Sessão Solene da ABC dá posse aos novos membros e à nova Diretoria

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Realizada na noite de 8 de maio, último dia da Reunião Magna da ABC 2025, a Sessão Solene da Academia Brasileira de Ciências, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológica (CNPq) e Marinha do Brasil ocorreu na Escola Naval, no Rio de Janeiro. O evento também teve o apoio da Fundação Conrado Wessel (FCW).

Tatiana Roque, Denise Carvalho, Ricardo Galvão, Helena Nader, Luis Fernandes, Marcos Olsen, Carlos Vogt, Caroline Costa, Renato Janine 

A mesa foi composta pela presidente da ABC, Helena Nader; o secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes; o comandante da Marinha do Brasil, Marcos Olsen; o presidente do CNPq, Ricardo Galvão; o diretor-presidente da Fundação Conrado Wessel, Carlos Vogt; a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Acadêmica Denise Pires de Carvalho; a presidente da Faperj, Caroline da Costa; a secretária municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro, Tatiana Roque; e o  presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Acadêmico Renato Janine.

Imposição da Medalha Naval de Serviços Distintos

Engenheiro Othon Pinheiro agradecendo a homenagem 

A comenda destina-se a premiar civis e militares, brasileiros e estrangeiros, que prestaram à Marinha serviços meritórios, bem como distinguir aqueles que, por suas qualidades ou valor, foram julgados merecê-la. O almirante Olsen entregou a medalha ao vice-almirante e engenheiro Othon Luiz Pinheiro da Silva, que havia sido homenageado também pela ABC em 2024 com a Medalha Henrique Morize.

Engenheiro naval e nuclear formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, sigla em inglês), a carreira de Othon Pinheiro é marcada por uma forte defesa do setor nuclear na matriz energética brasileira e colaborações valiosas no estabelecimento de uma política nuclear. Ele teve um papel crucial no desenvolvimento da tecnologia nuclear brasileira, desde coordenar projetos de construção naval até liderar inovações em propulsão e ciclo de combustível nuclear. Trabalhou, sobretudo, na independência tecnológica do Brasil no setor nuclear, inclusive através da construção do primeiro reator nuclear projetado no país e o avanço no enriquecimento de urânio usando tecnologia nacional. Além disso, como presidente da Eletronuclear, Pinheiro teve um impacto positivo na performance da central de Angra e apoiou a retomada da construção de Angra 3.

Título de Pesquisador Emérito do CNPq

O título de pesquisador emérito do CNPq é um reconhecimento à pesquisadora ou pesquisador radicado no Brasil há pelo menos 10 anos, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica.

Entre os homenageados do CNPq estava a Acadêmica Marilena Chauí. O ministro em exercício Luis Fernandes (MCTI) e e o presidente Ricardo Galvão (CNPq) entregaram o certificado ao representante da economista, o Acadêmico Renato Janine Ribeiro, dada a impossibilidade da filósofa em comparecer.

Professora titular da Universidade de São Paulo (USP) desde 1967, Chauí é especialista em história da filosofia moderna e filosofia política. É doutora honoris causa pela Universidade de Paris e pela Universidade de Córdoba. Crítica do modelo capitalista, sua vasta produção acadêmica, incluindo livros e artigos, influenciou gerações de estudantes e intelectuais brasileiros.

Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia 2025

O prêmio consiste na mais importante honraria em ciência e tecnologia do país, um reconhecimento e estímulo a pesquisadores e cientistas brasileiros que prestam relevante contribuição à ciência e à tecnologia do país. Contempla, alternadamente, uma grande área do conhecimento por ano, sendo a área das Ciências Exatas, da Terra e Engenharias a do ano de 2025.

A premiação consiste em diploma e medalha concedidos pelo CNPq, MCTI e Marinha do Brasil, premiação em espécie concedida pelo CNPq, uma viagem ao Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo e uma viagem à Antártica, oferecidas pela Marinha do Brasil.

