos influenciam fortemente sobre como se dará a trajetória de carreira dos indivíduos que compõe esse sistema. “Ambos são sistemas abertos, dinâmicos, em mudança constante e com interdependência entre os elementos de cada um. Ambos precisam ter plasticidade, capacidade de se moldar e remoldar. É o ambiente que vai dizer se uma célula vai vingar, ou se uma carreira vai decolar”, afirmou. “As células sabem que fazem parte do organismo, nós precisamos saber que fazemos parte do sistema educacional”.
Saudações
Para saudar os novos colegas, a ABC convidou a bióloga Priscilla Olsen, que tomou posse em 2023. Ela afirmou que ser membro afiliado é uma troca constante entre as diferentes gerações e entre as diferentes áreas do conhecimento. “É tão bonito ver essa troca, sempre na tentativa de simplificar, de englobar mais gente, de divulgar ciência. Vocês serão muito importantes na formulação de diretrizes e recomendações que irão ajudar nosso país nos próximos anos. Participem, será um prazer interagir com vocês!”.
Em nome dos novos afiliados, a biomédica Mariana Boroni, afirmou que esta é uma chance para se tornarem porta-vozes de sua geração de cientistas. Um compromisso que considera urgente dados os múltiplos desafios da atualidade. Ela se debruçou sobre a infodemia, a inundação de informação na qual estamos imersos. “Nunca se produziu tanta ciência, mas quantidade não é sinônimo de qualidade. Precisamos ser guardiões do rigor, transparência e ética científica. Quando fatos e ficções disputam espaço, o baixo letramento científico se torna terreno fértil para negacionismo”, alertou.
Portanto, ela continua, não basta continuar apenas fazendo ciência de qualidade, é preciso comunicá-la com qualidade e no formato que as novas mídias demandam. “Os desafios contemporâneos não se resolvem em caixinhas disciplinares. A ciência precisa se abrir para outros saberes. É desse encontro que surge a transformação. A ciência precisa ser política de Estado. Formamos mais de um milhão de mestres e doutores nos últimos 30 anos, mas a maioria não encontra espaço na academia ou no mercado. Cada um desses talentos é uma oportunidade de desenvolvimento para o país”.


