Dois projetos prometem colocar mais pesquisas do Brasil na vanguarda da ciência. Um deles é o Sirius, acelerador de partículas, que deve ganhar dez novas estações de trabalho. O outro, Orion, é um novo complexo de laboratórios, que inclui um espaço de biossegurança máxima (NB4). Os dois, em Campinas, têm R$ 1,8 bilhão previsto pelo governo federal via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Sirius é um dos três aceleradores de partículas (ou síncrotrons) de 4ª geração no mundo e permite “iluminar” materiais e estudar aspectos microscópicos deles com resolução um milhão de vezes maior do que aparelhos de tomografia. Pode ser usado em várias áreas, da agricultura à saúde.

Já o NB4 ajuda na preparação para futuras pandemias (ou que evitemos mais uma), pois permite manejar microrganismos de maior risco, como o vírus Ebola, que já causou surtos mortais na África. Nenhum país da América Latina tem um laboratório do tipo.

A expansão do Sirius é mais consensual na comunidade científica. Já o NB4 traz dúvidas, seja pela localização, perto de um grande centro urbano, ou pelo custo (cerca R$1 bilhão), levando em conta a escassez sofrida pela ciência nos últimos anos. O montante será para a construção, mas a verba para operar as estruturas deixa os pesquisadores inseguros.

O Sirius entrou na lista de obras da outra versão do PAC em 2016, mas atrasou diante de cortes orçamentários. A primeira linha foi aberta em 2020, na pandemia, mas a 1ª fase, que inclui 14 estações de pesquisa, ainda não foi concluída.

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“O Sirius permite que pesquisadores façam perguntas sofisticadas, de problemas importantes. Agora, eles podem responder aqui”, diz o físico [e Acadêmico] Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que chefiou a construção do Sirius.

“É uma infraestrutura poderosa do ponto de vista tecnológico”, diz [o Acadêmico] Ado Jorio, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, isso impulsiona todo o ecossistema de ciência de ponta, de aspectos legais à formação de mão de obra.

“Os resultados (das pesquisas) usando essas linhas permitem publicações nas revistas de maior impacto”, diz a biomédica Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Além do universo acadêmico, valoriza a indústria, ao privilegiar a matéria-prima nacional. “A construção do Sirius, do tijolo até a linha de luz, foi discutida mundialmente.”

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Segundo Helena Nader, da ABC, a comunidade científica não contesta a importância do laboratório de contenção máxima, mas parte dela questiona se é a melhor estratégia. Faz sentido investir tanto no NB4, em vez de ampliar os laboratórios NB3 (onde se lidou com o vírus da covid), que não chega a uma dezena no País? Há ressalvas ainda sobre a localização, perto de um grande centro urbano, e o fato de não haver equipe para um laboratório do tipo.

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