Foto: Jeiza Russo, jornal A Crítica

Faleceu em 6 de dezembro, aos 81 anos, o professor Ennio Candotti, figura emblemática da ciência brasileira. Candotti nasceu na Itália e chegou ao Brasil em 1952. Graduou-se em física pela USP (1964) e pela Università degli studi di Napoli (1972). Naturalizou-se brasileiro em 1983. Deu aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Aposentado em 2008, Universidade Federal do Amazonas (Ufam). transferiu-se para a Universidade do Estado do Amazonas onde foi professor de 2009 a 2012. Foi professor voluntário da Universidade Federal do Amazonas (2013-16) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Criou em Manaus, na Reserva Florestal A. Ducke, em 2009, o Museu da Amazônia (Musa) e o Jardim Botânico a ele associado. Foi seu primeiro diretor.

Participou da criação de “Ciência Hoje” e “Ciência Hoje das Crianças” e da “Ciência Hoy” da Argentina. Foi editor de “Ciência Hoje” de 1982 a 1996. Em 2002, fundou com cientistas e comunicadores indianos e de outros países a International Union of Scientific Communicators, associação com sede em Mumbai, na Índia.

Era presidente de honra da SBPC desde 1999, entidade que presidiu em quatro mandatos (1989-1991, 1991-1993, 2003-2005, 2005-2007).

Em 1998, recebeu da Unesco o Prêmio Kalinga para popularização da Ciência. Em 2001, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Campina Grande. Foi membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia de 2003 a 2007; e de 2011 a 2015.Em 2019 recebeu o título de Cidadão Amazonense, proposta pelo então deputado Serafim Corrêa (PSB).

Candotti era muito querido e respeitado na comunidade científica. A seguir, palavras dos amigos Acadêmicos.

“Convivi com o Ennio por muitos anos, inicialmente nas reuniões anuais da SBPC. Com os anos por participar de comissões e grupos de trabalho criados na sua gestão para discutir legislações propostas como a Lei de Acesso a Biodiversidade, e finalmente junto ao Conselho e Diretoria da SBPC. Conheci de perto seu trabalho na luta pela educação científica, pela divulgação da ciência, pela integração com países da América Latina, pelos valores éticos na ciência, pelo financiamento adequado para educação e ciência, e pela democracia. Obrigada Ennio pelos valores imprimidos na nossa sociedade, você fará falta.”
Helena Bonciani Nader, presidente da ABC e presidente de honra da SBPC

“Muito difícil aceitar essa perda, pois a atuação sólida, abrangente e consistente do Ennio na Universidade, na SBPC, no MUSA, na defesa da ciência e da democracia, deu-lhe uma aura de imortalidade. E não abro mão do reconhecimento dessa aura: Ennio vive, estará sempre entre nós!”
Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC

“Ennio vinha lutando bravamente com os desafios fisiológicos que estava vivendo. Sua contribuição na mobilização pela ciência brasileira foi notável e precisamos manter isso vivo.”
Adalberto Val, vice-presidente da ABC para a região Norte

“Estivemos juntos no movimento de criação da revista Ciência Hoje, desde o final da década de 1970. Era um realizador, um criador, um batalhador da divulgação científica no Brasil.”
Roberto Lent, diretor da ABC

Com intensa consternação recebi a notícia do falecimento do colega Ennio Candotti. Sempre bem atento às questões da divulgação científica, poucos sabem que Ennio chegou a ser cogitado para diretor do Museu Nacional/UFRJ. Talvez se ele tivesse tido a oportunidade em administrar a instituição, as necessárias inovações teriam vindo antes. O Brasil perde um grande cientista! Vai fazer falta.”
Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ

“Ainda estou chocado e muito triste com a notícia da partida de Enio Candotti. Há poucas semanas tivemos uma reunião sobre a 5a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e ele estava muito bem, lúcido como sempre. Insistiu que nas reuniões prévias e na própria conferência nacional fosse discutido o papel dos municípios nas políticas de CTI. Ele dizia que no interior do Amazonas há várias novas universidades federais que estão transformando os municípios, mas que é preciso ter políticas que favoreçam a permanência dos novos formandos no interior, para promover seu desenvolvimento de forma mais acelerada. Ennio contribuiu muito para a ciência brasileira nas últimas cinco décadas e agora vai fazer muita falta.”
Sergio Machado Rezende, professor da UFPE e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

“Conheci e comecei a admirar Ennio Candotti desde a época que ele criou Ciência Hoje . Fará muita falta para a comunidade cientifica brasileira. Uma enorme perda para todos nós… polêmico, irrequieto, dinâmico, defendia com muita garra e determinação seus pontos de vista. Um grande guerreiro, defensor intransigente da ciência, do meio ambiente e do Brasil. Um ponto de referência na SBPC. No final de 2022, tivemos oportunidade de fazer uma exitosa parceria, com um manifesto assinado por centenas de cientistas defendendo a candidatura de Lula, que afirmava: ‘Uma página repulsiva de nossa história será virada em 30 de outubro, mas não esquecida.’”
Renato Cordeiro, pesquisador Emérito da Fiocruz