A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) criou, em 2019, o Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, visando reconhecer o legado de profissionais que, por meio de suas pesquisas e descobertas, abrem caminhos para transformações no Brasil e no mundo. No ano de 2023 está na sua quinta edição. O prêmio se consolidou como uma das maiores premiações do país nas respectivas áreas.
Na categoria Tecnologia, o vencedor foi o Acadêmico Nivio Ziviani, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Essa categoria é voltada para profissionais que tenham gerado impactos relevantes ao país no desenvolvimento de aplicações práticas. Na Categoria Ciência, para pesquisadores que colocaram o Brasil em destaque no cenário científico mundial, o escolhido foi o Acadêmico Wanderley de Souza (UFRJ/Finep).
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No dia 13 de novembro, foi realizada a cerimônia de premiação, na sala Minas Gerais, em Belo Horizonte. Na abertura, o CEO da CBMM, Ricardo Lima, comentou a difícil escolha dos premiados. “Este ano foram mais de 220 inscritos nas duas categorias. Depois de rigoroso processo, divulgamos o resultado, damos visibilidade aos vencedores, prestamos contas aos órgãos competentes e, por fim, chegamos ao dia da celebração. A CBMM sempre valorizou e fomentou a educação, a ciência e a tecnologia, por acreditar que esses pilares realmente são capazes de transformar vidas. A realização de pesquisas científicas e tecnológicas é essencial ao desenvolvimento da cultura da inovação no Brasil. É nisso que acreditamos.”
Antes da premiação propriamente dita, apresentou-se a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que tocou trechos de clássicos conhecidos. A apresentação emocionou o público, no que muito a excelente acústica da bela Sala Minas Gerais.
O conhecimento abre portas
O Acadêmico João Fernando Gomes de Oliveira, membro do conselho de administração da CBMM, agradeceu ao regente da orquestra, José Soares, e a Fabio Mechetti, diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Em nome da CBMM, fez um agradecimento especial aos profissionais notáveis que integram a comissão julgadora do prêmio desde 2019. Desta estavam presentes o próprio João Fernando, Álvaro Prata, Edgar Dutra Zanotto, Jorge Guimarães, Helio Graciosa e Mario Neto Borges. Dois membros da comissão não puderam comparecer, por estarem fora do país: a presidente da ABC, Helena Bonciani Nader, e o ex-presidente Luiz Davidovich.
Depois de muitas discussões entre pesquisadores altamente qualificados, Oliveira relatou que foram selecionados 25 finalistas na categoria Ciência e 14 na categoria Tecnologia. Foi feita então uma seleção minuciosa para que se encontrasse de fato o candidato ideal para cada uma das categorias. “Por isso estou aqui simplesmente para agradecer e homenagear os membros da comissão julgadora, que é uma comissão independente, composta de personalidades de excelência e de prestígio em cada uma das suas áreas, que garantem a qualidade e imparcialidade do processo. Essa noite de celebração está sendo mais um marco na jornada de reconhecimentos e avanços para a ciência e tecnologia do Brasil.”
Oliveira observou que a CBMM quer fortalecer a figura dos “heróis da ciência”, pois considera que é muito importante para a cultura brasileira e para a sociedade de modo geral incorporar a divulgação científica ao seu cotidiano. “O Brasil precisa muito de heróis vivos na ciência. Assim, vamos agora conhecer nossos dois heróis desse ano: o professor Wanderley de Souza e o professor Nívio Ziviani.”
Wanderley de Souza, premiado na categoria Ciência
O primeiro premiado da noite foi Wanderley de Souza. Em seu discurso de agradecimento, contou que nasceu em Iguaí, cidade pequena no sudoeste da Bahia e que, quando criança, eu gostava de “mexer” com os animais, abrir lagartixas para ver o que que tinha dentro, ver o coração pulsar, coisas desse tipo. Já na faculdade de medicina, na UFRJ, tomou conhecimento da microscopia, no sentido profissional. “Me apaixonei pelo microscópio examinando os tecidos, as células, e isso segue até hoje”, contou.
Graduado em medicina, Wanderley fez mestrado em ciências biológicas e doutorado em biofísica, quando foi orientado pela professora Hertha Meyer. Foi então trabalhar no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, onde é professor titular, e também no Centro Nacional de Biologia Estrutural e Bioimagem da mesma universidade.
Ao longo de sua carreira, Wanderley atuou em prol da ciência não só como pesquisador, mas também como gestor. Foi secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, quando criou o Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj), que deu origem à Universidade Aberta do Brasil. Foi também diretor do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), vice-diretor e diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas e primeiro reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) e da Universidade Estadual da Zona Oeste (UEZO), em Campo Grande. Foi diretor e presidente da Finep e é membro das academias Nacional de Medicina, Brasileira de Ciências e da Mundial de Ciências (TWAS).
Suas pesquisas foram voltadas para o controle da doença de Chagas. Wanderley dedicou-se a conhecer profundamente a anatomia do Trypanosoma cruzi, tendo por objetivo final o controle do ciclo da doença. “É muito difícil tentar combater alguma coisa que não se conhece a fundo. Minha contribuição maior foi separar os componentes do protozoário. Agora, estamos trabalhando numa mutação para que ele não seja mais capaz de transmitir a doença de Chagas.”