O agraciado desta edição foi o Acadêmico Antonio José Roque da Silva. Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), José Roque, como é conhecido, é também bolsista 1A de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Atua na área da física da matéria condensada e física atômica e molecular, sendo o coordenador do projeto Sirius – um dos mais modernos aceleradores de partículas do mundo com fonte de luz síncrotron. Agora coordena também o projeto Orion, que será um complexo laboratorial dedicado à pesquisa de patógenos, com instalações de nível de biossegurança 3 e 4 projetadas para conter agentes biológicos de alto risco, exigindo medidas robustas de segurança.

Almirante Marcos Olsen, Ricardo Galvão, José Roque e Luis Fernandes 

Agradecendo ao CNPq o prêmio e todas as bolsas que recebeu em sua carreira, José Roque ressaltou que se sentia ali representando “centenas ou milhares de brasileiros que contribuíram para a construção do CNPEM, um símbolo da capacidade da ciência brasileira”. Destacou a importância do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde nasceu o projeto, e por meio dele manifestou sua certeza da importância de se manter e investir nas unidades de pesquisa do MCTI, com financiamento constante e suficiente. Alinhou-se ao engenheiro Othon na visão de que o Brasil precisa produzir tecnologia própria, não apenas comprar, garantindo sua autonomia e independência tecnológica.

José Roque e Marcos Olsen 

José Roque também recebeu o Farol do Conhecimento, tradicional honraria da Marinha do Brasil, que representa a luz que emana o conhecimento.

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, fez sua saudação, agradecendo a parceria da ABC, do MCTI, da Marinha e da FCW.  Referiu-se ao abraço ao CNPq que ocorreu em 16 de outubro de 2019, contra uma cogitada fusão entre a Capes e o CNPq. A manifestação uniu estudantes de iniciação científica, funcionários da Casa e pesquisadores consagrados, numa manifestação de reconhecimento da importância do apoio à pesquisa científica para o desenvolvimento sustentável e socialmente justo do país.

Ricardo Magnus Osório Galvão 

Infelizmente, vivemos no governo anterior um período de negacionismo e ataques à ciência, que ainda persistem em setores da sociedade, de acordo com o Acadêmico. O CNPq, segundo Galvão, ainda precisa ser protegido por seus gestores e pela comunidade científica.

E como proteger o CNPq? A resposta é simples: usando-o, valorizando-o. Aproveitando todas as oportunidades que ele oferece. Galvão relatou a abrangência das atividades do Conselho e a simbologia da sua marca: uma cabeça pensante. “Temos que preservar uma instituição que é dedicada ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil”, afirmou, que apoia desde os jovens talentosos para a ciência no ensino médio até pesquisadores sêniores, desde o cientista brasileiro que está no exterior e quer estabelecer parcerias até o que deseja voltar ao seu país natal e aqui continuar contribuindo com a ciência, a ciência brasileira.

“Em tempos de avanço continuado de discursos negacionistas, fortalecidos pelas redes sociais, convido a comunidade científica a reagir com o que de melhor dispomos para desenvolvermo-nos com justiça social e sustentabilidade, ou seja, civilidade republicana, conhecimento, racionalidade e responsabilidade com o presente e o futuro”, concluiu o Acadêmico.

Minuto de silêncio pelos membros da ABC falecidos em 2024

Foram lembrados e homenageados os falecidos Fernando Costa e Silva Filho (1952-2025), David John Randall (1938-2024), Isaac Roitman (1939-2025), Jeremy Nicol McNeil (1944-2024), Lauro Tatsuo Kubota (964-2024), Paulo Milton Barbosa Landim (1938-2025); Pedro Nowosad (1934-2024); Ramayana Gazzinelli (1933-2024); e Shankar Prashad Bhattacharyya (1946-2024).

Em especial, foi homenageado o ex-presidente da ABC Jacob Palis. Suas principais iniciativas à frente da ABC em seus três mandatos, de 2007 a 2016, foram citadas nos discursos de Helena Nader, Patricia Bozza e Luis Fernandes. Dentre elas, a criação das vice-presidências regionais, descentralizando a Academia; da categoria de membros afiliados, prestigiando jovens talentos de todos os lugares do Brasil; das áreas de ciências da engenharia e de ciências sociais na ABC; e a construção contínua de mais pontes internacionais, inclusive como presidente da Academia Mundial de Ciências, a TWAS, entre 2007 e 2012, de forma concomitante à presidência da ABC.

