No dia 31 de maio de 2025, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) participou da reunião internacional comemorativa dos 70 anos da Academia Chinesa de Ciências (Chinese Academy of Sciences – CAS), realizada em Beijing. Com o tema “Desenvolvimento Sustentável e Colaboração Inclusiva: Responsabilidades da Comunidade Científica”, o evento reuniu representantes de academias científicas de todos os continentes, promovendo um diálogo de alto nível sobre o papel da ciência na construção de sociedades mais justas, sustentáveis e cooperativas.
A delegação brasileira foi composta por Helena Nader (presidente da ABC), Jailson Andrade (vice-presidente nacional), Adalberto Luis Val (vice-presidente para a região Norte), Glaucius Oliva (vice-presidente para a região São Paulo), Wanderley de Souza (membro titular), Vivian Vasconcelos Costa (membro afiliado) e Marcos Cortesão (responsável por Assuntos Internacionais).
Na abertura do evento, a presidente da ABC, Helena Nader, foi a terceira palestrante e apresentou uma visão ampla do trabalho da Academia. Destacou as ações voltadas ao fortalecimento da cooperação científica internacional, os documentos estratégicos produzidos, incluindo aqueles alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS/SDGs), as parcerias institucionais estabelecidas e a realização de eventos de impacto como a Reunião Magna “Amazônia Já – Sem Tempo a Perder”. Nader também mencionou o papel da ABC na coordenação do Science20 (S20), braço científico do G20, reforçando que a ciência deve estar cada vez mais próxima das decisões políticas globais.
Em sua fala, a presidente da ABC também refletiu sobre os desafios geopolíticos crescentes que afetam a cooperação científica internacional, citando os casos recentes da Argentina, Venezuela, Nicarágua e Hungria, cujos sistemas científicos vêm sofrendo pressões que se intensificam diante das tensões gerais impostas pelos Estados Unidos. Reafirmou que a ciência não deve ter cor política e que a redução da confiança social na ciência não decorre da sua falha, mas sim da crescente profissionalização na produção e disseminação de desinformação, que exige respostas coordenadas da comunidade científica global.
Durante a sessão de debates, Glaucius Oliva destacou que a educação de qualidade é o verdadeiro alicerce de qualquer estratégia de desenvolvimento sustentável. Ressaltou que é preciso formar novas gerações com acesso ao conhecimento e compromisso ético. Oliva chamou atenção também para os desafios impostos pela agenda da Ciência Aberta (Open Science), especialmente para países com menos recursos. Propôs que se considere a ampliação das opções para publicação em revistas científicas locais, como forma de garantir acesso equitativo à disseminação do conhecimento, sem comprometer a qualidade.
Adalberto Val, por sua vez, fez uma intervenção centrada nos desafios do Cinturão Equatorial de Florestas, com foco na Amazônia, propondo seis linhas de ação para a comunidade científica global. Entre elas, destacou a necessidade de um modelo de desenvolvimento que una conservação ambiental e justiça social; o reconhecimento dos saberes de povos indígenas e comunidades ribeirinhas como cocriadores de conhecimento; o papel da ciência na denúncia de retrocessos ambientais e na formação de novas gerações com forte senso ético; a importância da cooperação internacional baseada na equidade e no respeito à soberania sobre a biodiversidade; a conexão entre ciência e políticas públicas; e a garantia da segurança alimentar frente às mudanças climáticas. Val enfatizou que a ciência deve ser reconhecida como uma atividade social a serviço de fins sociais, voltada à construção de soluções enraizadas nos territórios.
A participação da delegação da ABC na reunião evidenciou o comprometimento do Brasil com uma ciência aberta, ética e colaborativa, voltada à equidade e capaz de enfrentar os desafios globais com base em evidências e inclusão. As contribuições brasileiras foram bem recebidas e reafirmaram o papel estratégico da ciência nacional em articulação com redes internacionais, especialmente no que se refere à Amazônia, à educação, à ética científica e à soberania do conhecimento.