Ele finalizou agradecendo a seus avós e pais, por terem criado condições para que o menino nascido em Iguaí pudesse realizar um curso superior no Rio de Janeiro, e a todos os membros da sua família – irmãs, esposa e filhos – pelo apoio constante. Registrou ainda agradecimentos especiais a todas as instituições públicas de ensino que frequentou, desde o então curso ginasial até a pós-graduação; aos mestres que lhe iluminaram o caminho e aos alunos que formou e que o ajudaram a construir essa trajetória de conhecimento.
Assista o vídeo feito pela CBMM sobre Wanderley de Souza, apresentado na cerimônia de premiação
Nívio Ziviani: categoria Tecnologia
Foi então a vez do vencedor da categoria Tecnologia, o professor Nivio Ziviani. Ele contou que cursou engenharia mecânica porque gostava de automobilismo de competição. Começou então a estudar programação de computadores e nunca mais parou. Foi convidado a dar aula de programação na UFMG. A seguir, o Ministério da Educação resolveu criar um curso de processamento de dados. “Comecei logo uma disciplina e, ao mesmo tempo, assumi a coordenação do curso de pós-graduação em ciência da computação”, relatou.
Começaram a criar mecanismos de busca e um aluno desenvolveu um robô que passeava pela internet em busca de servidores. “Tomamos a decisão de criar um empreendimento e o número de usuários dobrou. A beleza desse primeiro experimento foi criar empregos novos, criar riqueza”, ressaltou Ziviani.
Ziviani é professor emérito da UFMG, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Ordem Nacional do Mérito Científico, nas Classes Comendador e Grã-Cruz. Na UFMG, criou os cursos de graduação e de doutorado em computação, o Laboratório para Tratamento de Informação (LATIN) e o Laboratório de Inteligência Artificial.
Foi do LATIN que saíram as cinco empresas de tecnologia cofundadas por Nivio Ziviani e que atraíram investimento, gerando milhares de empregos. A Akwan Information Technologies, empresa vendida para o Google em 2005, tornou Ziviani uma das figuras mais emblemáticas da inovação no Brasil.
Acadêmico internacionalmente reconhecido e empreendedor de sucesso, investiu sua vida na produção e transferência de conhecimento científico e geração de riqueza. Atualmente, se dedica ao uso da Inteligência Artificial na saúde, nas artes e na transformação digital de empresas. É membro do Conselho de Administração das empresas Kunumi Artificial Intelligence, Unidade Embrapii do DCC/UFMG e Falconi Participações e integra os Conselhos Técnico-Científico do Instituto Hercílio Randon e do Laboratório Nacional de Computação Científica.
É também autor da série de livros sobre Projeto de Algoritmos, utilizada por professores e estudantes em praticamente todos os cursos técnicos, de graduação e de pós-graduação em computação no país. Além disso, é coautor de mais de 200 artigos científicos nas áreas de algoritmos, recuperação de informação e inteligência artificial. Foi responsável pela formação de 70 alunos de pós-graduação, sendo 58 mestres e 12 doutores.
Em seus agradecimentos, Ziviani destacou a importância da Sala Minas Gerais em sua vida. “A música clássica repete minha infância. Sou frequentador assíduo deste espaço, onde tenho minha cadeira cativa, que foi cuidadosamente escolhida para que eu tenha a visão do teclado do piano”, relatou, emocionado.
“Hoje eu tenho a honra de receber um prêmio que celebra a ciência e a tecnologia, sem dúvida, que desempenham um papel que é crucial em nossa sociedade. São mais de 51 anos dedicados à universidade, à ciência, ao ensino, à pesquisa e à formação de recursos humanos”, disse ZIviani, agradecendo. Ele destacou que uma das maiores recompensas de pesquisar em grupo é poder transformar os resultados científicos em ações práticas, que beneficiam a sociedade. “Eu dediquei boa parte da minha vida para produzir e transferir conhecimento científico para a sociedade, por meio de empreendimentos inovadores. Nesse sentido, não posso deixar de agradecer muito aos colegas e os alunos que compartilharam comigo essa jornada. Estou certo de que o prêmio inspira gerações futuras a seguir o caminho da pesquisa inovação”, celebrou.
Debaixo de muitas palmas, Nivio ZIviani recebeu o prêmio das mãos de Ricardo Lima
Assista o vídeo feito pela CBMM sobre Nivio Ziviani, apresentado na cerimônia de premiação.
Encerramento
O diretor de tecnologia da CBMM, Rafael Mesquita, fez o encerramento. Elogiou a beleza da celebração, a qualidade dos premiados, “os nossos heróis da ciência”. Avaliou que todos nós tomamos decisões na vida, temos pensamento próprio e devemos alimentar o espírito de boas diferenças, “que nos trazem energia para continuar”. Uma das coisas principais da ciência e da tecnologia, para Mesquita, é que ela não tem fronteiras. “Esse é o universo em que a gente vive, onde a gente tem que encontrar soluções para problemas que estão sempre mudando. Vivemos uma realidade dinâmica e para fazer diferente precisamos de referências. Estamos construindo referências para outras gerações.”
Ao final, Mesquita destacou que muito em breve serão abertas as inscrições para a 6ª Edição do Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, que vão estar disponíveis também nas redes sociais. “Então não percam a chance de participar e de indicar às pessoas a oportunidade.”