“Com seu entusiasmo, generosidade e paixão pelo conhecimento, Jacob Palis foi incansável na defesa da Ciência, no estímulo a formação de novas lideranças cientificas e na diminuição das assimetrias regionais. Que seu exemplo norteie nossas ações”, disse Patricia Bozza.

Diplomação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências

Eleitos na Assembleia Geral de 29 de novembro de 2024, foram empossados como membros titulares Gauss Moutinho Cordeiro (UFPE) e Maria Eulália Vares (UFRJ), nas ciências matemáticas; Caio Henrique Lewenkopf (UFRJ) e Valdir Barbosa Bezerra (UFPB), nas ciências físicas; Alfredo Mayall Simas (UFPE) e Mauricio da Silva Baptista (USP) nas ciências químicas; Farid Chemale Junior (Unisinos) e  Ilana Elazari Klein Coaracy Wainer (USP), nas ciências da Terra; Eduardo Eizirik (PUCRS), nas ciências biológicas; Alexander Henning Ulrich (USP) e Walderez Ornelas Dutra (UFMG), nas ciências biomédicas; Mitermayer Galvão Reis (Fiocruz/BA) e Sandra Helena Poliselli Farsky (USP), nas ciências da saúde; Elisabete Aparecida De Nadai Fernandes (USP) nas ciências agrárias; André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho (USP) e  Augusto Cezar Alves Sampaio (UFPE), nas ciências da engenharia; e Marilena de Souza Chaui (USP), nas ciências sociais.

Como membros correspondentes foram eleitos Armando José Latourrette de Oliveira Pombeiro (ciências químicas, Portugal); Carlos Augusto da Silva Peres (ciências biológicas, Reino Unido); Janice Barbosa de Almeida-Engler (ciências agrárias, França); Juan José Lafaille (ciências biomédicas, EUA); Michael David Taylor (ciências biomédicas, EUA); e Yuming Guo (ciências da saúde, Austrália).

Receberam seus diplomas na ocasião aqueles que não puderam comparecer na cerimônia anterior, por conta das enchentes no Sul ou por outros motivos. Foram diplomados Cristina Wayne Nogueira, das ciências químicas, que atua na Universidade de Santa Maria (UFSM), e Antonio Costa de Oliveira, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), das ciências agrárias, ambos do Rio Grande do Sul. Também recebeu seu diploma o membro correspondente argentino Alberto Rodolfo Kornblihtt, da área de ciências biomédicas na Universidade de Buenos Aires (UBA).

Os novos membros da ABC, empossados em 8 de maio de 2025, com a presidente da ABC e o presidente do CNPq 
Patricia Bozza

A Acadêmica Patricia Torres Bozza saudou os colegas recém-empossados e manifestou a preocupação de todos que vêm acompanhando os recentes ataques à ciência e à educação nos Estados Unidos. “Cortes drásticos no financiamento de pesquisas, desinformação científica, restrições à liberdade acadêmica – especialmente em estudos sobre mudanças climáticas, desigualdades sociais, gênero, doenças infecciosas e vacinas – além da redução de colaborações internacionais e do ataque às políticas de diversidade, equidade e inclusão, atingem diretamente a ciência e a sociedade globalmente”, afirmou.

Nesse sentido, destacou que a eleição para a ABC, mais do que uma grande honra, é um chamado à ação. “A ABC, através dos seus membros tem exercido uma participação expressiva em fóruns nacionais e internacionais, formulação de documentos e promoção de debates, e contamos com o engajamento de vocês”, ressaltou Bozza.  “Sejam bem-vindos. Que juntos possamos ampliar o impacto da ciência na sociedade, pela certeza de que, com ciência, educação e democracia, podemos construir um futuro mais justo e sustentável.”

Mauricio Baptista

O novo Acadêmico Mauricio da Silva Baptista agradeceu em nome do grupo, manifestando a grande honra e emoção comuns a todos os novos membros. Reafirmou o compromisso de fazerem ciência relevante, tanto com sofisticação teórica quanto com impacto social.

O processo de descoberta é indissociável da criatividade, que por sua vez depende da liberdade intelectual, disse Baptista. Lembrou o exemplo de Johanna Dobereiner que, nas palavras do Acadêmico, “transformou nosso solo em nosso futuro”. Seu legado nos lembra que a ciência de excelência transcende fronteiras e traz resultados importantes para a sociedade.

“Como gestores inovadores, precisamos assumir uma postura empreendedora, integrando recursos públicos com parcerias privadas e cooperações institucionais, modelo já respaldado pela Lei de Inovação, mas que ainda enfrenta barreiras culturais e burocráticas”, afirmou o Acadêmico. Essas parcerias, a seu ver, são instrumentos valiosos para transformar conhecimento em inovação, formar cientistas com mentalidade translacional e garantir a continuidade operacional. “Exemplos bem-sucedidos como os modelos das Embrapiis demonstram o potencial transformador das sinergias entre academia, governo e setor produtivo”, observou.

O desafio urgente agora, intensamente debatido na Reunião Magna 2025, é conciliar a condição de potência agrícola global do Brasil com a preservação dos ecossistemas amazônicos e os direitos [e conhecimentos] dos povos originários, construindo modelos de desenvolvimento que harmonizem produção e conservação.

Mauricio Baptista reiterou: estamos testemunhando hoje “um rompante de tirania justamente no país que foi, por mais de um século, o motor da liberdade de pensamento e do desenvolvimento científico mundial”. Os ventos do autoritarismo, em sua perspectiva, também sopram por aqui. E por isso ressaltou a importância de que os cientistas, além de fazer ciência de excelência, atuem na defesa da liberdade de pensamento, da ética e da integridade científica, assim como no combate à desinformação.

“Ao integrar nossas expertises aos quadros da ABC, nos tornamos verdadeiros agentes de mudança. Que saibamos honrar o legado dos que vieram antes de nós, sem medo de explorar novos caminhos”, concluiu.

Posse da nova Diretoria da ABC

Em 11 de abril, foi realizada a Assembleia que elegeu para o mandato de maio de 2025 a maio de 2028 uma nova Diretoria. Confira os eleitos na foto abaixo e saiba mais aqui.

Helena Nader, reeleita como presidente, agradeceu a Diretoria que encerrava seu mandato, reconhecendo seu trabalho excepcional, o espírito de equipe e a disposição. O trabalho do grupo está devidamente registrado nos três últimos Relatórios de Atividades, de 2022, 2023 e 2024.

A presidente reeleita agradeceu o voto de confiança dado a ela e à nova Diretoria eleita, reafirmando em nome do novo grupo o compromisso com a missão da Casa – especialmente diante da geopolítica atual, marcada por tensões que têm incentivado “políticas soberanas” em detrimento das colaborações internacionais e do compartilhamento de tecnologias estratégicas.

Nader manifestou sua preocupação com a inviabilização de soluções para ameaças comuns e reafirmou o compromisso da Diretoria com a defesa intransigente do sistema de CT&I, o fortalecimento da cooperação científica, a promoção da equidade e da diversidade e o diálogo com a sociedade.

“Em tempos de incerteza, a ciência é nossa bússola. Que esta Academia siga sendo farol, espaço de excelência e voz ativa em defesa do conhecimento como força transformadora”, concluiu Helena Nader.

Encerramento

Luis Manuel Rebelo Fernandes

O secretário-executivo do MCTI,  – ministro interino em função de viagem da ministra Luciana Santos em missão na Rússia e na China acompanhando o presidente Lula – encerrou a cerimônia. Ele lembrou a firme e ousada liderança do falecido presidente da ABC Jacob Palis, parceiro de muitas lutas.

“O risco de retrocesso permanece. As ameaças sobrevivem, com novas roupagens. Temos que compartilhar a solidariedade e a resistência à falta de liberdade acadêmica, ao estímulo ao ódio. Nossa causa tem que ser a da humanidade, da convergência, da promoção do entendimento – e a ciência tem um papel fundamental nisso, ao difundir certezas baseadas em evidências científicas.”

Por fim, todos os presentes foram convidados para um coquetel, oferecido pela Fundação Conrado Wessel, servido no Salão Nobre da Escola Naval.

(Elisa Oswaldo-Cruz para ABC, 9/5/2025 | Fotos: Mario Marques)