O vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para a região Norte, Adalberto Val, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e coordenador do Instituto nacional de Ciência e Tecnologia para Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (INCT-Adapta) foi um dos convidados para participar de um workshop na África do Sul  intitulado “How Global South Research Can Shape the Future of Comparative Physiology”

Organizado pela Companhia dos Biologistas, uma editora sem fins lucrativos dedicada a apoiar e inspirar a comunidade que se dedica à biologia, Val participou do encontro planejado pela brasileira Kênia Bícego, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e pela sul-africana Andrea Fuller, professora da Universidade de Witwatersrand, que teve lugar no Parque Kruger, em Skukuza.

Entre as várias ações que a Companhia dos Biologistas desenvolve está a publicação de cinco das mais importantes revistas científicas da área de biologia experimental e a organização de workshops sobre assuntos relevantes relacionados à biologia. A editora dedica atenção especial aos investigadores em início de carreira (ECRs, sigla em inglês), que são os futuros líderes em biologia, e a reunião em questão foi desenhada para aproximar editores e líderes globais com profissionais em início de carreira na área de fisiologia comparativa, uma disciplina da fisiologia que explora a compreensão do funcionamento de diferentes animais.

“As reuniões de trabalho aconteciam regularmente no Reino Unido, mas, a partir de 2024, ao menos uma das reuniões anuais passa a acontecer num país do sul global — e esta da África do Sul foi a primeira delas”, explicou Val.

Um momento singular da reunião foi a possibilidade de interação de ECRs com os editores de dois dos principais periódicos científicos da área: professor Craig Franklin (Universidade de Queensland, Australia), editor do Journal of Experimental Biology, e o professor Michael Hedrick (Universidade Estadual da Califórnia, EUA), editor do Comparative Biochemistry and Physiology, Parte A – Fisiologia Molecular e Integrativa. Os referidos editores mostraram detalhes das atividades rotineiras dos dois periódicos e estimularam os ECRs dos Sul Global a enviar seus manuscritos, além de darem orientações importantes para os ECRs. Enquanto o Prof. Craig destacou a necessidade da diversificação de formas de apoio à fisiologia comparativa, o Prof. Hedrick chamou a atenção para as tendências atuais da fisiologia comparativa e suas aplicações, como no caso da aquicultura.

A participação do Acadêmico Adalberto Val envolveu a discussão sobre como “Gerir um laboratório de sucesso no Sul Global: Percepções desde a Amazônia!”. Na discussão, Val deixou mensagens centrais para os ECRS do Sul Global que podem contribuir para tornar seus grupos de pesquisas e seus laboratórios competitivos com aqueles do Norte Global. Para isso, destacou que é importante valorizar o ambiente externo em que estão seus laboratórios e não só seus espaços internos, onde estão os equipamentos.

“Olhem lá para fora! Há um laboratório natural único, cheio de projetos experimentais prontos a responder à sua pergunta, como a biodiversidade, os diferentes ambientes e tipos de água, por exemplo”. Também destacou que ninguém deve mais trabalhar sozinho, pois a ciência hoje é cada vez mais produto de esforços colaborativos. Por fim, ao lembrar que “o financiamento pode ser um desafio significativo a ultrapassar, particularmente no Sul Global”, recomendou que ECRs devem “acreditar em si próprios, lembrar que a ciência é uma atividade social com fins sociais, valorizar as próprias perguntas, olhar para o seu espaço, para o seu ambiente, para a sua comunidade e conversar, cara-a-cara, com as pessoas”.

Enfim, a redução do fosso que separa o Sul do Norte Global envolve cooperação, colaboração e, principalmente, habilidade para caminhar junto, fazendo das diferenças culturais, biológicas e ambientais ferramentas para o avanço da fisiologia comparativa.