No dia 3 de setembro, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Academia Nacional de Ciências da Alemanha – Leopoldina realizaram um painel virtual sobre a aquicultura sustentável no contexto brasileiro e europeu.
Especialistas dos dois países discutiram as recomendações do recente relatório Advancing sustainability and circularity in aquaculture to build a resilient global food system (2025), publicado em conjunto pelas duas Academias. No cerne do debate está o fato de que, tanto no Brasil quanto na Alemanha, o consumo e a produção de peixes e outras proteínas aquáticas ainda está aquém do potencial de ambos os países.
Para se ter uma ideia, o brasileiro médio consome apenas 10 quilos de peixe por ano, média menor que a da Alemanha, 14 quilos, e que a média global, 21 kg. Esses números chamam a atenção considerando que o Brasil possui uma costa com mais de 7 mil quilômetros de extensão e a maior bacia de água doce do mundo, na Amazônia. Outro dado que retrata o potencial desperdiçado é que dois terços da produção brasileira é de tilápia, enquanto espécies nativas como o tambaqui e o pirarucu ainda são pouco aproveitados. O tambaqui começou a ser mais explorado pela aquicultura nas últimas décadas, mas pela China, e não pelo Brasil.
A aquicultura já responde por mais da metade da produção de proteína aquática do planeta e é uma atividade considerada de menor impacto que a produção de outros tipos de proteína animal. Dessa forma, estimular a aquicultura no contexto brasileiro é uma forma de promover a chamada bioeconomia, concento que objetiva promover transicionar a atividade econômica para um modelo mais equilibrado com a sustentabilidade planetária.
De acordo com os representantes da academia e da indústria presentes na reunião, mudar esse cenário passa por tentar promover uma nova cultura alimentar no brasileiro, o que não é trivial. Mas o pesado processo burocrático para se começar um negócio em aquicultura no país não ajuda. Some isso à falta de orientação científica direcionada para os produtores e temos um mercado estagnado.
Segundo o pesquisador Ivã Guidini Lopes, que atualmente cursa pós-doutorado na Universidade Sueca de Ciências Agrárias e participou da construção do relatório, o Brasil precisa abrir mais secretarias voltadas à aquicultura em todos os níveis de governo. Formar mais servidores especializados no tema será fundamental para acelerar os processos burocráticos, bem como para assessorar os produtores. Tratando do cultivo de espécies nativas, ele incentiva a criação de pacotes e manuais tecnológicos voltados à criação desses animais, assim como campanhas de promoção do consumo junto à população. “Acredito que a aquicultura deva ser um motor do desenvolvimento sustentável brasileiro”, afirma.
Assista à reunião na íntegra: