Assembleia Geral da IANAS destaca ciência como motor de transformação social

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A Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS) realizou, nos dias 3 e 4 de setembro, sua Assembleia Geral na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), em parceria com a Academia Mexicana de Ciências (AMC). O encontro reuniu representantes de academias de ciências de todo o continente e reforçou a centralidade da ciência para enfrentar os desafios sociais, ambientais e tecnológicos das Américas. A Academia Brasileira de Ciências foi representada nesse evento por seu diretor-executivo de relações internacionais, Marcos Cortesão.

Na cerimônia de abertura, o reitor da UNAM, Leonardo Lomelí Vanegas, destacou que “o conhecimento só ganha sentido quando se traduz em benefício para a sociedade”, defendendo a necessidade de transformar descobertas em políticas públicas, metas educacionais e soluções concretas que melhorem a vida das pessoas. Ele também chamou atenção para a disparidade nos investimentos globais em ciência: em 2022, a América Latina e o Caribe responderam por apenas 2,5% do gasto mundial em P&D, contra 37,4% da Ásia e 32,4% dos EUA e Canadá.

A secretária mexicana de Ciência, Humanidades, Tecnologia e Inovação – equivalente ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no Brasil -, Rosaura Ruiz Gutiérrez, ressaltou o papel da IANAS em conectar comunidades científicas e defendeu uma ciência guiada pela ética, pela justiça social e pelo compromisso com o bem comum. Já o presidente da AMC, José Antonio Seade Kuri, reforçou a importância da cooperação interamericana para impulsionar um desenvolvimento sustentável e compartilhado.

Karen Strier, copresidente da IANAS

Em seguida, a copresidente da IANAS, Karen Strier – membro titular da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS) e membro correspondente da ABC – apresentou um panorama da trajetória e do papel estratégico da rede. Criada em 2004 e atualmente integrada por 23 academias, IANAS consolidou-se como um espaço único de cooperação científica. Strier destacou os programas estruturantes da rede – Recursos Hídricos, Mulheres para a Ciência, Educação Científica e Energia – e enfatizou a frente mais recente de atuação da rede: a Iniciativa Amazônica. Em sua primeira reunião, realizada em agosto de 2023, a iniciativa contou não apenas com a participação das academias de ciências dos países da Bacia Amazônica, mas também de outras academias das Américas. O encontro resultou na elaboração da Carta de Manaus, documento com recomendações para um futuro sustentável da região, posteriormente entregue aos Chefes de Estado e de Governo durante a Cúpula de Belém. Em sua fala, Strier sublinhou o papel da IANAS na formação de redes de pesquisadores, especialmente entre jovens cientistas, e na construção de pontes entre ciência, governos e sociedade civil. Destacou ainda a necessidade de fortalecer a presença da ciência nos debates internacionais, citando a participação ativa da rede no Science 20 (S20) e a colaboração com a ABC na organização de um evento pré-COP30, que será realizado em Manaus, no mês de outubro próximo. Encerrando sua intervenção, Karen Strier reafirmou o compromisso da IANAS em atuar como uma voz unificada da ciência nas Américas: “Nosso papel é contribuir para o fortalecimento da ciência e da tecnologia como ferramentas para o avanço da resiliência, prosperidade e equidade nas Américas. Precisamos de ciência e tecnologia para abordar muitas preocupações globais urgentes. Essa é uma responsabilidade que compartilhamos como comunidade científica”.

Por sua vez, Helena B. Nader, presidente da ABC, enviou mensagem em vídeo lamentando não poder estar presente, mas reafirmando seu compromisso com a missão coletiva da rede. Ela destacou a importância crescente da IANAS como espaço de cooperação e compartilhamento de conhecimento, capaz de fortalecer não apenas a ciência, mas também a democracia, a equidade a resiliência social, e os laços de amizade e solidariedade entre os países. Nader lembrou que a região enfrenta desafios urgentes e interconectados — mudanças climáticas, perda da biodiversidade, segurança alimentar e hídrica, saúde, desigualdades sociais e os impactos das novas tecnologias — todos estes sem fronteiras nacionais. Para enfrentá-los, ressaltou, a cooperação científica e a diplomacia são instrumentos indispensáveis. A presidente da ABC aproveitou a ocasião para convidar os presentes ao encontro “Um Chamado Científico para a COP30”, que será realizado em Manaus, de 20 a 22 de outubro de 2025. O evento reunirá academias dos países amazônicos, membros da IANAS e parceiros internacionais, incluindo organizações como o Tratado de Cooperação Amazônica e o Painel Científico para a Amazônia, para discutir ciência e ação climática. A programação incluirá sessões temáticas sobre a Amazônia, biodiversidade, justiça climática, transições para um futuro sustentável, e governança e diplomacia científica. O encontro culminará com a apresentação de uma declaração final das academias, que será encaminhada à COP30.

A presidente da ABC, Helena Nader, participou por vídeo

Os dois dias da assembleia geral foram entremeados por conferências científicas e sessões voltadas para discutir questões internas da rede. As conferências foram proferidas por Julia Carabias (pesquisadora da UNAM e ex-Secretária Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais – 1994 a 2000), Pedro Salazar (Diretor do Instituto de Estudos Jurídicos da UNAM), Blanca Jiménez (pesquisadora da UNAM, ex-diretora da Divisão de Ciências da Água da UNESCO e atual Embaixadora do México na França), Willian Lee (pesquisador e atual Pró-Reitor de Relações Internacionais da UNAM), Juan-Luis Díaz de León-Santiago (Subsecretário de Desenvolvimento Tecnológico, Cooperação e Inovação; Secretaria de Ciência, Humanidades, Tecnologia e Inovação) e Maria Elena Medina Mora (Coordenadora da Unidade de Apoio à Saúde Emocional e Psicológica da UNAM).

Os representantes das Academias reunidos no México também realizaram sessões de trabalho dedicadas a discutir os programas e ações da rede, eleger os novos copresidentes e o comitê executivo da IANAS, definir a nova sede do secretariado e deliberar sobre emendas ao estatuto e ao regimento interno da organização. Para a copresidência, Karen Strier (EUA) foi reconduzida para um segundo mandato, passando a dividir a função com Alberto Gago, presidente da Academia Nacional de Ciências do Peru, eleito para o primeiro mandato. Para o comitê executivo da rede foram eleitas as academias de ciências da Argentina (Córdoba), Bolívia, Brasil, Caribe e Honduras. A ABC foi escolhida por unanimidade para abrigar o secretariado da rede. Ao término das votações, os presentes expressaram agradecimento à Helena Nader pela liderança e dedicação à frente da rede nos últimos seis anos, bem como à Academia Brasileira de Ciências por ter aceitado o desafio de sediar novamente o secretariado da organização. Foram também feitos agradecimentos à Academia Nacional de Ciências da Argentina (Córdoba), que acolheu o secretariado nos últimos anos.

Saiba mais sobre a Assembleia Geral da IANAS de 2025.

Os participantes da Assembleia Geral da IANAS
(Marcos Cortesão para ABC)